Maiores que a culpa

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Maiores que a culpa / 31 – Pode ser-se “rei” quando não se deixa de ser filhos

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 19/08/2018

Piu grandi della colpa 31 rid«Eu não vivo em mim, mas fora;
Eu sou defeituoso, eu faço
erros continuamente.
Não sei porquê, não mais que os outros
Mas a mim, parece fazer mais…
Oh, fora estão as árvores
Estão os pássaros e as flores…».

Nicola Gardini, Io non vivo in me ma fuori

«Estas são as últimas palavras de David: “… O espírito de YHWH falou por mim, sua palavra está na minha língua”… disse-me: “O justo, dominador dos homens, que domina pelo temor de Deus, é como a luz da manhã quando se levanta o Sol numa manhã sem nuvens, que faz germinar a erva que brota da terra, depois da chuva”» (2 Samuel 23, 1-4). Embora, na Bíblia, David volte a falar (1 Livro dos Reis), para os Livros de Samuel, estas são “as últimas palavras de David”, como um testamento. Aqui, o rei David fala como profeta, como quem recebeu uma nova língua para anunciar (no seu caso cantar) a palavra de YHWH – e terminará o livro como sacerdote. O autor sabe que, também nós, chegados já ao fim da sua vida, podemos testemunhar que David disse, de verdade, palavras diferentes e mais altas que as suas e as nossas. Disse-as misturadas com palavras baixas, mais baixas e vis que as nossas; mas Deus falou em David, justamente através das feridas da sua ambivalente humanidade.

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Depois das últimas palavras, o texto apresenta alguns episódios da vida de David que, pela sua natureza e pela sua mensagem, estão colocados como epílogo da sua história. O primeiro diz respeito a uma estranha sede de David em Belém: «David manifestou este desejo: “Quem me dera beber da água do poço que está à porta de Belém!” No mesmo instante, os três valentes penetraram no acampamento dos filisteus e tiraram água do poço situado à porta de Belém. Trouxeram-na a David, mas ele não a quis beber» (23, 15-16). Episódio complicado, que nos diz outra coisa sobre reis muito amados pela sua gente. Estas pessoas, frequentemente, gozam junto da sua comunidade de uma tal veneração e devoção que levam os seus seguidores a fazer o possível e o impossível para satisfazer as necessidades do seu “rei”, procurando antecipar os desejos e, não raramente, também os caprichos. Este tipo de chefe carismático sabe muito bem que possui semelhante poder de encantamento em relação aos seus fiéis, e é muito tentado para usar e abusar dele. Este relato mostra-nos o coração de David: também ele é tentado por aquele seu capricho e cede, mas sabe arrepender-se, mudar de ideia e fazer um gesto de lealdade para com os seus homens.

Este episódio da água está encaixado dentro da apresentação da trintena de guerreiros à volta de David, a sua guarda especial. O pormenor mais interessante deste elenco de militares e da gesta heroica é o último nome, o que fecha a lista: «Urias, o hitita» (23, 39), o soldado leal, mandado matar por David, para ter a sua mulher Betsabé (cap. 11). O autor não tem medo de colocar, como selo da parada militar de David, o nome de que basta a pronúncia para falar ao leitor bíblico mais que um tratado de teologia. A misericórdia e a predileção de YHWH por David, o rei amantíssimo, poeta e cantor de salmos maravilhosos, foram maiores que a sua culpa. Mas a Bíblia quis conservar o nome de Urias até ao fim, não o apagou do registo da história de David, do catálogo da vida e da morte. A recordar-nos que os grandes pecadores escavam cicatrizes que marcam e mudam o nosso corpo para sempre. Sempre que, ao ler a Bíblia, pronunciamos o nome de Urias, David continua a ser responsável daquele pecado – perdoado, mas não irresponsável.

O segundo episódio diz respeito ao recenseamento. Por uma sua misteriosa ira, YHWH «incitou David contra o povo, dizendo: “Vai, faz o recenseamento de Israel e Judá”» (24, 1). Deus “incita” David a agir mal contra o seu povo, “indu-lo em tentação” – está, verdadeiramente, toda a Bíblia na oração do Pai Nosso. David cede a este impulso e Joab realiza o recenseamento: «Havia em Israel oitocentos mil homens de guerra, que manejavam a espada e, em Judá, quinhentos mil homens» (24, 9). Mas, depois do recenseamento, David sente o “remorso” e diz: «Cometi um grande pecado, ao fazer isto» (24, 10). Porque é que convocar um recenseamento era um “grande mal”? Os números, naquele mundo do Médio Oriente, tinham um significado misterioso e mágico. Conhecer o “número” de uma realidade significava possuir o seu mistério e, assim, poder usá-lo e também manipulá-lo. Passar da qualidade (o povo) à quantidade (o número) reduz os graus de liberdade, deixa pelo caminho todas as outras dimensões, exceto a contida no número, quase sempre a mais banal, porque a mais simples. Também para o recenseamento: contar as pessoas significa manifestar uma vontade de domínio, um espírito de posse das “coisas” que se contam, para dizer que se é seu dono. Ontem e hoje. No humanismo bíblico, o rei não é o dono do seu povo e, por isso, aquele recenseamento tinha um forte valor teológico; negava a soberania de YHWH sobre o seu povo. Naquele número insinuava-se o pecado de idolatria – nas comunidades ideais e espirituais, contar as próprias pessoas tem sempre um valor teológico, revela vontade de poder, coloca em crise a gratuidade e a castidade dos fundadores e dos chefes.

Como resposta ao arrependimento da David, YHWH envia, através de Gad (um profeta-vivente), uma palavra a David: «Dou-te a escolher entre três coisas; escolhe uma das três e a executarei… Que preferes: sete anos de fome sobre a terra, três meses a fugir diante dos inimigos que te perseguem, ou três dias de peste no teu país» (24, 12-13). David exclui a fuga diante do inimigo e Deus mandou uma peste que matou setenta mil pessoas. David oferece-se a si próprio para salvar o seu rebanho: «Fui eu que pequei, eu é que tenho culpa! Mas estes, que são inocentes, que fizeram? Peço que descarregues a tua mão sobre mim» (24, 17). Como resposta ao seu voto, Gad transmite também a David a resposta de Deus: «Sobe e levanta um altar ao Senhor na eira de jebuseu Arauna» (24, 18). Aquela eira, aquele lugar de debulha, de treino e de morte dos animais, torna-se, agora, o altar de David-sacerdote e, mais tarde, o lugar em que Salomão construiu o seu templo – no meu dialeto, eira diz-se ara, a palavra latina para dizer altar (talvez pelo próprio cruzamento de morte e de vida). Arauna declara-se pronto para dar, gratuitamente, ao seu rei, os bois para o holocausto e a lenha para o fogo. Mas David responde-lhe: «“Não será assim, mas pagar-te-ei o seu justo valor. Não oferecerei holocaustos ao Senhor, meu Deus, que não me tenham custado nada”. E David comprou a eira e os bois por cinquenta siclos de prata» (24, 24). Um diálogo que nos recorda, de perto, Abraão e o seu contrato com os Hititas, para a compra do túmulo de Sara (Génesis 23); e nos recorda também o nome de Urias, o hitita. Para aquele túmulo, Abraão pagou 400 ciclos de prata; agora, o preço é 50. O autor (mais tardio e mais ideológico) do Primeiro Livro das Crónicas (21, 25), não se contentará com este pequeno valor, multiplicá-lo-á por doze e a prata tornar-se-á ouro («600 ciclos de ouro»). E também é muito bela aquela modesta cifra referida pelo escritor antigo, talvez a dizer-nos que nenhum templo vale uma mulher e que a terra para o templo que contem a Arca da Aliança vale um oitavo da terra que contem uma esposa.

Neste último episódio volta também o grande tema da fé económica. Os sacrifícios a Deus não valem se não custam, se são grátis. A visão religiosa que considera a gratuidade uma moeda má, que crê que Deus não aprecie os dons que não custam nada. Uma ideia radicada muito profundamente também nas nossas relações sociais (que nos leva, por exemplo, a desprezar ofertas que sabemos serem recicladas) e que os homens também quiseram estender à relação com a divindade, prendendo, assim, também Deus na nossa lógica comercial – quando o libertaremos? Mas este último capítulo diz-nos, mais uma vez, que a Bíblia amou David pela sua capacidade de se arrepender e de recomeçar, depois de ter falhado. David não foi belo e amado pela sua vida moral, mas pela sua misteriosa candura, quase infantil. Por aquela primeira candura do pastorinho que o pecado do homem adulto não foi capaz de apagar, que permaneceu maior que a culpa. Para, assim, nos poder dar a mensagem mais importante da história de David: aquela misteriosa candura, e aquela inocência infantil, resistem, tenazes, e agem em ada um de nós. Também nós somos maiores que a nossa culpa – e temos de o recordar, sobretudo nos tempos das grandes culpas, nossas e dos outros.

David entrou na Bíblia como um rapaz e, em certo sentido, aquele rapaz nunca saiu de cena. Soube dialogar com as mulheres, escutou a voz dos profetas e do Espírito, sentiu um respeito para com o seu “pai” Saul, cantou, compôs hinos e poesias, chorou. David, o rei e o pai maior, foi tão grande porque nunca deixou de ser filho. Talvez por isso, foi muito amado e continua a sê-lo. A eira-ara de Arauna, na tradição bíblica, encontrava-se no Monte Moriá, onde um anjo de Deus salvou um outro filho inocente. Porque, Deus e nós, amamos muitas coisas mas, sobretudo, amamos os filhos.


E, também desta vez, graças a Deus, chegámos ao fim. Domingo, 2 de Setembro recomeçaremos com uma nova série sobre as Organizações Movidas por um Ideal e sobre pessoas que as geraram e ali trabalham. Como sempre, de modo diferente, obrigado a quem procurou seguir-me nestas trinta e uma semanas. Obrigado ao Diretor, Marco Tarquino, o primeiro leitor de cada linha minha e que permite que o diálogo entre um economista e a Bíblia continue e, porventura, amadureça. Obrigado a quem me escreveu, encorajou, criticou, com palavras por vezes estupendas. Foi um comentário longo e riquíssimo de encontros. E. como sucede em cada leitura bíblica, as pessoas que se encontram ao longo do caminho não desaparecem quando se passa para além delas. Permanecem vivas, falam, introduzem e apresentam os encontros seguintes e colocam-se a caminhar connosco, até ao último encontro. E, assim, ao termo do caminho, encontramo-nos numa área povoada por todas as mulheres e todos os homens que conhecemos. Também está aqui a beleza da grande literatura e, de modo especial, da Bíblia. Nesta eira de Arauna estavam, invisíveis, Ana, Samuel, Eli e os seus filhos, Saul, Jónatas, Betsabé, Rispa, a bruxa de Endor, as duas mulheres sensatas, Joab, Absalão, Amon. Estavam Tamar e Urias, juntamente a tantas outras vítimas, de quem a Bíblia conserva, para nós, as lápides. E dá-nos as suas palavras para rezar, quando esgotámos as nossas; ou quando, como nestes dias, em Génova, a demasiada dor nos tira palavras e folego.

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Maiores que a culpa / 31 – Pode ser-se “rei” quando não se deixa de ser filhos

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 19/08/2018

Piu grandi della colpa 31 rid«Eu não vivo em mim, mas fora;
Eu sou defeituoso, eu faço
erros continuamente.
Não sei porquê, não mais que os outros
Mas a mim, parece fazer mais…
Oh, fora estão as árvores
Estão os pássaros e as flores…».

Nicola Gardini, Io non vivo in me ma fuori

«Estas são as últimas palavras de David: “… O espírito de YHWH falou por mim, sua palavra está na minha língua”… disse-me: “O justo, dominador dos homens, que domina pelo temor de Deus, é como a luz da manhã quando se levanta o Sol numa manhã sem nuvens, que faz germinar a erva que brota da terra, depois da chuva”» (2 Samuel 23, 1-4). Embora, na Bíblia, David volte a falar (1 Livro dos Reis), para os Livros de Samuel, estas são “as últimas palavras de David”, como um testamento. Aqui, o rei David fala como profeta, como quem recebeu uma nova língua para anunciar (no seu caso cantar) a palavra de YHWH – e terminará o livro como sacerdote. O autor sabe que, também nós, chegados já ao fim da sua vida, podemos testemunhar que David disse, de verdade, palavras diferentes e mais altas que as suas e as nossas. Disse-as misturadas com palavras baixas, mais baixas e vis que as nossas; mas Deus falou em David, justamente através das feridas da sua ambivalente humanidade.

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Permanecerá uma grande candura

Permanecerá uma grande candura

Maiores que a culpa / 31 – Pode ser-se “rei” quando não se deixa de ser filhos por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 19/08/2018 «Eu não vivo em mim, mas fora; Eu sou defeituoso, eu faço erros continuamente. Não sei porquê, não mais que os outros Mas a mim, parece fazer mais… Oh, fora estão...
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Maiores que a culpa / 30 – O último capítulo chega, frequentemente, com um tempo diferente

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 12/08/2018

Piu grandi della colpa 30 rid«Moisés viu que o Senhor escrevia a palavra “Longânime” na Torá e perguntou: “Isto significa que és paciente com os devotos?”. “Não; sou-o também com os ímpios”. “Como? – exclamou Moisés – Os ímpios merecem morrer”. O Eterno não replicou».

Louis Ginzberg, Le leggende degli ebrei  [As lendas dos hebreus]

Também nas histórias maiores chega o último capítulo. Por vezes é o capítulo mais belo, é sempre o destilado da toda a vida. Mas, enquanto nos romances, o bom leitor sabe individualizar o momento em que a ideia do relato sofre a última torsão e se prepara para a conclusão, quando tentamos ler o nosso livro, que estamos a escrever, quase nunca somos capazes de captar o momento do início do declínio e mudar. Porque, simplesmente, amamos demasiado a vida e as suas palavras e amamos demasiado as ilusões. E, assim, a última página apanha-nos, frequentemente, impreparados, porque não conseguimos inseri-la dentro do último capítulo, que lhe teria dado ritmo e sentido. Perdemos o fio da história e, por vezes, perdemo-nos.

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Tudo isto é particularmente relevante e trágico quando temos que lidar com os “reis”, com os líderes, sobretudo com os chefes carismáticos e com os fundadores das comunidades e movimentos espirituais e ideais, isto é, com pessoas portadoras de um carácter de fundação e de guia moral dos outros. Aqui, é verdadeiramente crucial que o “rei” consiga compreender quando chegou o momento de “deixar de descer ao campo de batalha” para entrar numa nova dimensão da vida individual e coletiva. Esta é a idade da “guarda da lâmpada”, quando a comunidade ou a organização deve – ou deveria – pedir ao próprio fundador de se tornar memória e sinal vivo do carisma e do ideal, de colocar em segundo plano a sua pessoa para que a luz que emana da lanterna tenha o primeiro lugar. A experiência mais importante de um fundador e da sua comunidade é, de facto, a consciência da distinção – que deve ser nítida e explícita – entre e luz e a guarda da luz. Ao longo da vida, esta distinção, por vezes, esfuma-se, e a comunidade confunde a realidade iluminada (o fundador) com a luz e a sua fonte. Eis porque o repouso deste último capítulo pode ser determinante para o futuro da comunidade, para fazer, no fim, quanto não se fez durante. Pelo contrário, quando esta fase não chega, ou chega demasiado tarde, o rei arrisca morrer na batalha e, ainda mais grave, a luz da lanterna arrisca, seriamente, extinguir-se com a morte de quem a tinha acendido. A luz poderá continuar a iluminar depois de nós se dermos, a nós mesmos e à comunidade, um tempo último e diferente. Porque é justamente naquele tempo, manso e humilde de guarda da chama, onde um “rei” diz, com a carne, que ele não era a luz, mas apenas o seu guarda.

«Houve novamente guerra entre os filisteus e Israel. David saiu com os seus homens para combater os filisteus. David sentiu-se fatigado. Então, apresentou-se um dos filhos de Harafá… declarou que ia matar David. Mas Abisai, filho de Seruia, foi em socorro de David, feriu o filisteu e matou-o. Então, os homens de David fizeram este juramento: “Não virás mais combater connosco, para que não se apague a lâmpada de Israel”» (2 Samuel 21, 15-17).

David está cansado, mas desce do mesmo modo ao acampamento. Ali, coloca em risco a própria vida e são os seus generais a fazer-lhe um juramento solene, uma espécie de novo pacto que marca o início da última etapa de David, a sua progressiva retirada do governo que abrirá caminho ao seu filho Salomão.

Aqui, o “povo” vê aquele cansaço novo e diferente e pronuncia uma promessa. Na história de David há um juramento a marcar esta fase, uma promessa pronunciada por iniciativa dos seus generais. No texto, David não responde; aquele juramento opera unilateralmente apenas pela força da palavra pronunciada pelos únicos representantes do povo. Na vida das comunidades existem, por vezes, pactos semelhantes, onde é a comunidade a tomar a iniciativa. Os reis quase nunca estão em condições de compreender que estão “cansados”, porque este tipo de cansaço carismático só é visto pelas pessoas que estão próximas do chefe. É um cansaço relacional, e os membros da comunidade, se são honestos e não rufias, têm o dever de tomar a iniciativa e fazer entrar o rei no último capítulo. Não são escolhas fáceis e são sempre dolorosas, porque a comunidade está habituada a escutar e seguir, e porque a fronteira entre esta promessa e a conjura não é, realmente, simples de identificar – por detrás da comunidade que não sobreviveu ao próprio fundador existem conjuras confundidas com promessas e acolhidas pelo rei e promessas confundidas com conjuras e rejeitadas.

Segue-se, depois, o relato das gestas heroicas de alguns guerreiros de David, onde encontramos também uma versão diferente da morte de Golias pela mão, não de David, mas de El-Hanan (21, 19) – a Bíblia, aqui, não tem medo de mostrar, no auge da vida de David, uma negação de um dos mitos fundadores do seu herói. Chegamos, depois, ao único salmo de David, referido integralmente nos Livros de Samuel. É um salmo longo e intenso, que ocupa todo o capítulo 22. O redator colocou-o como conclusão da vida de David, como um testamento e selo. É o princípio do seu último capítulo, o tempo de agradecimento a Deus, à vida, aos companheiros. Também pode ser o tempo dos salmos, para os poetas, como David, e para cada um na sua própria linguagem – há salmos esplêndidos, compostos com os nomes dos filhos e dos netos, com as fidelidades e as lealdades silenciosas, sussurrando apenas uma Ave-Maria, porque esquecemos todas as outras orações: o último salmo da vida não pode ser privilégio dos poetas.

Eis alguns versículos: «O Senhor é minha rocha, meu baluarte e meu libertador; Deus, meu rochedo, em quem confio… Estendeu do alto a sua mão para me segurar, e livrar-me das águas profundas. Libertou-me do meu poderoso inimigo, dos que me odiavam, pois eram mais fortes do que eu… O Senhor me recompensou pela minha retidão, retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos. Pois segui os caminhos do Senhor e não pequei contra o meu Deus… Para quem é fiel, Tu és fiel, com o homem íntegro, Tu és íntegro… Por isso te louvarei, Senhor, entre os povos e cantarei hinos em honra do teu nome» (22, 2-50). E, no centro do salmo encontramos: «Tu és a minha lâmpada, Senhor; o Senhor ilumina as minhas trevas» (22, 29). David aprendeu que a lâmpada de Israel não era ele e, por isso, no termo da sua vida pode guardá-la (toda a guarda requer a alteridade da coisa guardada).

São muitos os sentimentos que se cruzam na alma, ao ler este grande salmo. David era um cantor e tocador de harpa e também nesta alma artística está o afeto com que o rodeou toda a Bíblia. Também esta sua oração poética intensa nos enfeitiça e nos conquista. Mas quando experimentamos ler os conteúdos do cântico, temos de experimentar dizer também outras palavras.

Sempre foram muitos os crentes que se serviram de Deus para dar uma unção sagrada às suas vitórias e riquezas. A “teologia da prosperidade” tem raízes bíblicas antigas e isto porque a Bíblia, sendo imensa, se presta também a ser abusada e manipulada (como todas as coisas verdadeiramente belas e imensas da vida). A Bíblia teve necessidade de génios teológicos e de muito tempo para conseguir compreender que estar do lado de Deus não significa estar do lado dos vencedores e que o nosso Deus, o dos nossos amigos e o dos inimigos é o mesmo Deus – porque se não fosse o mesmo Deus, também YHWH, o Deus verdadeiro de diversíssimo, seria um ídolo. E se o Deus dos perdedores é o mesmo dos vencedores, se o Deus dos pobres é o mesmo Deus dos ricos, se o Deus dos sãos é o mesmo Deus dos doentes, então uma mensagem que nos chega da Bíblia (e das religiões não idolátricas) é a laicidade de Deus. Porque Deus é deixado fora dos nossos negócios e das nossas guerras, da nossa saúde e das doenças nossas e dos outros, das nossas Bolsas e das especulações financeiras. Podemos encontrá-l’O por toda a parte, em tudo e em todos; mas não é o Deus bíblico se o encontramos apenas do nosso lado.

A história de Israel, depois de David, ensinará ao povo hebraico que o seu Deus será um Deus derrotado, o seu povo eleito um povo deportado, o seu templo invencível um monte de escombros e a força de YHWH será simbolizada por um menino e por um “pequeno resto” fiel. Mas, daquele exílio, florescerão os cânticos do servo sofredor de YHWH (Isaías) e muitas grandes palavras proféticas. Sem o exílio e sem aquela grande derrota, nunca teríamos tido Job e Qohélet, que nos deram outros rostos verdadeiros do Deus Bíblico.

O salmo de David é também um perfeito exemplo de religião retributiva («O Senhor me recompensou pela minha retidão, retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos»). E, quando são os vencedores, os poderosos e os ricos a dizer estas palavras do salmo de David, a experiência da fé é sempre colocada em risco. Porque é muito fácil passar do agradecimento pela vitória e pela riqueza a pensar “porque venci e sou rico, então Deus está comigo”) e, depois, talvez, acrescentar: “Deus não está com quem não vence e é pobre”. E a fé estraga-se, torna-se um instrumento de condenação e de maldição para os pobres, para os perdedores, para os crentes num Deus diferente.

Os salmos de louvor de David ao Deus vitorioso devem ser meditados juntamente aos cânticos do Deus derrotado, em leitura sinótica. E, se quando entoamos o cântico de David pelas nossas vitórias, não o fazemos com a alma e o olhar fixo nos cânticos diferentes, gritados e berrados pelos desesperados e rejeitados, estamos a falar com Baal, mesmo se o chamamos Deus ou Jesus. Um teste para a verdade de toda a oração é experimentar recitá-la ao lado das vítimas da terra, sem vergonha. O salmo de David é também o cântico da fé jovem e adolescente, quando pensamos que o pacto com o único Deus verdadeiro nos associará às suas vitórias e, assim, nos sentimos omnipotentes – o fascínio e o mistério da religião está também na sua capacidade de nos fazer saborear a embriaguez da omnipotência. Depois, cresce-se; encontramo-nos impotentes e frágeis porque adultos, e frequentemente perde-se a primeira fé se, justamente ali, no exílio e sem templo, não chega o dom de uma nova relação com um Deus que nos ressuscita, permanecendo, em silêncio, connosco sobre o monte de estrume, e acompanhando o nosso grito, como fez com o grito do filho, a oração mais bela de todas. Para chegar, finalmente, ao último capítulo e, ali, encontraremos a mesma voz da primeira página.

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Maiores que a culpa / 30 – O último capítulo chega, frequentemente, com um tempo diferente

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 12/08/2018

Piu grandi della colpa 30 rid«Moisés viu que o Senhor escrevia a palavra “Longânime” na Torá e perguntou: “Isto significa que és paciente com os devotos?”. “Não; sou-o também com os ímpios”. “Como? – exclamou Moisés – Os ímpios merecem morrer”. O Eterno não replicou».

Louis Ginzberg, Le leggende degli ebrei  [As lendas dos hebreus]

Também nas histórias maiores chega o último capítulo. Por vezes é o capítulo mais belo, é sempre o destilado da toda a vida. Mas, enquanto nos romances, o bom leitor sabe individualizar o momento em que a ideia do relato sofre a última torsão e se prepara para a conclusão, quando tentamos ler o nosso livro, que estamos a escrever, quase nunca somos capazes de captar o momento do início do declínio e mudar. Porque, simplesmente, amamos demasiado a vida e as suas palavras e amamos demasiado as ilusões. E, assim, a última página apanha-nos, frequentemente, impreparados, porque não conseguimos inseri-la dentro do último capítulo, que lhe teria dado ritmo e sentido. Perdemos o fio da história e, por vezes, perdemo-nos.

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Não é apenas o Deus dos fortes

Não é apenas o Deus dos fortes

Maiores que a culpa / 30 – O último capítulo chega, frequentemente, com um tempo diferente por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 12/08/2018 «Moisés viu que o Senhor escrevia a palavra “Longânime” na Torá e perguntou: “Isto significa que és paciente com os devotos?”. “Não; sou-o também...
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Maiores que a culpa / 29 – Para nos recordar sempre que cada filho é filho de todos

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 05/08/2018

Piu grandi della colpa 29 rid«No céu, ela está segura de reencontrar a tua mãe e também está certa de reencontrar a tua outra avó. Dona Maria Vincenza assegurou-me que se o Pai Eterno não te toma diretamente sob a sua proteção, elas três levantarão um tal protesto que o Paraíso se transformará num verdadeiro inferno».

Ignazio Silone, Il seme sotto la neve  [A semente sob a neve]

Muitas patologias das religiões hebraico-cristãs e da civilização ocidental por elas originada são consequência direta do matrimónio que se veio a criar entre fé e economia. A compreensão do pecado como débito está na origem e no coração do humanismo bíblico que determinou uma visão mercantil da religião e da salvação. E, quando a lógica débito-crédito se estende da terra ao céu, ganha corpo uma organização, talvez a mais abstrata do nosso capitalismo financeiro.

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No céu e na terra, os pecados sobrevivem ao pecador. Aquele débito permanece ativo no “estado patrimonial” de uma pessoa, de uma comunidade e de Deus se e até que alguém o extinga, pagando o justo preço. Deus é metido neste comércio, como garante de última instância do valor legal das “moedas” utilizadas e como contrapartida principal deste mercado, cuja Bolsa de Valores é o Templo. O primeiro ato que desencadeou o crédito na parte ofendida, é “renegociado” e transformado num novo contrato mais complexo, uma espécie de título derivado, que gera cadeias intertemporais que se estendem a amplificam através do espaço e do tempo. Hoje, o nosso sistema económico eliminou a hipótese de Deus, mas o dispositivo culpa-débito continua a atuar, cada vez mais imperturbado, porque não compreendido ou escondido sob as bonitas palavras de “meritocracia” e “incentivo”. Também é muito difícil libertar-se da ideia económica da fé, quando estamos cada vez mais rodeados pela economia e pelos seus dogmas. Teríamos necessidade de uma séria análise teológica do capitalismo, para o compreender e, porventura, tentar mudá-lo.

«No tempo de David, houve uma fome que durou três anos consecutivos. David consultou YHWH e YHWH respondeu-lhe: “É por causa de Saul e da sua casa sanguinária, pois matou os Guibeonitas”» (2 Samuel 21, 1). David tem de enfrentar uma longa carestia, talvez ligada a uma seca de duração extraordinária. Para nós, as secas e as calamidades são apenas secas e calamidades; para o homem antigo eram também mensagens divinas que exigiam uma descodificação. Se YHWH é aliado de Israel, uma carestia tão longa apenas pode ser explicada pela ira divina, provocada por um grande pecado. David dirige-se, portanto, em peregrinação a um templo importante; ali procura o “rosto de YHWH”, e recebe a sua resposta: o que está a acontecer tem a sua causa num precedente delito do rei de Israel para com a comunidade dos Guibeonitas (uma população cananeia, amiga de Israel). Não sabemos qual foi o crime de sangue cometido por Saul. Apenas sabemos que David não duvida do oráculo que recebe (talvez através de um profeta). Convoca os Guibeonitas para um pacto e diz-lhes: «“Que quereis que vos faça e que satisfação vos poderei dar…”. Os guibeonitas responderam: “Não é uma questão de prata nem de ouro com Saul e a sua família…”» (21, 3-4). Os Guibeonitas fixam o preço e esclarecem que não querem uma compensação em dinheiro, embora previsto pela Lei de Moisés (Êxodo 21, 30). E, aqui, encontramos um paradoxo. A antiga ideia de religião que tinha tomado, da economia, a linguagem simbólica para indicar as relações débito-crédito entre os homens e com Deus, não considera o dinheiro “verdadeiro” uma moeda adequada para extinguir os débitos mais importantes. Para estes, exigia-se sangue.

Aqui também temos uma chave de leitura para penetrar na natureza e vocação da economia, se a lemos em relação aos sacrifícios e ao sangue. O desenvolvimento das instituições monetárias, ao longo dos séculos foi também a grande alternativa para evitar recorrer ao pagamento com o sangue. Este antigo relato de sangue e de débitos, na sua loucura, sugere-nos também uma outra mensagem de vida: quando está em jogo a vida e a morte, o dinheiro é demasiado pouco. Quando alguém atinge a nossa carne e/ou a dos que amamos, nenhuma soma de dinheiro consegue verdadeiramente restabelecer a situação original. Seria preciso uma outra lógica, não monetária e liberta do cálculo custos-benefícios, que se chama perdão e reconciliação. Somente nestas reconciliações totais não monetárias, as reparações monetárias do dano e as penas judiciais desempenham a sua função de tentar restabelecer o equilíbrio quebrado, embora sem o conseguir totalmente.

Neste momento, o texto continua na sua tremenda tragédia: «Eles responderam ao rei: “Aquele homem quis dizimar-nos e projetou aniquilar-nos (…) entregue-nos sete dos seus descendentes, a fim de os enforcarmos [empalarmos] diante de YHWH, em Guibeá, ofertas escolhidas para YHWH”» (21, 5-6). David aceita pagar aquele preço louco, sem negociar: «O rei tomou os dois filhos que Rispa, filha de Aiá, dera a Saul, Armoni e Mefiboset, e os cinco filhos de Mical, filha de Saul… Entregou-os aos habitantes de Guibeá, que os enforcaram [empalaram] no monte, diante de YHWH. Todos os sete pereceram juntos» (21, 8-9).

O pacto absurdo é concluído; o dano de sangue é recompensado adequadamente com outro sangue. Nós, porém, não podemos deixar de interrogar a Bíblia e perguntar-lhe: como pode David aceitar um comércio tão torpe, acreditar que YHWH tivesse necessidade daquele sangue para se aplacar e se reconciliar com o povo? Poderemos dizer que David, na realidade, está a movimentar-se num plano principalmente político: entregando os sete saulistas, reconcilia-se com os Guibeonitas e elimina os últimos sobreviventes da casa rival de Saul. Esta é uma resposta possível, mas parcial, porque, na Bíblia, é muito difícil – se não impossível – isolar a componente política da religiosa. O sacrifício daquelas vítimas acontece, de facto, num lugar sagrado, o templo de YHWH, em Guibeá, com homens usados como “ofertas para YHWH”, num contexto sacrificial. O primeiro devedor é, portanto, Deus.

Este pacto de sangue revela-nos, assim, uma dimensão importante da fé de Israel nos alvores da monarquia. David, o rei segundo o coração de Deus, o cantor de salmos esplêndidos, o amigo sincero de Jónatas e amantíssimo da Bíblia, com toda a probabilidade, acreditava verdadeiramente que YHWH, o Deus diferente da Aliança, pudesse ser aplacado e satisfeito com o sangue humano. Mas a notícia mais triste é que, apesar de passados três mil anos daquela oferta impiedosa, apesar do cristianismo e de S. Paulo, também nós continuamos a acreditar no mesmo Deus de David e dos Guibeonitas sempre que – e, infelizmente, muitas vezes –, mais ou menos conscientemente, ligamos o sangue de Cristo como o preço pago ao Pai pelos nossos pecados, ou quando oferecemos a nossa dor ou até mesmo a nossa vida como sacrifício, pensando que, lá em cima, alguém que recebe e agradece a nossa oferta-sacrifício e que acredita que a medida da nossa pureza seja o “sangue” e a dor que lhe “damos”.

Mas, neste relato tremendo, também nos deparamos, inesperadamente, com o esplendor duma epifania de uma outra ideia de fé, de vida, de religião – a Bíblia é imensa também por esta contínua auto-subversão. É o gesto de Rispa, uma mulher que, sem falar, nos dá um dos discursos mais fortes, dramáticos e espirituais de toda a literatura religiosa, iluminando, assim, aquele sacrifício arcaico com uma luz de paraíso: «Rispa, porém, filha de Aiá, tomou um saco e estendeu-o sobre a rocha, desde o princípio da colheita da cevada até ao dia em que caiu sobre os cadáveres a primeira chuva do céu, não deixando que os pássaros do céu pousassem sobre eles durante o dia, nem que as feras selvagens lhes tocassem durante a noite» (21, 10).

Este versículo 21, 10 do Segundo Livro de Samuel deveria entrar em qualquer antologia da excelência moral dos seres humanos, das mães, das mulheres. Já tínhamos encontrado Rispa (3, 7). Era uma concubina de Saul, que o seu general Abner “tinha tomado” sem lhe pedir autorização, para dar uma mensagem política ao seu rei. Agora, David “toma-lhe” dois filhos para os dar em oferta reparadora, também sem lhe pedir autorização (que nunca a teria obtido). Ela toma o seu saco para o luto e, em vez de o vestir, estende-o e transforma-o na sua tenda. E, ali, vigia, dia e noite, aqueles corpos sem vida. Permanece junto daquelas cruzes durante dias, semanas, talvez meses. Sozinha, como uma estrela de carne viva, como uma sentinela que está, com o profeta, parada no seu posto de vigia sobre os muros da cidade (Isaías 21), para dizer outras palavras de YHWH, sem falar. A profetizar o Gólgota e a gritar no seu sábado santo que, se há um Deus verdadeiro, não pode nem deve apreciar o sangue dos homens, porque seria menos humano que eles, que nós. São palavras mudas, as de Rispa, que dão a toda a Bíblia o sabor e a fragância da palavra de Deus. Sem o gesto desta mãe e os poucos parecidos que constelam a Bíblia, o pão da palavra seria demasiado ázimo e insípido. O gesto de Rispa permite-nos dizer “Palavra do Senhor” no fim da leitura destes capítulos tremendos, sem sentir vergonha dos homens, da Bíblia e do seu Deus.

Podemos imaginar Rispa a abraçar aqueles corpos, banhá-los com as lágrimas, beijá-los, enxugar as feridas com os seus cabelos. Gritar contra os homens e, talvez, contra o céu, que quiseram a oferta daqueles filhos – as mães, desde Rispa a Maria, sempre souberam que nenhum céu habitado pode aceitar o sangue dos filhos crucificados. E também a vemos afastar as feras e os abutres dos corpos dos seus filhos e também dos corpos dos filhos de Mical. Rispa vela as sete vítimas; vela os seus filhos, seus e não seus, a recordar-nos, para sempre, que cada filho é filho de todos. O cristianismo, um dia, revelou-nos um amor diferente, o ágape, capaz de ir para além dos laços de sangue, da amizade e do desejo e, assim, afastar os abutres e as feras dos corpos dos filhos de todos. Pode dar-no-lo porque o tinha aprendido do amor das mães e das mulheres, que era o que mais se lhe assemelhava.

O céu voltou a chover sobre a esplanada do templo de Guibeá, banhou a terra e aqueles corpos crucificados. Aquela chuva salvadora, porém, não foi a resposta ao sacrifício de David, mas lágrimas de Deus dadas em resposta às de Rispa e às de outras mães dos crucificados. Só um Deus, que chora connosco pela morte e pela dor dos nossos filhos, pode estar à altura religiosa de Rispa e das suas irmãs.

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Maiores que a culpa / 29 – Para nos recordar sempre que cada filho é filho de todos

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 05/08/2018

Piu grandi della colpa 29 rid«No céu, ela está segura de reencontrar a tua mãe e também está certa de reencontrar a tua outra avó. Dona Maria Vincenza assegurou-me que se o Pai Eterno não te toma diretamente sob a sua proteção, elas três levantarão um tal protesto que o Paraíso se transformará num verdadeiro inferno».

Ignazio Silone, Il seme sotto la neve  [A semente sob a neve]

Muitas patologias das religiões hebraico-cristãs e da civilização ocidental por elas originada são consequência direta do matrimónio que se veio a criar entre fé e economia. A compreensão do pecado como débito está na origem e no coração do humanismo bíblico que determinou uma visão mercantil da religião e da salvação. E, quando a lógica débito-crédito se estende da terra ao céu, ganha corpo uma organização, talvez a mais abstrata do nosso capitalismo financeiro.

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O gesto da mãe é fermento

O gesto da mãe é fermento

Maiores que a culpa / 29 – Para nos recordar sempre que cada filho é filho de todos por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 05/08/2018 «No céu, ela está segura de reencontrar a tua mãe e também está certa de reencontrar a tua outra avó. Dona Maria Vincenza assegurou-me que se o Pai Eterno nã...
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Maiores que a culpa / 28 – Seria bonito ver a história com olhos de mãe

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 29/07/2018

Piu grandi della colpa 28 rid«O grande vizir que era, contra a sua vontade, o ministro um rei tão cruel, tinha duas filhas, chamando-se Xerazade a mais velha e a outra Duniazade. Um dia, em que estavam juntos a conversar, Xerazade disse-lhe: Pai, desejava parar o curso da barbárie que o sultão exerce sobre as famílias desta cidade; quero desfazer o justo temor que tantas mães têm de perder as suas filhinhas dum modo tão funesto».

As Mil e Uma Noites

As palavras podem matar, mas também sabem afastar a morte. É logos o primeiro inimigo de tanatos. Enquanto tivermos alguma coisa para contar, podemos atrasar um dia a sua chegada e, talvez, quando chegar, porque terminámos o nosso conto, descobriremos que tínhamos ainda uma história para contar, e era a história para ela.

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As mulheres têm uma familiaridade especial com a morte, porque têm uma intimidade especial com a vida. Talvez porque, durante milénios, guardaram a casa, onde desenvolveram uma das relações primárias, enquanto os homens se dedicavam à economia das relações produtivas e militares, fora de casa. As mulheres tornaram-se ao mesmo tempo, especialistas de vida e de morte. Lavaram e vestiram os seus filhos e os seus mortos, trataram feridas que raramente se curam, prepararam o mesmo leito – frequentemente o único grande da casa – hoje para um parto e amanhã para o velório de um pai. Em relação à morte, a vida é, para elas, como um jardim para cegos: não a veem, mas tocam-na, sentem-na, respiram-na. E quando, finalmente, abrem os olhos e a olham de frente, descobrem que já a conheciam, como só uma mulher conhece uma irmã. A morte não parece ser o seu inimigo maior. Para matar verdadeiramente uma mulher, não basta tirar-lhe a vida. Na Bíblia, as mulheres, geralmente, não terminam a sua vida morrendo, mas saindo de cena, depois de terem sido violadas e humilhadas, dizendo-nos, porventura, que são estas mortes as que as fazem morrer verdadeiramente.

Encontrava-se ali um homem perverso, chamado Cheba, filho de Bicri, da tribo de Benjamim, o qual tocou a trombeta e proclamou: “Nada temos a ver com David”» (2 Samuel 20, 1). Com esta tentativa de insurreição, um homem da família de Saul continua a luta entre as tribos ligadas a Saul e as fiéis a David e marca também o início do conflito entre Norte (Israel) e Sul (Judá), que levará, depois, à trágica cisão do Reino de David. Nestes capítulos conclusivos do Segundo Livro de Samuel, estamos a ver que o partido de Saul, apesar de derrotado pelo de David, permaneceu vivo e forte, em Israel, sobretudo na tribo de Benjamim. A guerra com o seu filho Absalão, que representou a crise mais grave do reinado de David, criou fendas, também teológicas, onde procuraram infiltrar-se as franjas que permaneceram fiéis a Saul – na realidade, a tribo de Benjamim, por ser o eixo entre o Norte e o Sul, sempre representou um elemento crítico para Jerusalém: não esqueçamos que também o profeta Jeremias e Paulo-Saulo de Tarso, ambos críticos para com Jerusalém e a sua tradição, eram benjaminitas.

Entretanto, David, depois do abandono temporário da cidade, para reprimir a conjura de Absalão, reentrou em Jerusalém. O seu primeiro ato político pós-crise diz respeito às dez concubinas que tinha deixado na cidade, no momento da fuga (15, 16) e das quais Absalão se tinha apropriado (16, 21), para dizer a todo o povo quem era o novo rei. Para tornar público esse gesto, foi erigida uma tenda, no terraço do palácio, onde Absalão abusava das mulheres (16, 23). Talvez fosse o terraço donde o seu pai avistara Betsabé a banhar-se, depois a tinha desejado e, depois consumado o adultério que está na origem do sangue que nunca deixou de manchar a sua família. Voltam aqui, novamente, as mulheres usadas como instrumento do poder, mulheres que vivem nos palácios reais, sem serem vistas nem conhecidas como pessoas. O harém fazia parte da riqueza de um rei, um conjunto de coisas, objetos, bens sem direitos e sem nome. Foi precisa toda a Bíblia – e não foi suficiente – para que a mulher voltasse àquele ezer kenegdo que o Adão reconheceu, com grande alegria, no Éden como “seu parceiro”, como alguém com quem cruzar o olhar à mesma altura, no acontecimento determinante que o Génesis (2, 23) coloca no início da criação, como pedra angular da sua antropologia e teologia. Porém, durante milénios, os olhos das mulheres permaneceram mais baixos que os dos homens, mais próximos dos animais que os dos seus maridos, olhos belíssimos que olhavam em frente, sem serem cruzados nem reconhecidos como parceiros.

«David voltou ao seu palácio em Jerusalém; o rei tomou as dez concubinas que havia deixado a guardar o palácio e colocou-as numa casa bem guardada, cuidando do seu sustento, mas não mais foi ter com elas; e ali ficaram enclausuradas até ao dia da sua morte, como se fossem viúvas» (20, 3). David, para fechar definitivamente o parêntesis politico da Absalão, condenou aquelas dez mulheres a uma clausura vitalícia, para descontar, inocentes, a sua viuvez do filho mais velho que as tinha usado sem lhe pedir autorização. Mulheres, como Tamar, sem culpa, que devem descontar os pecados e vinganças dos machos, prisioneiras numa viuvez forçada, política e social, usadas como mensagem de carne a enviar ao povo (Juízes 19). As mulheres, quando as palavras tinham acabado ou tinham perdido o folego, tiveram de falar com a sua carne, com os seus filhos e com as suas clausuras que, mesmo quando são uma mensagem de vida, permanecem sempre um sacramento de carne para dizer palavras de espírito, que quase nunca são captadas e compreendidas.

Não podemos, porém, não ficar impressionados e perturbados pela indiferença com que o escritor bíblico nos comunica esta clausura, não escolhida, destas mulheres, como se a pietas que soube usar para os grandes homens não fosse necessária para estas mulheres e para muitas outras. Seria bonito – se fossemos capazes – imaginar e, porventura, escrever alguns episódios da história narrada pelos livros de Samuel, vista na perspetiva das mulheres. Perguntar-nos: como terá vivido Mical, filha de Saul e mulher de David, a guerra entre o seu pai e o seu marido, e a morte de Jónatas e dos seus outros irmãos? E que sentimentos e, talvez, que palavras teve Betsabé pela morte do seu filho sem nome que YHWH quis para punir a culpa de David? E o que disse – se disse alguma coisa – Maaca, a mãe de Absalão, quando soube que aquele filho, o mais belo de todos, tinha ficado enleado com a sua cabeleira numa árvore e, depois, morto por Joab? Como leem e vivem as mães a história das guerras e das violências dos homens? Quais são as suas palavras diferentes?

Mas, nesta viuvez clausurada e neste triste silêncio de mulheres, eis que a Bíblia nos faz conhecer uma outra mulher e, assim, faz-nos escutar algumas das palavras femininas muitas vezes silenciadas. Escutando as suas palavras, podemos experimentar ouvir as de tantas mulheres mudas, sepultadas pela história e pela Bíblia.

A revolta de Cheba não teve seguimento em Israel. Assim, com os seus poucos homens, ele encontra refúgio numa cidade do Norte: Abel (Abel-Bet-Maacá). Joab foi no seu encalço, cerca a cidade e começa a construção de um baluarte, encostado às suas muralhas, para a conquistar.

Depois da mulher sem nome e sagaz de Técua (cap. 14), aqui, num outro momento determinante, entra em cena uma mulher sensata, sem nome: «Então, uma mulher sensata da cidade pôs-se a gritar, dizendo: “Ouvi, ouvi! Dizei a Joab que se aproxime para que eu lhe possa falar”. Aproximou-se Joab e a mulher disse-lhe: “És tu Joab?” Respondeu ele: “Sim, sou eu”. Ela continuou: “Escuta as palavras da tua serva”. Respondeu: “Estou a ouvir-te”» (20, 26-17). Antes de mais, impressiona que seja uma mulher a tomar a palavra em nome da cidade. Num mundo de homens, num momento de grande crise, onde está em jogo a sobrevivência da comunidade, é uma mulher a falar; e fá-lo com autoridade, a ponto de Joab a escutar. E a mulher diz-lhe: «Outrora costumava dizer-se: “Quem procura conselho que o busque em Abel. E tudo se resolverá”. Eu sou a mais pacífica e fiel de Israel, e tu procuras a destruição de uma cidade, uma cidade mãe em Israel. Porque queres destruir o que é propriedade do Senhor?» (20, 18-19). Abel era em Israel uma cidade mãe de paz, tinha uma história e uma vocação de sabedoria e de fidelidade. A mulher sensata de Abel usa o genius loci da sua terra, agarra-se às suas raízes para salvar a árvore da vida, porque as raízes não são o passado, mas o presente e o futuro. Mas as raízes podem salvar se alguém as sabe chamar, porque as sabe ver e compreender – também isto é talento das mulheres, porque a geração de vida as torna especialistas do laço entre as gerações.

O diálogo entre a mulher sensata e o general impiedoso continua: «Joab respondeu-lhe: “Longe de mim tal coisa; não venho arruinar nem destruir coisa alguma. Não se trata disso. (…) Cheba, atreveu-se a levantar a mão contra o rei David. Entregai-nos esse homem e retirar-me-ei da cidade”» (20, 20-21). A mulher alcançou o seu objetivo: salvar da morte, com a palavra, a sua cidade e os seus habitantes; e, também aqui, age imediatamente: «A mulher disse a Joab: “A sua cabeça será lançada por cima do muro”… Cortaram a cabeça a Cheba, filho de Bicri, e atiraram-na a Joab» (20, 21-22). Hoje, talvez chamaremos “sensato” a um mediador capaz de salvar também a vida do rebelde. À Bíblia, a sorte de Cheba interessa pouco (naquele mundo, a morte daquele tipo de rebelde, era ponto assente). Neste relato, aquela mulher é chamada sensata porque numa situação desesperada, soube encontrar, rapidamente, a única solução possível para salvar da destruição a sua cidade, convencendo, com o diálogo, aquele comandante sanguinário a mudar de ideia e, assim, ganhar a paz. Num lugar liminar entre a morte e a vida, que são os lugares onde a Bíblia, frequentemente, coloca as mulheres, a mulher de Abel soube salvar uma “cidade mãe” e os seus filhos. Naquele prodigioso duelo, foram as palavras de paz da mulher sensata a prevalecer.

Aquela mulher permanece sem nome, mas não sem palavras. Por vezes, na Bíblia, os protagonistas dos relatos da grande mensagem permanecem, intencionalmente, sem nome. O seu anonimato não reduz o valor das suas palavras e universaliza-o – «Um homem descia de Jerusalém para Jericó», «Um homem tinha dois filhos…». Nós podemos preencher aquela ausência de nome com o nosso e, depois, ouvir repetir: «Vai e faz tu também o mesmo».

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Maiores que a culpa / 28 – Seria bonito ver a história com olhos de mãe

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 29/07/2018

Piu grandi della colpa 28 rid«O grande vizir que era, contra a sua vontade, o ministro um rei tão cruel, tinha duas filhas, chamando-se Xerazade a mais velha e a outra Duniazade. Um dia, em que estavam juntos a conversar, Xerazade disse-lhe: Pai, desejava parar o curso da barbárie que o sultão exerce sobre as famílias desta cidade; quero desfazer o justo temor que tantas mães têm de perder as suas filhinhas dum modo tão funesto».

As Mil e Uma Noites

As palavras podem matar, mas também sabem afastar a morte. É logos o primeiro inimigo de tanatos. Enquanto tivermos alguma coisa para contar, podemos atrasar um dia a sua chegada e, talvez, quando chegar, porque terminámos o nosso conto, descobriremos que tínhamos ainda uma história para contar, e era a história para ela.

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A palavra de paz é feminina

A palavra de paz é feminina

Maiores que a culpa / 28 – Seria bonito ver a história com olhos de mãe por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 29/07/2018 «O grande vizir que era, contra a sua vontade, o ministro um rei tão cruel, tinha duas filhas, chamando-se Xerazade a mais velha e a outra Duniazade. Um dia, em que...
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Maiores que a culpa / 27 – Aprendemos a encontrar o Pai onde não deveria estar

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 22/07/2018

Piu grandi della colpa 27«Não te peço mais, mesmo que tu quisesses participar no trabalho, eu com gosto te aceitaria: sê tu aquele que desejas. Sepulcro eu lhe darei… E tu, se acreditas, despreza mesmo o que os Numi prezam».

Sófocles, Antígona

A história que nos contam os Livros de Samuel é uma sucessão de homicídios, incestos, estupros, violências brutais. YHWH, o protagonista de muitas páginas bíblicas, aqui parece estar fora das brigas, a observar o espetáculo de morte que os homens lhe oferecem. No entanto, a Bíblia, em todos os seus livros, continua a falar-nos de Deus, a conter as suas palavras e a sua palavra. Mas onde? E como?

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Muitos leitores, de ontem e de hoje, O procuram e encontram nas poucas e intensas orações de David, nas sábias palavras das mulheres, nas rápidas aparições de profetas, e rejeitam todas as outras palavras incómodas, demasiado humanas para serem divinas. Mas se olharmos bem e de modo diferente, poderemos dar-nos conta que o Deus bíblico se encontra também – e, talvez, sobretudo – na sua ausência e no seu silêncio. Ao lado de Tamar, irmã violada e, depois, mandada embora; no campo de batalha, a chorar com David, a morte de Jónatas; no bosque, a consolar Absalão, apanhado entre as árvores; no caminho doloroso, junto ao cireneu, sob a cruz do filho. A Bíblia fala-nos do seu Deus também quando cala, quando não fala e não O faz falar. Como em qualquer história de amor, onde as palavras determinantes são as que nunca dissemos, porque se tornaram carne, e a carne é muda. O Deus bíblico não se deixa prender pelas palavras bíblicas; fala calando, cala falando, fala onde parece calar, cala onde deveria falar. E, assim, se protege da nossa contínua e tenaz tentativa de O transformar em ídolo, ou de idolatrar a Bíblia. Mas, se aprendermos a encontrar Deus onde não deveria estar – na Bíblia, como na vida – encontrar-nos-emos com muitas mais palavras para experimentar rezar a Deus e falar com os homens.

Absalão está morto, assassinado com os dardos de Joab, enquanto pendia da árvore. Agora, Joab tem de dar a notícia a David, que lhe tinha pedido para tratar aquele filho “com cuidado”. A escolha do mensageiro não é simples. Por fim, Joab envia um etíope (18, 21), um embaixador portador de pena. Quando o rei lhe pergunta: «Está bem o jovem Absalão?» (2 Samuel, 18, 32), o etíope anuncia-lhe a tristíssima notícia. Forte e cheia de pathos é a reação de David: «Então, o rei, muito triste, subiu ao quarto que estava por cima da porta e pôs-se a chorar. E dizia, caminhando de um lado para o outro: “Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Porque não morri eu em teu lugar? Absalão, meu filho, meu filho!”» (19, 1). Para a Bíblia, David é prezado por muitas coisas, mas também e talvez pelo seu coração capaz de sentimentos genuínos e verdadeiros, que sabemos reconhecer e apreciar porque são muito parecidos aos nossos. Teve que fazer uma guerra para repelir a conjura de Absalão que se tinha proclamado rei, mas o texto diz-nos que não queria a morte daquele filho. David encontra-se, de novo, dentro dum conflito entre duas dimensões fundamentais da sua vida. É dilacerado pela tensão entre o rei que deve repelir um inimigo para salvar trono e reino, e o pai que não queria a morte do seu filho, o mais belo de todos os filhos do povo (todo o filho é, para o pai, “o mais belo de todos” porque, sem este olhar generoso e exagerado, não seria suficientemente belo para ninguém). Estes conflitos identitários que acontecem no interior da própria pessoa são os decisivos e são muito mais concretos e reais que os conflitos identitários interpessoais, que, pelo contrário, a nossa cultura amplifica porque não sabe reconhecer nem, muito menos, acudir aos conflitos dentro das nossas almas.

O texto bíblico diz-nos que, no princípio, o pai prevalece sobre o rei e, nas suas palavras, relemos muitas palavras semelhantes, de pais e mães perante a morte de um jovem seu. Encontramos, sete vezes, a expressão “meu filho”, um número que revela uma dor infinita, porque infinita é a dor por um filho que já não existe. David era um perito homem de armas, conhecia muito bem a arte da guerra e, por isso, quando deixou Jerusalém, para se preparar para a batalha, sabia que a morte de Absalão seria o desfecho mais provável. Todavia, tinha procurado mudar aquele destino, forçar os códices de guerra e, por isso, pediu um tratamento “com cuidado” para o seu jovem, apesar de conhecer muito bem Joab e as regras impiedosas do jogo da guerra. Por isso, ao mensageiro, como primeira coisa, pede notícias sobre o seu jovem. Sabia, quase com certeza, qual seria a tremenda resposta, mas, mesmo assim, faz a pergunta, agarrando-se ao fio de esperança contido naquele quase. Como nós, quando nos agarramos ao “quase” de um relatório médico, ao “quase” com que abrimos o último mail de resposta à pergunta desesperada de tentar novamente uma última vez. Sabemo-lo, estamos quase seguros da má notícia, mas fazemos tudo para alongar a duração daquele quase, para procurar roubar à morte alguma hora ou algum segundo. Depois, aquele tempo de esperança desesperada termina, damo-nos conta, inesperadamente, de apenas ter cultivado a ilusão, porque a conclusão da história já estava escrita em muitos factos e ações que conhecíamos, mas não podíamos não acreditar naquele quase: «Disseram a Joab: “O rei chora e lamenta-se por causa de Absalão”» (19, 2).

O luto foi, durante milénios, um dos mais preciosos know-how que as culturas acumularam e conservaram para evitar que, junto ao defunto, “morressem” mulheres, maridos, pais, irmãs. O luto é a transformação de uma dor insuportável numa dor possível, graças à criação de bens relacionais. É, por isso, uma operação invulgarmente comunitária, onde a minha dor consegue tornar-se, verdadeiramente, a nossa dor. A compaixão faz com que o pranto de amigos e parentes que amamos não aumente a nossa dor mas a diminua. No decurso de algumas gerações, o Ocidente esqueceu a milenária arte comunitária do luto e, assim, tornámo-nos infinitamente vulneráveis, frente à dor maior, que nos mata, indiscutivelmente, nas solidões das nossas casas, dos telemóveis, os computadores.

O luto de David cruza-se, rapidamente, com a razão de Estado. O seu pranto por Absalão desencoraja e deprime o exército que acabava de sair vencedor de uma batalha: «Naquele dia a vitória converteu-se em luto para todo o exército… Por isso, o exército entrou na cidade em silêncio, como entra, coberto de vergonha, um exército derrotado» (19, 3-4). A pietas de David que, como pai, chora o filho, entra em conflito com o David rei, que tem a obrigação de honrar e não humilhar o exército, que tinha lutado por ele. E, enquanto ao anúncio do mensageiro, o pai tinha prevalecido sobre o rei, agora a virtude pública do soberano vence a virtude privada do pai. As virtudes não estão sempre alinhadas entre si e, frequentemente, entram em choque nas zonas limite. Uma “vitória” conseguida, também graças à mão de Joab: «Chegou então Joab à casa do rei e disse-lhe: “Tu hoje enches de confusão a face de todos os teus servos que salvaram a tua vida, a vida de teus filhos e filhas, de tuas mulheres e concubinas. Amas os que te odeiam e odeias os que te amam, e mostras que todos os teus servos e chefes do exército nada valem para ti. Ficarias satisfeito se Absalão vivesse, e nós fôssemos todos mortos!”» (19, 6-7). Joab mostra-lhe, com enorme força, um outro lado da realidade, duríssimo; recorda-lhe que a sua primeira paternidade é para com o povo. O rei não é um homem como os outros; é um personagem coletivo, um símbolo; o seu comportamento é, sempre e inevitavelmente, uma mensagem imediata ao povo. Não pode gerir os sentimentos como todos os outros seres humanos. Deve antepor o bem comum ao seu bem privado. Não sabemos quanto interessasse a Joab o bem do rei ou do povo, ou se, na realidade, lhe interessava, sobretudo ou apenas, o bem do “comandante” Joab. Contudo, é certo que o seu raciocínio tem uma sua lógica e uma sua coerência, as únicas presentes a ativas no mundo de Joab e no poder político de todos os tempos.

Por isso, Joab pode acrescentar: «Vamos, sai e anima o coração dos teus servos, pois juro pelo Senhor que, se não sais, nem um só homem ficará contigo esta noite. E isto seria para ti uma desgraça maior do que todas as que te aconteceram desde a tua mocidade até agora» (19, 8). Joab fala ao seu rei com uma grande autoridade, que David reconhece: «Então, o rei levantou-se e sentou-se à porta» (19, 9a). David escuta o seu general, mas a falta de “cuidado” pelo jovem Absalão não fica impune. E facto, nomeia Amassá, o comandante derrotado das tropas de Absalão, como novo chefe do exército, em lugar de Joab (19, 14). Joab não diz nada mas, também aqui, age de imediato. E, assim, durante a guerra para reprimir a tentativa de separação das tribos do Norte (Israel), chefiada por Cheba (20, 1), Joab perpetra um outro dos seus delitos. Os dois generais encontram-se; Joab aproxima-se de Amassá e diz-lhe: «“Como vais, meu irmão?” E agarrou-lhe a barba com a mão direita, para o beijar. Amassá, porém, não reparou na espada que segurava Joab. Este feriu-o no ventre e derramou por terra as entranhas dele» (20, 9-10). Joab oferece a Amassá a mão direita desarmada e fere-o traiçoeiramente com a esquerda. Depois, abandoná-lo-á meio morto, na beira do caminho, «coberto de sangue». Um homem do exército de Joab «arrastou Amassá para um campo e cobriu-o com um manto, pois viu que paravam todos os que chegavam diante dele» (20, 12).

Também nós paramos e olhamos esta outra vítima abandonada naquele campo, sem sepultura. Mas, naquele caminho de guerra, realiza-se uma outra teofania. YHWH entra novamente em cena, no homicídio deste homem, chamado irmão e beijado, deixado meio morto na beira da estrada. Podemos olhar aquele homem ensanguentado, continuar, depois, o caminho juntamente ao exército de Joab e, assim, juntamos o nosso denário aos outros vinte e nove. Mas podemos também parar e ajudar YHWH a sepultar um outro homem, traído com um beijo.

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Maiores que a culpa / 27 – Aprendemos a encontrar o Pai onde não deveria estar

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 22/07/2018

Piu grandi della colpa 27«Não te peço mais, mesmo que tu quisesses participar no trabalho, eu com gosto te aceitaria: sê tu aquele que desejas. Sepulcro eu lhe darei… E tu, se acreditas, despreza mesmo o que os Numi prezam».

Sófocles, Antígona

A história que nos contam os Livros de Samuel é uma sucessão de homicídios, incestos, estupros, violências brutais. YHWH, o protagonista de muitas páginas bíblicas, aqui parece estar fora das brigas, a observar o espetáculo de morte que os homens lhe oferecem. No entanto, a Bíblia, em todos os seus livros, continua a falar-nos de Deus, a conter as suas palavras e a sua palavra. Mas onde? E como?

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Deus está ao lado das vítimas

Deus está ao lado das vítimas

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Maiores que a culpa / 26 – A Bíblia é um exercício moral para nos tornar mais humanos

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 15/07/2018

Piu grandi della colpa 26 rid«Será Platão a abolir os lamentos dos homens célebres e torná-los assunto das mulheres e dos homens vilões, para que aqueles que dizemos educar para a defesa do país desdenhem comportar-se de modo semelhante a eles».

Matteo Nucci, Le lacrime degli eroi  [As lágrimas dos heróis]

Nós, homens e mulheres, amamos as coisas mas, sobretudo, amamos os nossos filhos. Por isso, a reconciliação verdadeira entre um pai e um filho está entre as alegrias mais sublimes da terra, talvez a maior. A parábola do “filho pródigo” está entre as parábolas mais belas e mais conhecidas dos Evangelhos, até porque nos fala de um filho que volta a casa e de uma reconciliação. Mas quando saímos da parábola de Lucas e escrevemos as parábolas de carne, da nossa vida, damo-nos conta que os filhos regressados voltam a sair, quase sempre. Voltam às pocilgas, delapidam ainda a sua parte da herança e, por vezes, voltam para apanhar também o resto que não lhes “pertence”. A alegria das famílias e das comunidades, frequentemente, é encontrada e experimentada naquele lapso de tempo entre um regresso e uma nova partida, no espaço que se encontra entre o “beijo do pai” e o “beijo de Judas”.

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Absalão voltou a Jerusalém mas David, seu pai, não o quer encontrar: «Volte para a sua casa, pois não será admitido à minha presença!» (2 Samuel 14, 24). Após dois anos, com a mediação de Joab, consegue encontrar seu pai: «Absalão foi chamado, entrou nos aposentos do rei... E o rei beijou-o» (14, 33). O beijo, ou seja, a plena reabilitação. Mal foi reabilitado, Absalão começa a preparar o seu plano para suplantar o seu pai (15, 1). Absalão fora-nos apresentado com o típico aspeto do herói guerreiro: «Não havia em todo o Israel homem tão formoso pela sua beleza como Absalão. Quando cortava o cabelo - o que fazia cada ano, porque a cabeleira o incomodava - o peso desta era de duzentos siclos» (14, 26-26). Também era neto dum rei (3, 3). Um retrato que recorda, de perto, Saul, uma sombra real que continua a perseguir o desenvolvimento da vida de David. Com a desculpa de ter de cumprir um voto que tinha feito a YHWH, no tempo do seu exílio – é antigo o vício de envolver as motivações políticas e conspiradoras com um invólucro religioso – Absalão obtém do seu pai a permissão para se dirigir a Hebron, onde, porém, se autoproclama rei. À volta do pretendente ao trono, começa a crescer o consenso popular. A conjura torna-se «forte» (15, 12), até que, um dia, um mensageiro anuncia a David: «O coração dos israelitas inclinou-se para Absalão!» (15, 13). Então, David disse a todos os seus homens: «Fujamos depressa porque, de outro modo, não podemos escapar a Absalão!» (15, 14).

Enquanto David se prepara para fugir, é muito belo o diálogo entre David e um filisteu, Itai, um estrangeiro, chefe de um povo derrotado, vindo com seiscentos homens para estar ao lado do rei. David convida-o, lealmente, a ficar na cidade com Absalão (15, 19). Itai não aceita, fica ao lado do rei, e diz palavras que lembram, quase à letra, o diálogo entre Rute e a sua sogra, Noemi, um dos mais belos de toda a Bíblia: «Pela vida do Senhor e pela vida do rei, meu senhor! Onde estiver o meu senhor e rei, aí estará também o teu servo, tanto para morrer como para viver» (15, 21) Aqui, David não tem para com Itai nenhuma palavra de agradecimento; mas, mais tarde, quando começar a guerra, nomeá-lo-á capitão de um terço do seu exército (18, 2). Nas reciprocidades determinantes da vida, as palavras, já enormíssimas, são muito pequenas e ficam atravessadas na garganta. Nestes encontros, belíssimos e tremendos, fala-se sem falar.

David deixa a cidade com a sua gente e a sua família: «Estando o rei na torrente do Cédron, enquanto o povo seguia diante dele a caminho do deserto, toda a terra chorava em voz alta» (15, 23). Toda a terra chorava. Um êxodo ao contrário, um novo rio a ultrapassar para um novo combate, um outro cálice a beber que não se queria beber. Um outro choro por Jerusalém e pelos seus filhos: «David, chorando, subia o monte das Oliveiras, com a cabeça coberta e descalço» (15, 30). David vive aquela fuga como a peregrinação de um penitente, como um luto, como uma expiação de culpas cometidas, que YHWH e ele conhecem muito bem. E chora. Também o rei chora e a Bíblia não tem medo de no-lo dizer.

Ao longo do caminho, aparece-lhe um amigo, de nome Huchai. David convida-o a ficar na cidade e a conquistar a confiança de Absalão, como seu conselheiro militar – Huchai conseguirá o seu arriscado e difícil cargo de agente secreto no campo inimigo (17, 14), porque Absalão preferirá o conselho de Huchai ao de Aitofel, avô de Betsabé que, após a rejeição do seu plano, se enforcará (17, 23).

Durante a fuga pelo Jordão, David tem um outro encontro significativo, com um benjaminita, um descendente da casa de Saul: Chimei. O homem «enquanto caminhava, ia proferindo maldições. Lançava pedras contra David…. E Chimei amaldiçoava-o, dizendo: “Vai, vai embora, homem sanguinário e criminoso. YHWH fez cair sobre ti todo o sangue da casa de Saul, cujo trono usurpaste; YHWH entregou o reino a teu filho Absalão. Vês-te, agora, oprimido de males, por teres sido um homem sanguinário”» (16, 5-8). O fantasma de Saul toma a palavra e age, a dizer-nos que o partido derrotado de Saul, no decurso da guerra civil vencida por David, ainda estava vivo – não basta eliminar os inimigos para apagar todas as suas palavras; seria demasiado fácil e muito injusto. Chimei lê a rebelião de Absalão com o registo da teologia retributiva: David está a sofrer à mão de seu filho as mesmas penas que tinha provocado a seu “pai” Saul. Também David está dentro da mesma leitura e, por isso, não rejeita aquela maldição. Deixa Chimei atirar contra ele as suas pedras e as suas palavras mais duras que as pedras e vive este encontro como expiação e como reparação – não compreendemos o capitalismo se esquecemos esta leitura económica da fé que atravessa também a Bíblia. David não se declara inocente (não era apenas Chimei a julgá-lo um usurpador) e vive esta maldição como um preço a pagar para esperar uma nova bênção: «Deixai-o amaldiçoar-me, conforme a permissão do Senhor» (16, 11).

É linda esta mansidão de David que, dócil, dobra a cabeça sob as pedras de Chimei. Até as atribui a uma possível «ordem de YHWH” e, por isso, deixa-se tocar e ferir pelo saulista: «David e os seus homens prosseguiram o seu caminho, mas Chimei seguia a par dele pelo flanco da montanha, amaldiçoando-o, atirando-lhe pedras e espalhando poeira no ar» (16, 13).

Frente às maldições que, pontualmente, encontramos nos caminhos e nos desertos, podemos experimentar repeli-las ou eliminá-las (como queriam fazer os militares de David: 16, 11); tapar os ouvidos e o coração para as não ouvir. Ou, então, podemos acolhê-las, mansos, deixá-las tocar a nossa carne, fazer-nos en-sinar por elas a profissão da vida, aprendendo a humildade-humilitas do húmus que nos é lançado: «O rei e toda a sua tropa chegaram extenuados. E descansaram ali» (16, 14).

Absalão prepara a guerra civil e segue o conselho do manhoso Huchai, o qual manda mensageiros a David para o informar da estratégia que Absalão seguirá e, depois, agir em conformidade (17, 16). A batalha deu-se na floresta de Efraim; o exército de Absalão é derrotado: «A mortandade foi grande. Morreram ali vinte mil homens… foram mais os que naquele dia pereceram na floresta do que os que morreram à espada» (18, 7-8). A floresta devorou também o filho do rei: «Absalão, montado numa mula, encontrou-se, de repente, em frente dos homens de David. A mula passou sob a ramagem espessa de um grande carvalho, e a cabeça de Absalão ficou presa nos ramos da árvore, de modo que ficou suspenso entre o céu e a terra enquanto a mula, em que ia montado, seguia em frente» (18, 9).

Um outro filho suspenso entre o céu e a terra, traído pela sua maravilhosa cabeleira, que tinha fascinado e seduzido muitos – não é raro que seja o nosso próprio talento a parar-nos a corrida nas batalhas decisivas. É muito trágica esta imagem de Absalão pendurado pela cabeleira, infinitamente vulnerável, indefeso e derrotado. O autor bíblico diz-nos em que campo está nesta batalha. No de David, porque é ali que coloca o coração de YHWH. Absalão é um rebelde, que queria fazer descarrilar do seu curso a história da salvação. E assim, ex post, conta-nos, com insuficiente pietas, o triste fim deste filho suspenso: «Joab tomou, pois, três dardos e cravou-os no coração de Absalão, porque ainda estava com vida, suspenso do carvalho» (18, 14). Um outro filho, elevado da terra, trespassado no lado. No entanto, David tinha dito a Joab e aos seus generais: «Tratai com cuidado o meu filho Absalão!» (18, 5). Mas Joab não tratou com “cuidado” o jovem e, como tinha seguido as ordens de David ao matar Urias, o hitita, à mão dos amonitas (cap. 11), agora mata com as suas próprias mãos aquele filho – a profissão das armas não conhece “cuidado” para com os jovens.

Mas nós não estamos obrigados a permanecer no campo do vencedor. Podemos, devemos decidir se continuar a leitura do capítulo “seguindo em frente” e, assim, deixar aquele jovem suspenso do carvalho, ou então irmos procurar a mula que tinha “seguido em frente”, carregar o corpo ferido de Absalão e acompanhá-lo até à primeira estalagem. Quando nos deparamos com um crucificado, não o podemos ressuscitar, mas podemos decidir permanecer junto da cruz.

Depois do Dependurado do madeiro, já não estamos inocentes se “seguimos em frente” diante de um filho suspenso entre o céu e a terra e traspassado no lado, sem nos perguntarmos se era culpado ou inocente. Toda a Bíblia é parábola, toda ela é um exercício moral que nos é proposto para nos tornarmos mais humanos. Se, agora, lendo, não nos detemos diante deste filho dependurado que o pai tinha pedido, em vão, para tratarem com cuidado, amanhã, não pararmos diante dos suspensos entre o céu e a terra que povoam as nossas estradas, os nossos mares, as nossas florestas, que o Pai continua a pedir-nos, em vão, para tratar com cuidado. Se não experimentamos realizar este exercício doloroso e difícil, a Bíblia torna-se apenas um texto para o culto sagrado, e murcha. Pelo contrário, é aprendendo a parar e tendo cuidado com as vítimas que encontramos no exercício da leitura, que podemos esperar não nos transformar, um pouco de cada vez e sem nos darmos conta, num outro Joab que encontrará muito boas razões políticas para espetar três dardos num outro filho suspenso.

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Maiores que a culpa / 26 – A Bíblia é um exercício moral para nos tornar mais humanos

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 15/07/2018

Piu grandi della colpa 26 rid«Será Platão a abolir os lamentos dos homens célebres e torná-los assunto das mulheres e dos homens vilões, para que aqueles que dizemos educar para a defesa do país desdenhem comportar-se de modo semelhante a eles».

Matteo Nucci, Le lacrime degli eroi  [As lágrimas dos heróis]

Nós, homens e mulheres, amamos as coisas mas, sobretudo, amamos os nossos filhos. Por isso, a reconciliação verdadeira entre um pai e um filho está entre as alegrias mais sublimes da terra, talvez a maior. A parábola do “filho pródigo” está entre as parábolas mais belas e mais conhecidas dos Evangelhos, até porque nos fala de um filho que volta a casa e de uma reconciliação. Mas quando saímos da parábola de Lucas e escrevemos as parábolas de carne, da nossa vida, damo-nos conta que os filhos regressados voltam a sair, quase sempre. Voltam às pocilgas, delapidam ainda a sua parte da herança e, por vezes, voltam para apanhar também o resto que não lhes “pertence”. A alegria das famílias e das comunidades, frequentemente, é encontrada e experimentada naquele lapso de tempo entre um regresso e uma nova partida, no espaço que se encontra entre o “beijo do pai” e o “beijo de Judas”.

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Salvemos todo o filho suspenso

Salvemos todo o filho suspenso

Maiores que a culpa / 26 – A Bíblia é um exercício moral para nos tornar mais humanos por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 15/07/2018 «Será Platão a abolir os lamentos dos homens célebres e torná-los assunto das mulheres e dos homens vilões, para que aqueles que dizemos educar para a...
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Maiores que a culpa / 25 – Qualquer história de fratricídio é, infelizmente, história verdadeira

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 08/07/2018

Piu grandi della colpa 25 rid«‘Ó filho de Laertes, manhosíssimo divino Ulisses, para e cessa o combate duma guerra funesta para que Júpiter, omnividente filho de Cronos, não se irrite’. Disse Atenas. Obedeceu Ulisses alegrando-se no seu coração».

Omero Odissea, Conclusione

Quando se atravessam crises profundas e complicadas, o encontro com alguém que nos mostra uma outra perspetiva, pode ser o acontecimento determinante. Alguém que nos faz subir ao cimo duma colina para ver, do alto, a nossa cidade sitiada e, dali, descobrir caminhos de fuga que, quando estávamos ainda imersos na luta, não podíamos ver. Na Bíblia, quem oferece estas perspetivas diferentes são, sobretudo, os profetas e as mulheres. De facto, há uma analogia entre profecia e génio feminino. Ambos são concretos, ativam processos, falam com a palavra e com o corpo e, por instinto invencível, escolhem sempre a vida, acreditam nela e celebram-na até ao último sopro. Os profetas e as mães guardam e geram uma palavra viva, que não controlam, oferecem-lhe o corpo para que o filho-palavra se torne carne, sem se tornarem os seus donos.

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O sangue e a violência continuam a fluir copiosos na família de David. Os autores das violências são machos que mostram uma grande maldade da cabeça que se junta à da barriga. Entre todos os homens que estão a escrever as primeiras páginas ensanguentadas da história da monarquia, em Israel, inserem-se, de vez em quando, mulheres que, com as suas breves aparições, humanizam os relatos, mostrando um outro rosto de YHWH. As mulheres entram em cena para nos dizes novas palavras sobre o homem e sobre Deus, quando os homens consumiram e delapidaram os seus últimos recursos de humanidade e se ornaram, finalmente, mendicantes de palavras de vida. Também nestas páginas tremendas sobres as lutas fratricidas dos filhos de David, uma mulher ilumina, com uma luz luminosíssima, o horizonte escuro dos homens.

David, sabendo do estupro de sua filha Tamar, mostra-se, também aqui, ambivalente: «O rei David soube do que havia acontecido e ficou furioso, mas não quis irritar o seu filho Amnon, porque lhe tinha muito afeto: de facto, era o seu primogénito» (2 Samuel 13, 21). A história está cheia de delitos, sobretudo nas relações com pobres, mulheres e crianças, cobertos por “pais”, para não “irritar” os filhos. Absalão, pelo contrário, teve uma reação oposta. Começa a cultivar o sentimento devastador da vingança. E, assim, dois anos depois, durante a festa da tosquia dos seus rebanhos, Absalão obtém de David a permissão que o seu irmão Amnon vá ter com ele. Depois, diz aos seus servos: «Ficai alerta e, quando Amnon estiver alegre por causa do vinho e eu vos disser que ataquem Amnon, atacai-o e matai-o sem medo, pois sou eu quem vo-lo ordena. Ânimo, e sede homens corajosos!» (13, 28). Também um irmão que convida um outro irmão para “ir aos campos”: «Os servos de Absalão fizeram a Amnon conforme o seu senhor lhes ordenara» (13, 29) Amnon, diferentemente de Abel, era culpável, mas nenhum irmão merece morrer. Depois do fratricídio, também Absalão, como Caim, foge “errante”, homicida e, portanto, com risco de morte. Mas na noite deste fratricídio, chega uma outra mulher, desta vez sem nome: uma mulher de Técua.

Joab, o já conhecido manhoso e ambíguo general de David, quer reabilitar Absalão e fazê-lo voltar do exílio: «mandou vir de Técua uma mulher sagaz» (14, 2). Ao leitor bíblico, o nome de Técua diz imediatamente uma coisa importante: é a aldeia do profeta Amós. Estamos, portanto, dentro de um ambiente profético. A mulher é chamada “sagaz”, um adjetivo raro que, na Bíblia, quer dizer muito. Também aqui, como no relato de Abigail, a mulher se apresenta como uma narradora, como uma tecedora de histórias, artesã da palavra ao serviço da vida. As mulheres têm uma relação especial com a narração. Talvez porque, desde pequeninos, nos ensinam a transformar os primeiros sons e rumores em palavras, porque alimentam as suas crianças com leite, alimento e histórias ou talvez porque, durante milhares de anos, enquanto os homens caçavam e combatiam, elas, debaixo das tendas, trocavam, sobretudo, palavras; as mulheres sabem falar de modo diferente e melhor que os homens. Sobretudo, sabem procurar, criar, inventar palavras que ainda não existem, mas que devem, absolutamente, existir para continuar a viver. Como fez a mulher sagaz de Técua.

Joab instrói a mulher e envia-a ao rei: «Finge-te muito triste, veste-te de luto e não te unjas de perfumes, a fim de pareceres uma mulher que chora um morto há muito tempo. Vai, então, ter com o rei e repete-lhe o que te vou dizer» (14, 2-3). Ela chega junto de David: «“Ó rei, salva-me!” O rei disse-lhe: “Que tens?”» (14, 4). Ela conta uma história inventada e acordada com Joab: «Ai de mim! Sou uma mulher viúva. Meu marido morreu. Tua serva tinha dois filhos. Eles discutiram no campo e, não havendo quem os separasse, um deles feriu o outro e matou-o. E eis que agora toda a família se levanta contra a tua serva, dizendo-lhe: ‘Entrega-nos o fratricida para o matarmos e vingarmos o sangue de seu irmão a quem ele tirou a vida”. Querem, deste modo, apagar a última centelha que me resta, a fim de que não se conserve de meu marido nem nome, nem posteridade, sobre a terra» 14, 5-7). Uma narração duma inteligência emocional e relacional extraordinária.

A mulher convida David a ver a única perspetiva vital disponível, capaz de futuro. Convida-o a sair da lógica destrutiva das culpas e das recriminações passadas e a ver os custos e os benefícios objetivos, das ações e das reações. O filho está morto e a sua vida nunca mais voltará. Então, permitir que a lógica da vingança, toda debruçada sobre o passado, mate também um segundo filho, não significa reparar o dano, mas duplicá-lo, apagar a única “brasa” que ainda pode acender a vida. Aqui está uma mulher a explicar-nos uma das maiores verdades jurídicas e humanas da história: o perdão e a reconciliação não são apenas a escolha mais humana e religiosa que podemos fazer frente a um delito, mas são também a mais inteligente, porque a única capaz de não agravar o dano. É graças a um discurso semelhante à lógica desta mulher sagaz que, um dia, abolimos a lei de talião e a visão da pena de morte como vingança coletiva. E tornámo-nos mais humanos e inteligentes.

Como tinha acontecido com a parábola de Natan, também aqui, David desenvolve perfeitamente o exercício empático que a mulher lhe propõe (David é grande também porque sabe escutar os homens e as mulheres): «Disse ele: “Por Deus, não cairá na terra nem um só cabelo da cabeça de teu filho!”» (14, 11). Tomado narrativamente pela mão da mulher sagaz, David, agora, compreende que o bem daquela família está somente no violar a lei de talião e interromper a espiral da violência. Depois, a mulher continua, sai da história inventada para chegar diretamente ao verdadeiro objeto da sua visita: «Porque pensas, então, fazer o mesmo contra o povo de Deus? Ao pronunciar esta sentença, o rei confessa-se culpado pelo facto de não permitir o regresso do desterrado» (14, 13). Natan (cap. 12) tinha concluído a sua parábola com a frase tremenda: «Esse homem és tu». A mulher sagaz diz-lhe, agora, algo de muito semelhante: “És culpável”, porque David não está a fazer com seu filho a justiça que jurou fazer com o filho da mulher.

Depois, David percebe que, em toda esta história, está «a mão de Joab». A mulher não nega: «Foi para dar um novo rumo a esse assunto que Joab, teu servo, fez isto» (14, 20). O rei não parece perturbado pela mão de Joab nem pela perspetiva diferente que lhe deu: «O rei disse, então, a Joab: “Está decidido. Vai e traz o jovem Absalão!”» (14, 21). O objetivo de Joab foi conseguido. E a mulher sagaz desaparece, depois de nos ter dado esta página belíssima. O texto e Joab escolhem uma mulher para procurar pôr fim à violência camuflada. A Bíblia está consciente das virtudes específicas das mulheres, sabe que, na resolução dos conflitos, o olhar feminino pode ser decisivo. Vê e descreve um mundo de machos que fazem guerras, que se matam entre si e matam e violam as mulheres. Sabe que o mundo que descreve não foi capaz de reconhecer e respeitar o talento das mulheres, de as chamar pelo nome e de lhes dar direitos e dignidade – nem este relato nos revela o nome da mulher sagaz de Técua. Mas a Bíblia guarda também um seu conhecimento da mulher, do seu mistério e da sua dignidade, das suas virtudes e talentos especiais. Como que a dizer-nos: “Se tivéssemos escutado mais a sabedoria das mulheres, teríamos pecado e sofrido menos, seríamos mais humanos, teríamos tido menos violência e mais shalom. Mas, infelizmente, não conseguimos”. A história, os conflitos, as guerras são coisas diferentes, se vistas com os olhos das mulheres e das mães. Sempre foi assim. A Bíblia é imensa, também porque, num mundo dominado pelos homens, nos deixou palavras de mulheres. Obras-primas de beleza, de pietas, de humanidade, outros magnificat.

A história narrada pela mulher sagaz é semelhante à parábola da ovelhinha de Natan. Em Natan, é o status de profeta que legitima Natan a “inventar” uma história e a conferir àquela parábola uma força de verdade capaz de comover e converter David. A mulher realiza uma verdadeira encenação (veste-se de luto), uma peça teatral, uma fiction que conquista a mesma verdade da vida real. Os artistas criam, diariamente, histórias que nós sabemos ser veríssimas, mesmo se “inventadas”, porque Edmond Dantès e Gregor Samsa são verdadeiros, pelo menos como o são os nossos amigos. A mulher sagaz chega junto do rei, conta-lhe uma história não verdadeira de um filho morto, o rei percebe que aquela mulher veio ter com ele por um plano de Joab. Mas aquele relato não verdadeiro e aquela encenação não são condenados nem pelo rei, nem pelo texto. Talvez porque, simplesmente, aquele relato, na realidade, era verdadeiro, era uma parábola incarnada e viva. Foi o magistério coletivo da dor de muitas mães que fez daquela história inventada uma história verdadeira e profética. A história de mulher sagaz não foi a encenada pela trama de Joab. Foi muito mais. Só uma mulher podia contar uma história semelhante, inventada, sem dizer uma mentira. Joab tinha escrito a partitura, mas a mulher executou-a com a mesma liberdade e criatividade com que se executa um trecho de jazz. Porque se Eva, a primeira mulher, foi mãe de um fratricida, então, quando uma mulher conta a história de um fratricídio, conta sempre uma história verdadeira. Mas nunca conta uma história de morte.

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Maiores que a culpa / 25 – Qualquer história de fratricídio é, infelizmente, história verdadeira

por Luigino Bruni

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Piu grandi della colpa 25 rid«‘Ó filho de Laertes, manhosíssimo divino Ulisses, para e cessa o combate duma guerra funesta para que Júpiter, omnividente filho de Cronos, não se irrite’. Disse Atenas. Obedeceu Ulisses alegrando-se no seu coração».

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Quando se atravessam crises profundas e complicadas, o encontro com alguém que nos mostra uma outra perspetiva, pode ser o acontecimento determinante. Alguém que nos faz subir ao cimo duma colina para ver, do alto, a nossa cidade sitiada e, dali, descobrir caminhos de fuga que, quando estávamos ainda imersos na luta, não podíamos ver. Na Bíblia, quem oferece estas perspetivas diferentes são, sobretudo, os profetas e as mulheres. De facto, há uma analogia entre profecia e génio feminino. Ambos são concretos, ativam processos, falam com a palavra e com o corpo e, por instinto invencível, escolhem sempre a vida, acreditam nela e celebram-na até ao último sopro. Os profetas e as mães guardam e geram uma palavra viva, que não controlam, oferecem-lhe o corpo para que o filho-palavra se torne carne, sem se tornarem os seus donos.

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Paz é inteligência de mães

Paz é inteligência de mães

Maiores que a culpa / 25 – Qualquer história de fratricídio é, infelizmente, história verdadeira por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 08/07/2018 «‘Ó filho de Laertes, manhosíssimo divino Ulisses, para e cessa o combate duma guerra funesta para que Júpiter, omnividente filho de Cronos...
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Maiores que a culpa / 24 – O amor verdadeiro não usa violência e permanece ao lado

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 01/07/2018

Piu grandi della colpa 24 crop rid«O homem é, de verdade, um rio lamacento. É preciso ser um mar para receber um rio lamacento sem se turvar».

Friedrich Nietzsche Così parlò Zarathustra

Não deixamos aos filhos apenas o nosso património genético e, depois, o económico. Também as nossas virtudes e os nossos pecados se tornam a sua herança. Transmitem-se através dos seus olhos, com os quais, primeiro nos veem e, depois, nos imitam – a probabilidade de o filho de fumadores se tornar fumador é dupla, em relação a um filho de não fumadores. O nosso estilo de vida relacional, as virtudes e os vícios da nossa casa, a nossa generosidade e a nossa avareza, formam um DNA cultural e moral que passamos aos nossos filhos, quase sempre sem necessidade de inventário. E também quando conseguem tornar-se melhores que os nossos pecados (e, graças a Deus, muitas vezes conseguem-no), a nossa herança ética condiciona sempre e muito. Quando decidimos ceder às tentações que, com precisão, nos esperam nas encruzilhadas da vida, estamos a acumular o primeiro dote que deixaremos ao filhos e ao mundo de amanhã.

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Ainda perturbados pela violência de David para com Betsabé e Urias, e seduzidos pela força e beleza das palavras de Natan, voltamos a página e encontramos um episódio análogo. Numa cena tremenda e admirável, cujos protagonistas principais são Amnon, o primogénito de David, e Tamar, filha de David, mas nascida de uma outra mulher (Aínoam) – se não fosse uma palavra feia, diríamos que Tamar era a meia irmã de Amnon: «Amnon, outro filho de David, tinha-se enamorado de Tamar. Cresceu tanto esta paixão por sua irmã Tamar que ficou doente» (2 Samuel 13, 1-2). Amnon está enamorado a ponto de adoecer de amor. Também ele, como o seu pai, é atraído por uma mulher, também ela «muito bonita» e proibida. Aqui, porém, Amnon conhece muito bem Tamar e a sua tentação é cultivada por uma irmã mais pequena, com um nome e uma história.

Tamar é fortemente desejada mas é inatingível porque é virgem e, portanto, mantida longe dos machos da casa, numa habitação separada: «Pois Tamar era virgem e parecia-lhe impossível fazer com ela alguma coisa» (13, 2). Diferentemente de Betsabé, que era casada, a impossibilidade de Amnon é mais prática que jurídica. A solução é encontrada por seu primo Jonadab, «um homem muito esperto: «Aquele disse a Amnon: “Ó príncipe, porque andas cada dia mais abatido? Porque não te abres comigo?” Respondeu-lhe Amnon: “É que eu amo Tamar, irmã de meu irmão Absalão”. Jonadab disse-lhe: “Deita-te na cama e finge-te doente. Quando teu pai te vier ver, dir-lhe-ás: ‘Permite que minha irmã Tamar me traga de comer e prepare a comida diante de mim, a fim de que eu a veja e coma da sua mão’”» (13, 4-5).

O texto não questiona explicitamente a proibição ou o tabu do incesto (naquele tempo, não era condenado em Israel: veja-se o casamento entre Abraão e Sara: Génesis 20, 12). O delito de Amnon será o de um homem em relação a uma mulher, que vai muito para além do (já muito grave) pecado do incesto. O seu gesto não teria perdido gravidade se Tamar tivesse sido simplesmente uma rapariga de casa, sem ligações de sangue. Amnon comporta-se de modo malvado não tanto e nem só enquanto irmão, mas enquanto homem e macho – mesmo se o facto de Tamar ser irmã da Absalão ser um elemento decisivo para as consequências políticas daquela ação.

David satisfaz o desejo do filho de receber o alimento das mãos de Tamar e manda dizer-lhe: «Vai a casa de teu irmão Amnon e prepara-lhe alguma coisa de comer» (13, 7). Tamar aceita ir e levar as filhoses ao irmão (o seu alimento preferido, do coração); confia nele, ignorando que a comida desejada era ela. Este seu ir confiante revivem-no muitas irmãs e raparigas de casa que, ingenuamente e com pureza, entram nos quartos dos machos e, por vezes, não saem mais. Tamar chega junto do seu irmão doente: «Tomou farinha, amassou-a, preparou as filhoses à vista dele e fritou-as. Depois, tomou a sertã, despejou-a num prato e pô-lo diante dele» (13,8-9). Até aqui, estamos dentro duma cena familiar, que vemos repetir-se muitas vezes, também nas nossas casas. Mas surge uma viragem narrativa: «Amnon não quis comer e disse: “Manda sair toda a gente daqui”». Todos saíram. Então Amnon disse a Tamar: «Traz a comida ao meu quarto, para que eu a coma da tua mão». Tamar toma as filhoses que tinha feito e levou-as a seu irmão Amnon, que estava no quarto. Mas quando lhe apresentou o prato, este segurou-a, dizendo: “Vem, deita-te comigo, minha irmã!”» (13, 9-11). A emboscada acontece: «Ela respondeu: “Não, meu irmão, não me violentes, pois isto não se faz em Israel. Não cometas semelhante infâmia!”» (13, 12). Isto não se faz em Israel; estas coisas não se devem fazer sobre a terra.

Amnon, o primeiro filho de David, faz a sua entrada na Bíblia, logo após o adultério de seu pai e continua o mesmo delito. David usou a força para se apoderar de Betsabé; o seu filho recorre à confiança entre irmãos para obter os mesmos resultados. A dizer-nos que a intimidade entre próximos, que era a coisa mais bonita sobre a terra, era um espaço que pode ser preenchido pela ternura e pelo respeito, mas também pela violência e pelo abuso de poder. Não é a aproximação a tornar-nos próximos – recorda-no-lo o bom samaritano –, nem é suficiente abrir a porta de casa para ser hospitaleiros. Também nas esferas mais íntimas existem tentações inscritas nas relações de força. E a sabedoria das famílias e das comunidades está em saber ver estas possíveis tentações e, assim, proteger a parte débil – uma sabedoria que faltou na casa de David e que, muitas vezes, falta nas nossas.

A rapariga encontra-se numa ratoeira; faz, primeiro, recurso à compaixão («meu irmão»), depois, à razão: «Onde poderia ir eu com a minha vergonha? E tu serás um dos homens mais infames em Israel! Melhor será que fales ao rei; ele não recusará entregar-me a ti» (13, 13). Recorda-lhe também a sua condição de príncipe e a possibilidade de a poder ter legitimamente do seu pai («ele não recusará entregar-me a ti»: um outro elemento que recorda a não centralidade do crime do incesto na história). Mas Amnon não escuta nem o coração nem a cabeça, porque não lhe interessa ter uma relação com uma pessoa nos modos e tempos da vida verdadeira. Quer comer o seu alimento diferente de que estava faminto e quer comê-lo imediatamente. E, assim, perpetra o seu delito: «como era mais forte que ela, violentou-a, dormindo com ela» (13, 14). Uma outra lápide que a Bíblia ergue, para que nós possamos recordar. Uma outra vítima, uma outra mulher, usada como objeto para satisfazer paixões erradas dos machos poderosos. Uma outra hóspede devorada, por um outro Polifemo. Numa outra caverna.

Em seguida, com uma fineza psicológica surpreendente, o texto sofre uma forte torção narrativa: «Logo a seguir, Amnon sentiu por ela uma aversão mais violenta do que o amor que antes lhe tivera. Disse-lhe Amnon: “Levanta-te e vai-te daqui”» (13, 15). A reação de Amnon revela os seus verdadeiros sentimentos. Não estava enamorado por Tamar, estava apenas atraído sensualmente pelo seu corpo. Era tudo e apenas eros, sem philia e, sobretudo, sem ágape. E quando o eros não é acompanhado pelas suas duas irmãs, torna-se egoísmo perfeito. Como uma fera, come a carne da presa enquanto não estiver saciado e, depois, foge da carcaça. Amnon comporta-se como quem, depois da relação sexual mercenária, escapa com a camisa ainda desabotoada, do quarto de um hotel, ou faz sair, a correr, a mulher, meio despida, do carro escuro. Porque não é o eros, mas a intimidade da amizade que mantem o macho ao lado da mulher depois da consumação do ato sexual. Somos distintos do chimpanzé e dos leões quando aprendemos a ficar ao lado das mulheres depois de ter satisfeito os nossos apetites e, depois, as ajudamos a criar os nossos filhos – se não se sabe estar ao lado, depois do eros, não se saberá sequer ficar junto de um berço nas vigílias e, no fim, não se saberá estar nas últimas, infinitas, noites. Somente um amor maior que o eros nos ensinará a permanecer.

Amnon expulsa Tamar porque não a amava nem como mulher, nem como irmã, nem como pessoa: «Não! Pois o ultraje que me farias, expulsando-me, seria ainda mais grave do que aquilo que acabas de me fazer!» (13, 16). Uma frase tremenda e belíssima, que nos escancara o coração de muitas mulheres violadas e expulsas que, diferentemente de Tamar, não têm fôlego para falar e permanecem num choro mudo – a Bíblia continua a dar-nos palavras quando as nossas são estranguladas pela demasiada dor. Na Bíblia e na vida, a segunda dor da rejeição soma-se à primeira da violência e multiplica-a – mas qual é o tamanho do coração das mulheres?

«Ele, porém, não lhe deu ouvidos; chamou o seu servo e disse-lhe: “Põe-na fora daqui e fecha a porta”» (13, 16-17). Isso mesmo: os carniceiros nunca chamam a vítima pelo nome; pronunciá-lo poderia criar uma ferida na alma onde se poderia insinuar um sopro de humanidade. Chamam-lhes “migrantes económicos”, não Mustafá, Joe, Maria, porque talvez depois os pudessem salvar.

A Bíblia não só chama Tamar pelo nome, como tinha chamado Agar, Dina, Ana; vê-a também na sua veste: «trazia uma túnica comprida» (13, 18). Uma veste colorida, o bonito vestido das jovens princesas. Uma veste com as mangas compridas, como a que José usava, quando foi vendido pelos outros irmãos. José saiu da sua cisterna, deixou o quarto onde sofreu violência e tornou-se a salvação, primeiro dos seus hóspedes egípcios e, depois, também dos seus irmãos. Tamar, pelo contrário, não foi salva por ninguém. Após esta violência, deixa a Bíblia e não voltará: «Tamar cobriu a cabeça de cinza, rasgou a túnica e deitando as mãos à cabeça, afastou-se aos gritos» (13, 19). Tamar rasga a sua veste de mangas compridas. Deita cinza na cabeça e começa um luto que nunca acabará. Torna-se viúva sem nunca ter sido esposa. A partir daquele dia, Tamar não deixou de gritar. Nós podemos não escutar o seu grito e esquecê-lo; mas também podemos decidir acolhê-lo e nunca deixar de o ouvir, para o poder reconhecer no das muitas irmãs de Tamar.

Como ela, princesas lindíssimas; como ela, com a veste rasgada; que, com ela, continuam a gritar ao longo dos nossos caminhos.

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Maiores que a culpa / 24 – O amor verdadeiro não usa violência e permanece ao lado

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 01/07/2018

Piu grandi della colpa 24 crop rid«O homem é, de verdade, um rio lamacento. É preciso ser um mar para receber um rio lamacento sem se turvar».

Friedrich Nietzsche Così parlò Zarathustra

Não deixamos aos filhos apenas o nosso património genético e, depois, o económico. Também as nossas virtudes e os nossos pecados se tornam a sua herança. Transmitem-se através dos seus olhos, com os quais, primeiro nos veem e, depois, nos imitam – a probabilidade de o filho de fumadores se tornar fumador é dupla, em relação a um filho de não fumadores. O nosso estilo de vida relacional, as virtudes e os vícios da nossa casa, a nossa generosidade e a nossa avareza, formam um DNA cultural e moral que passamos aos nossos filhos, quase sempre sem necessidade de inventário. E também quando conseguem tornar-se melhores que os nossos pecados (e, graças a Deus, muitas vezes conseguem-no), a nossa herança ética condiciona sempre e muito. Quando decidimos ceder às tentações que, com precisão, nos esperam nas encruzilhadas da vida, estamos a acumular o primeiro dote que deixaremos ao filhos e ao mundo de amanhã.

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O coração infinito das mulheres

O coração infinito das mulheres

Maiores que a culpa / 24 – O amor verdadeiro não usa violência e permanece ao lado por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 01/07/2018 «O homem é, de verdade, um rio lamacento. É preciso ser um mar para receber um rio lamacento sem se turvar». Friedrich Nietzsche Così parlò Zarathustra ...
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Maiores que a culpa / 23 – A história humana não é um brinquedo de Deus

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 24/06/2018

Piu grandi della colpa 23 rid«Não fazemos mais que ensinar obras de sangue, as quais, logo que ensinadas, acabam por punir o mestre. Esta justiça da mão imparcial coloca nos nossos próprios lábios a mistura do nosso cálice envenenado».

William Shakespeare, Macbeth

Não basta não ser vistos para sermos inocentes. As grandes civilizações antigas produziram as suas leis e normas éticas sob o olhar de olhos mais altos que eles. Nós, hoje, enfeitiçados pela ética do encontro, renunciámos a este olhar “do alto”, substituindo-o por milhões de olhos que nos controlam e espiam, continuamente, a partir “de baixo”. Mas, quando introduzimos, no nosso mundo, olhos não-humanos mais baixos que os nossos, ou são os olhos dos ídolos ou os dos nossos artefactos, que não nos sabem fazer ver os anjos e o paraíso. Este olhar mais alto e diferente dizia, entre outras coisas, que o mal e os pecados que fazemos, agem também quando permanecem secretos.

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Foi assim que algumas civilizações – e, entre elas, a ocidental – superaram a arcaica ética da vergonha, onde prémios e punições eram externas ao indivíduo. Este olhar, alto e profundo, permeia também toda a Bíblia, enche-lhe a paisagem e marca o horizonte do seu humanismo. Também nos diz que as nossas ações podem ficar escondidas, mas não podem ser apagadas, porque a vida é uma coisa tremendamente séria. Sem sentir a presença de um olhar que nos vê “no segredo”, qualquer moral é imperfeita e exposta aos abusos dos poderosos, que têm muitos mais quartos secretos que os pobres.

Urias, o hitita, foi morto no campo de batalha, porque o rei David esperava poder apagar o seu adultério, eliminando o marido da mulher formosa que tinha “tomado”, juntando-a à comunidade das suas mulheres e concubinas. «Ao saber da morte de seu marido, a mulher de Urias chorou-o. Terminados os dias de luto, David mandou-a buscar e recolheu-a em sua casa» (2 Samuel 11, 26-27). O texto de Samuel não nos diz se Betsabé, mulher de Urias, sabia do plano de David nem se, ao menos, o tinha pressentido – os planos perversos dos seus homens não escapam ao talento das mulheres, mesmo que o não digam. Talvez pela própria dor. Na terra, há um repertório invisível que guarda os infinitos delitos que nunca chegam aos livros de história nem às atas dos tribunais. Fragmentos vivos deste arquivo invisível, mas realíssimo, encontram-se escondidos no coração de muitas mulheres que foram objeto ou espetadoras destes delitos secretos. Quando o delito de David já parecia arquivado e esquecido, YHWH reabre, para nós, a causa: «O Senhor enviou então Natan a David» (12, 1). Com as palavras de Natan, travamos conhecimento com um género literário – a parábola – que será uma nota dominante e belíssima dos evangelhos. «Logo que entrou no palácio, Natan disse-lhe: “Dois homens viviam na mesma cidade, um rico e outro pobre. O rico tinha ovelhas e bois em grande quantidade; o pobre, porém, tinha apenas uma ovelha pequenina, que comprara. Criara-a, e ela crescera junto dele e dos seus filhos, comendo do seu pão, bebendo do seu copo e dormindo no seu seio; era para ele como uma filha. Certo dia, chegou um hóspede a casa do homem rico, o qual não quis tocar nas suas ovelhas nem nos seus bois para preparar o banquete e dar de comer ao hóspede que chegara; mas foi apoderar-se da ovelhinha do pobre e preparou-a para o seu hóspede”» (12, 1-4).

Uma parábola espetacular, cheia de humanidade e de emoção, onde a tensão moral do relato revela claramente a vítima e o carrasco, e produz no ouvinte a condenação pelo comportamento malvado do homem rico. Também David entra na parábola, executa perfeitamente o exercício empático que Natan lhe oferece: «David, indignado contra tal homem, disse a Natan: “Pelo Deus vivo! O homem que fez isso merece a morte. Pagará quatro vezes o valor da ovelha”» (12, 5-6). Estamos perante um episódio que nos revela a força extraordinária da narração, sobretudo da grande e profética. A literatura, a arte, a música, os contos de fadas, os filmes têm a capacidade de formar e exercitar os nossos músculos morais através da imaginação e da empatia. Quando, verdadeiramente, lemos um romance, entramos num cinema, repetimos, de algum modo, o encontro entre Natan e David. Também nós, como David, continuamos a cometer delitos e pecados e, depois, num livro ou num filme, condenamos os carrascos das histórias que revivemos. Alinhamos pelo lado da vítima, condenamos os seus assassinos, não nos identificamos com a parte amaldiçoada da história. Talvez porque, em nós, há um lugar profundo que não ama nem aceita as coisas más que fazemos. Queremos esquecê-las e, talvez, durante a duração de um romance ou de um filme, consegue esquecê-las verdadeiramente – talvez a arte seja um dom do céu para nos fazer entrar em sintonia com a alma mais bonita do nosso coração, pôr-nos em contacto com a “imagem e semelhança de Eloim” que Caim, o fratricida, não consegue apagar. Talvez a alegria de paraíso, que conseguimos experimentar apenas diante de certas obras de arte, nasça do contacto com o Adão que habita no nosso éden, que se alimenta da árvore de vida. Depois, comemos o fruto proibido, matamos Abel e um rapaz por causa de uma pisadela” (Lamec), mas o chamamento do Adão interior permanece vivo e forte, antes e depois das nossas maldades que, quase sempre, são inocentes. É apenas a perceção desta inocência profunda que nos faz comover verdadeiramente quando vemos um filme sobre a dor dos imigrantes e das suas crianças, mesmo se, antes do filme, tenhamos votado num partido que alimenta aqueles sofrimentos. E, depois do filme, continuamos a votar nele. Que nos faz indignar perante os adultérios dos outros, enquanto continuamos a repetir os nossos.

O diálogo entre Natan e David não termina aqui. No fim da parábola e depois da frase de indignação de David, Natan disse uma das frases mais bonitas e tremendas de toda a Bíblia: «Esse homem és tu!» (12, 7). E, aqui, temos de parar, para não perder toda esta beleza dilacerante. E, depois, sentir na nossa carne a dor por não haver, à saída dos nossos filmes, um profeta que nos diga “aquele homem és tu” e, ao dizê-lo, nos oferecer uma possibilidade de ressurgir. Só um profeta verdadeiro pode dizer a um poderoso uma frase semelhante. Natan sabia bem que, revelar ao rei estar ao corrente do seu delito, podia levar à sua eliminação. Mas não renunciou a desempenhar a sua missão e assim, deu a David a única possibilidade boa que lhe restava: «Pequei contra o Senhor» (12, 13). A salvação de David, na Bíblia, depende também da sua reação frente à parábola de Natan. Podemos esperar não perder a nossa alma enquanto, depois dos nossos delitos e pecados, reencontrarmos ainda um coração maior que as nossas culpas – as prisões estão cheias de assassinos que salvaram esta inocência. A esperança morre quando adaptamos os nossos sentimentos às nossas ações malvadas, quando nos convencemos que não há nada de mal nos adultérios, nas mentiras, na violência. Depois, Natan continua: «O Senhor perdoou o teu pecado. Não morrerás» (12, 13). O perdão atua em David (não morrerá). Mas nem o perdão de Deus pode evitar que a ação delituosa de David produza os seus efeitos: «jamais se afastará a espada da tua casa… E morrerá certamente o filho que te nasceu» (12, 10.14)

Este anúncio tremendo da morte da criança nascida do adultério incorpora muitas mensagens. Entre estas, há também a teologia retributiva, muito presente no Antigo e no Novo Testamento, que lê aquela morte inocente como o “preço” que David deve pagar a Deus para obter o seu perdão. Não deixemos estas mensagens aos devotos das teologias comerciais, de ontem e de hoje, e trabalhemos para encontrar significados mais à altura dos homens, das crianças e de Deus. Nem todas as páginas da Bíblia podem ser inscritas no livro da vida, mas muitas poderão ser, se as lermos sem a preocupação moralista de defender Deus (que não tem necessidade da nossa defesa) e, pelo contrário, procuramos defender os homens e as vítimas – a Bíblia tem uma necessidade extrema de leitores não rufias, capazes de a libertar da ideologia do seu redator e das muitas outras que, durante milénios, se acumularam no texto. A palavra bíblica é excedente em relação ao texto literário que a contém e, para permanecer viva, tem necessidade do nosso trabalho honesto. Porque, se é verdade que nós temos necessidade do olhar de Deus, também a sua palavra tem necessidade do nosso.

Com aquela morte inocente e com a profecia da espada sobre a casa de David, a Bíblia também nos mostra a tremenda seriedade e o valor infinito das nossas ações e das nossas palavras, que não são vanitas e vento, porque estão vivas e, por isso, conservam os sinais com que as gravamos. Há também a dor infinita da condenação à morte deste menino anónimo dentro da dignidade e verdade das ações humanas que a Bíblia guardou para nós, e fê-lo com um preço altíssimo. Se o perdão de Deus a David tivesse apagado todas as consequências do seu delito, o humanismo bíblico teria perdido um grau de liberdade e ter-se-ia afastado da nossa vida verdadeira, onde as feridas de ontem continuam a condicionar a vida de hoje e de amanhã. A palavra bíblica, um dia, torna-se carne num rebento do próprio tronco de David porque, diversa mas verdadeiramente, já se tinha tornado carne muitas outras vezes, dentro das dores e dos amores do povo de Israel – e continua a tornar-se carne nas nossas dores e nos nossos amores. Um dia, crescendo, poderei perdoar, se conseguir, a quem matou o meu pai, mas este perdão não apaga a dor e as consequências de ter crescido sem o pai, nem poderá preencher o vazio no coração da minha mãe, que é infinito. Posso perdoar-te, e faço-o de verdade, porque traíste o pacto que nos ligava em sociedade, mas ninguém pode apagar a dor provocada aos trabalhadores que perderam o trabalho por causa da tua traição. Ninguém – nem Deus, diz-nos a Bíblia. Porque se Deus exercesse a sua omnipotência para apagar não só a nossa culpa, mas também os efeitos das nossas ações, nunca sairíamos dos filmes e dos romances, e confundi-los-íamos com a vida. A história não é um brinquedo de Deus, não é um dispositivo que pode desmontar e voltar a montar a seu prazer. Estas operações sabem-nas fazer apenas os ídolos, porque a eles não interessa a nossa liberdade e dignidade. O corpo ressuscitado conserva as chagas da paixão e conserva-as para sempre, porque aquelas chagas eram verdadeiras. Verdadeiras e vivas como as nossas, que permanecem inscritas, para sempre, nas nossas ressurreições.

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Maiores que a culpa / 23 – A história humana não é um brinquedo de Deus

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 24/06/2018

Piu grandi della colpa 23 rid«Não fazemos mais que ensinar obras de sangue, as quais, logo que ensinadas, acabam por punir o mestre. Esta justiça da mão imparcial coloca nos nossos próprios lábios a mistura do nosso cálice envenenado».

William Shakespeare, Macbeth

Não basta não ser vistos para sermos inocentes. As grandes civilizações antigas produziram as suas leis e normas éticas sob o olhar de olhos mais altos que eles. Nós, hoje, enfeitiçados pela ética do encontro, renunciámos a este olhar “do alto”, substituindo-o por milhões de olhos que nos controlam e espiam, continuamente, a partir “de baixo”. Mas, quando introduzimos, no nosso mundo, olhos não-humanos mais baixos que os nossos, ou são os olhos dos ídolos ou os dos nossos artefactos, que não nos sabem fazer ver os anjos e o paraíso. Este olhar mais alto e diferente dizia, entre outras coisas, que o mal e os pecados que fazemos, agem também quando permanecem secretos.

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O registo invisível da dor

O registo invisível da dor

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Maiores que a culpa / 22 – Os rostos a re-conhecer e a ignorância providencial

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 17/06/2018

Piu grandi della colpa 22 rid«Emma deixou cair a folha. A sua primeira impressão foi de dor de barriga e dos joelhos; depois de culpa cega, de irrealidade, de frio, de temor; depois, desejaria já estar no dia seguinte. Compreendeu imediatamente que aquele desejo era inútil, porque a morte do seu pai era a única coisa que tinha acontecido no mundo e que continuaria a acontecer, sem parar».

J.L. Borges Emma Zunz

O nome do outro é sempre uma palavra plural e sinfónica. Para reconhecer uma pessoa, portanto, temos de ver e acolher a sua rica multiplicidade. A primeira ferida infligida na vítima é a negação, pelo menos uma vez, da sua personalidade. Vemos chegar, do mar, Myriam, com um véu na cabeça chamamo-la “muçulmana”. Não reparamos que tem um namorado, que é enfermeira, que é vegetariana, pacifista, que é pintora e que gosta de poesia. Assim, começamos a profanar a sua dignidade, não a conhecemos porque não a reconhecemos. Depois, vemos Joana que usa um véu diferente, dizemos que é “freira”. Não nos interessa que é uma biblista e que, antes de entrar no convento, era professora de história, que toca órgão muito bem e que é presidente duma ONG. E, assim, vemos apenas a freira e impedimo-la de nos dizer que também é uma mulher. Sempre que uma pessoa é reduzida a uma única dimensão, estamos no início de uma história de violência.

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«Uma tarde David levantou-se da cama, pôs-se a passear no terraço do seu palácio e avistou dali uma mulher que tomava banho e que era muito formosa» (2 Samuel 11, 2). O incipit deste relato, fascinante e entre os mais tremendos da Bíblia, é denominado pelo adjetivo formosa. A mulher é notada pelo rei pela sua beleza que, para David, se torna a única dimensão que conta.

David que, provavelmente, já conhecia aquela mulher, porque mulher de um dos seus principais oficiais, vê-a, e não a reconhece: «David procurou saber quem era aquela mulher e disseram-lhe que era Betsabé, filha de Eliam, mulher de Urias, o hitita» (11, 3). E decide consumir aquela coisa formosa. O pecado de David – e os nossos – não começa quando fica impressionado com aquela grande beleza, nem quando é estremecido nas suas entranhas. O pecado realiza-se quando decide mandar os seus servos para a trazerem. Passa um período de tempo entre a emoção de David e a sua escolha, suficiente para fazer daquela ação uma escolha intencional e, portanto, responsável. Não é um raptus. David decide ceder à tentação. O problema moral das tentações (grande palavra, hoje, totalmente esquecida) não está na sua existência, em senti-la na carne e no coração. A responsabilidade ética começa quando decidimos o que fazer do “material tentador” que encontramos dentro de nós. David decide comer o fruto proibido e, aí, peca.

O texto não diz nada do modo como Betsabé reagiu, quando se viu diante de David. Não sabemos se gritou, se sofreu violência ou se, pelo contrário, consentiu – embora não tenham faltado e não faltem os comentadores que insinuam uma cumplicidade de Betsabé ao banhar-se onde podia ser vista: culpabilizar as vítimas e as mulheres, para as tornar (co)responsáveis das suas desventuras, é um estratégia antiga para absolver os carnífices.
David manda «trazer» a mulher como se manda buscar uma mercadoria para consumir e satisfazer necessidades. Saber que Betsabé era uma mulher casada não teve qualquer consequência no seu comportamento. Os verdadeiros poderosos são assim: transformam imediatamente os desejos em ações, porque não veem obstáculos entre o querer e o obter. A verdadeira tentação dos poderosos é sentirem-se omnipotentes – mas também é neste delírio de omnipotência que começa o deu declínio. Porém, os “preços” entram em ação quando algo se complica depois dos factos: «Estou grávida» mandou Betsabé dizer a David (11, 5).

Diferentemente dos automóveis e dos relógios, os seres humanos estão vivos. Os poderosos podem abusar deles e usá-los, e fazem-no frequentemente. Mas a vida é uma coisa muito séria e tem uma misteriosa liberdade e incontrolabilidade. Os pecados atingem e ferem realidades vivas e, por isso, simultaneamente fragilíssimas e fortíssimas. Os poderosos e, frequentemente, também nós, quando fazemos mal a alguém que não reconhecemos e humilhamos, que usamos como um produto de consumo, quereremos que, depois que o fogo da concupiscência consumiu as suas vítimas, não fique nenhum vestígio daqueles desejos e ações erradas. Mas a vida é maior que os desiderata dos poderosos, mesmo o dos reis. E continua, gera os seus frutos, tem o seu percurso natural. Esta força da vida é, frequentemente, a única defesa do pobre, que só tem o seu corpo e o seu ser vivo para falar. Eis porque a única palavra que o texto, nesta cena tremenda, coloca na boca de Betsabé é “estou grávida”, a única palavra eficaz que consegue dizer.

Os pobres mostram que estão vivos falando com o seu corpo, com as suas feridas, com as crianças no ventre das mulheres. A vida e o corpo conhecem uma misteriosa liberdade que, por vezes, consegue obter até a obediência dos poderosos. O ventre de Betsabé fez David tomar consciência que aquela coisa «formosa» era uma pessoa e, por isso, estava viva. E a Bíblia sabe que a grande tentação que experimentamos, perante uma vida que não obedece à nossa vontade de domínio, é matá-la.

Como já tinha acontecido muitas vezes, quando se tinha encontrado em apuros, David é genial em encontrar, imediatamente, caminhos de fuga. A primeira é a mais óbvia e mais simples, muito comum em histórias parecidas: «Então, David mandou esta mensagem a Joab: “Manda-me Urias, o hitita”. (…) David disse-lhe: «Desce à tua casa e lava os teus pés”» (11, 6-8). David procura regularizar a gravidez de Betsabé com um encontro conjugal ex-post. Mas eis que surge um segundo imprevisto que atrapalha aquela cobertura: «Urias não foi a sua casa e dormiu à porta do palácio» (11, 9). David insiste, indaga as razões daquela estranha não-descida a casa: «Urias respondeu: “A Arca de Deus habita numa tenda, assim como Israel e Judá, (…) e eu teria coragem de entrar na minha casa para comer e beber e dormir com a minha mulher? Pela tua vida, pela tua própria vida, não farei tal coisa!”» (11, 10-11).

A fidelidade de Urias a David torna-se o principal problema do rei. A fidelidade genuína possui um mecanismo de autoproteção contra a manipulação. Não podemos usar a fidelidade das pessoas com quem vivemos para proteger as virtudes e também para esconder os pecados. Está justamente aqui a diferença entre fidelidade verdadeira e a falsa fidelidade rufia. A fidelidade verdadeira não é a dupla face. Nunca será um amigo verdadeiro a cobrir as nossas traições conjugais, e, se o faz, está a começar a trair-nos, tornando-se um “amigo” que protege os nossos vícios, já não as nossas virtudes. Neste episódio, Urias, o hitita, um emigrante de segunda geração (Urias é um nome hebreu lindíssimo: “YHWH é a minha luz”), que trabalha ao serviço de um povo, que não é o seu, vai ao encontro do seu triste destino por uma fidelidade leal a um rei estrangeiro. O seu maior ato de lealdade torna-se a causa da sua morte deslealíssima.

De facto, dado o seu duplo fracasso de cobertura (11, 13), «David escreveu uma carta a Joab e enviou-lha por Urias. Dizia nela: “Coloca Urias na frente, onde o combate for mais aceso, e não o socorras, para que ele seja ferido e morra”» (11, 14-15). Aqui, apaga-se a estrela de David. Deixa de brilhar e desce a noite sobre Jerusalém. David, como Caim que fere o seu irmão inocente e manso «no campo»; David, filho de Abraão que mata um descendente dos hititas que tinham vendido ao patriarca a terra para sepultar a sua mulher Sara (Génesis 23) – continuam as guerras civis e os fratricídios da Bíblia, para recordar as nossas (e para além das nossas) tentativas vãs de cobertura.

Urias dirige-se para o campo de batalha, levando na mão a decisão de sua execução. É muito forte e trágico imaginar este soldado, estrangeiro de origem e súbdito leal, ir, ignorante, ao encontro da sua morte, com uma mensagem que contém o seu triste destino, escrito pela mão daquele a quem tinha jurado fidelidade e dedicação. Urias podia pensar que aquela carta contivesse um louvor pela fidelidade mostrada ao rei, mas, em vez disso, continha a sua condenação. Talvez a terá olhado e voltado a olhar com orgulho e comoção, imaginando muitas vezes, no coração, o seu conteúdo.

Muitas pessoas, todos os dias, são portadoras de mensagens parecidas a esta de Urias e, como ele, não o sabem. Gastamos fielmente a vida numa empresa e, um dia, aquela ação que vivemos como o auge da nossa fidelidade provoca o nosso despedimento, entregando-nos uma carta que pensamos ser a nossa promoção. Denunciamos, publicamente, uma violência mafiosa, por lealdade para connosco próprios, com os nossos filhos e as instituições e, aí começa o nosso calvário na solidão vulnerável mais profunda, escrita justamente nas costas da medalha de mérito civil. Dizemos uma verdade incómoda, porque leal, a um amigo e perdemo-lo para sempre, e o cartão de agradecimento torna-se a carta de despedida. Dedicamos os melhores anos da nossa vida para fazer crescer honestamente um filho e no dia em que, finalmente, o geramos para a verdadeira liberdade, ele a usa para se perder e extraviar-se: lemos o Evangelho; também o esperamos, à porta de casa, durante anos, mas o nosso filho não volta. Algumas destas cartas nunca as abrimos e, apenas com esta ignorância providencial, fomos capazes de continuar o caminho que vai do palácio do rei ao campo de batalha. Também nós olhamos, com orgulho, estas cartas, comovemo-nos e, depois, continuamos a caminhar para o nosso destino, quase sempre ignorantes. E, como Urias, combatemos as nossas últimas batalhas com a mesma lealdade de sempre, e, talvez, com um entusiasmo maior, encorajados pela carta que entregámos.

A última fidelidade de Urias, o hitita, foi não abrir a carta, não quebrar o selo e, assim, combater com orgulho a sua última batalha. Não é bom abrir todas as cartas que a vida nos mete nas mãos. Sobretudo, as decisivas, não destinadas a nós. Nós apenas as devemos entregar, mesmo se muitas foram escritas e recebidas por quem não nos amava. A Bíblia abriu a carta de Urias, o hitita, e, agora, está a lê-la para nós, para sustentar os nossos caminhos com as cartas fechadas nas mãos. E, sobretudo, a dizer-nos que há, pelo menos, uma carta escrita por alguém que nos ama, e é a mais importante. Essa carta somos nós, uma carta viva que, terminado o caminho, entregaremos em boas mãos, sem a ter lido ao longo do caminho.

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Maiores que a culpa / 22 – Os rostos a re-conhecer e a ignorância providencial

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 17/06/2018

Piu grandi della colpa 22 rid«Emma deixou cair a folha. A sua primeira impressão foi de dor de barriga e dos joelhos; depois de culpa cega, de irrealidade, de frio, de temor; depois, desejaria já estar no dia seguinte. Compreendeu imediatamente que aquele desejo era inútil, porque a morte do seu pai era a única coisa que tinha acontecido no mundo e que continuaria a acontecer, sem parar».

J.L. Borges Emma Zunz

O nome do outro é sempre uma palavra plural e sinfónica. Para reconhecer uma pessoa, portanto, temos de ver e acolher a sua rica multiplicidade. A primeira ferida infligida na vítima é a negação, pelo menos uma vez, da sua personalidade. Vemos chegar, do mar, Myriam, com um véu na cabeça chamamo-la “muçulmana”. Não reparamos que tem um namorado, que é enfermeira, que é vegetariana, pacifista, que é pintora e que gosta de poesia. Assim, começamos a profanar a sua dignidade, não a conhecemos porque não a reconhecemos. Depois, vemos Joana que usa um véu diferente, dizemos que é “freira”. Não nos interessa que é uma biblista e que, antes de entrar no convento, era professora de história, que toca órgão muito bem e que é presidente duma ONG. E, assim, vemos apenas a freira e impedimo-la de nos dizer que também é uma mulher. Sempre que uma pessoa é reduzida a uma única dimensão, estamos no início de uma história de violência.

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A carta a não ler

A carta a não ler

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Maiores que a culpa / 21 – Não há retórica que sustente: toda a guerra é fratricídio

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 10/06/2018

Piu grandi della colpa 21 rid«Rabi Pinchas disse: “Quem diz que as palavras dos Ensinamentos são uma coisa e as palavras do mundo são outra, será chamado um negador de Deus”»

Martin Buber Storie e leggende chassidiche  [Histórias e lendas hassídicas]

Quando era criança, na minha terra, para dizer pessoa humana dizia-se cristão (melhor cristià, em dialeto de Ascoli). Durante muito tempo, pensei que “cristão” fosse o nome dos seres humanos. Não a ouvia como uma palavra religiosa e a maior parte da minha gente usava-a, sem saber que aquele termo tão comum tinha nascido da religião. Os cristãos eram os homens, as cristãs eram as mulheres.

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Quando um desconhecido batia à nossa porta, antes de nos falar, sabíamos já o seu nome: era um cristão – “é nu cristià”, dizia o meu avô. Mais tarde, aprendi que cristãos era o nome com o qual os homens e as mulheres, seguidores de Jesus, foram chamados em Antioquia. Cristãos os bons, cristãos os maus (“aquele é um mau cristão”), cristãos os sãos, cristãos os inválidos. Então, os cristãos são os moabitas e os arameus, cristão também o filho de Jónatas “aleijado de ambos os pés” – “chega um pobre cristão”, teriam dito os nossos avós se o tivessem visto chegar, marchando no caminho de casa: disseram-no muitas vezes, durante as guerras. Foram necessários muitos séculos de história, de amor e de dor, para que, na Europa, cristão se tornasse sinónimo de homem. Hoje, esquecemo-lo, também porque existiram as guerras entre cristãos e os campos de concentração a fazê-lo esquecer, a nós e aos outros. Mas será também porque terão reaprendido a reconhecer as vítimas que chegam às nossas cidades e às portas das nossas casas e saberão acolhê-los como cristãos se, nas Antioquias de amanhã os cristãos forem chamados homens.

«O Senhor fazia com que David triunfasse em todas as expedições que empreendia» (2 Samuel 8, 14). Quando uma nova classe de dirigentes alcança o poder, uma operação muito comum, porque muito simples, para se legitimar eticamente consiste em desacreditar a classe política derrotada, através da construção ideológica do passado. A Bíblia conhece muito bem esta técnica retórica e usa-a muitas vezes, dada a importância que, naquele humanismo, tem a leitura da história da perspetiva de Deus. O sucesso militar de David é um exemplo conhecido e relevante desta técnica narrativa. São trechos construídos pela arte de uma mão hábil em usar antigos materiais para criar o “mito” político de David e de Israel. É a apoteose da religião económico-retributiva, que lê os sucessos como bênção divina e as derrotas (dos outros) como maldição. Hoje, nós sabemos que a ascensão de David ao trono foi, pelo contrário, muito mais controversa e ambivalente que quanto o autor dos livros de Samuel nos quer contar. Na realidade, David saiu vencedor ao cabo de uma dura e longa guerra civil contra Saul e os seus filhos. Muitos dos materiais diferentes e fora desta linha foram eliminados ou alterados, mas alguns sobreviveram, frequentemente a despeito do autor – os grandes livros são-no porque souberam resistir às manipulações e aos narcisismos dos seus autores. Mas, na Bíblia, juntamente às ideologias dos seus autores, graças a Deus, também lá estamos nós, e devemos lá estar.

Sabemos que os povos conquistados e transformados em servos e súbditos, eram povos livre que, por causa de David, perderam a sua liberdade e também podemos e devemos ler aquelas histórias na sua perspetiva. Visto com os seus olhos, David aparecia-lhes como os Assírios e os Babilónios apareceriam, séculos depois, a Israel: potências inimigas imperialistas, que matam homens, mulheres, crianças, animais, que destroem a economia, templos e a identidade nacional, que deportam para o exílio. Porém, nós não somos justificados e perdoados se continuarmos a ler aqueles factos com a mesma ideologia do escritor das vitórias de David. Pelo contrário, devemos lutar com o autor bíblico, para o ajudar a libertar-se da sua ideologia. E, se o tentarmos, dar-nos-emos conta que esta luta já está presente em toda a Bíblia. Também a encontramos ao longo dos Livros de Samuel que, desde o início, denunciam profeticamente os males e as corruções da monarquia que o povo deseja ardentemente (I Samuel 8, 13) e, depois, louvam teologicamente essa monarquia e o seu herói, David. A Bíblia torna-se geradora e anti-ideológica enquanto somos capazes de ler, em leitura sinótica, o Cântico dos Cânticos e Job, Qohélet e Daniel, Paulo e Tiago – mesmo que possamos e devamos exprimir as nossas preferências éticas. No entanto, fica em aberto (pelo menos) uma pergunta: porque é que o redator final destes capítulos, escritos depois da conquista por Babilónia, da destruição do templo, do exílio que, graças aos profetas tinha aprendido a acreditar num Deus verdadeiro e derrotado, que tinha compreendido que a verdade não coincide com o sucesso, nos mostra ainda uma história de David marcada pela ideologia da vitória e do poder militar como bênção? Não é fácil responder a esta pergunta que atravessa grande parte da Bíblia. Procuraremos fazê-lo, um pouco de cada vez, quando contarmos os fracassos de David e da sua descendência. Para já, podemos e devemos usar estes capítulos políticos e ideológicos para fazer um exercício moral e espiritual precioso. Ler que «David também derrotou os moabitas; mandou deitá-los por terra e mediu-os com uma corda: dois terços foram para a morte e uma terça parte, para a vida» (8, 2). E, depois, na mesma Bíblia, ler que Rute era moabita e que, na genealogia de Jesus de Nazaré está escrito: «Booz gerou, de Rute, Obed; Obed gerou Jessé; Jessé gerou o rei David (…) Maria, gerou Jesus» (Mt 1). Continuar, depois, a leitura e, enquanto descobrimos que «David mata vinte e dois mil arameus» (8, 5), voltar, com o coração, à oração do arameu errante, de Moisés, a Raquel e Lia, filhas de um arameu, o povo que falava o aramaico, a língua em que foi pronunciado o Pai Nosso. Depois, parar, honrar o luto por estes mortos e por estas liberdades perdidas às mãos de David, sentir na nossa carne a dor porque o arameu já não pode correr livre.

Então, destas complicadas gestas de David, podemos aprender algo de muito importante, que não estava na intenção do autor, mas que deve ser a nossa: todas as guerras de que nos fala a Bíblia, são guerras fratricidas. Caim continua a agir e, disfarçado de David, ainda mata o seu irmão. A Bíblia, se lida nesta perspetiva, diz-nos que as nossas guerras que, nos nossos ateísmos, continuamos ainda a ler como guerras sagradas e bênçãos divinas, são todas guerras fratricidas, porque cada homicídio é um fratricídio. David, com aquela corda estava a medir o madeiro da cruz. Ele não podia sabê-lo, mas nós sabemo-lo e, pela misteriosa, mas real, reciprocidade da Bíblia, devemos recordar-lho, devemos recordá-lo. Recordar-nos que, quando ocupamos um País e matamos homens, mulheres, crianças, animais, estamos a matar Benjamim e José, os filhos de Raquel, a arameia, estamos a matar os filhos de Rute, a moabita e o filho de Maria. Só com estes sentimentos, podemos fazer uma boa e responsável leitura das façanhas de David.

«Disse David: “Terá ficado alguém da casa de Saul, a quem eu possa tratar com a bondade de Deus?”. Ciba [um servo da casa de Saul] respondeu ao rei: “Vive ainda um filho de Jónatas, paralítico de ambos os pés”» (9, 1-3). David está no auge da sua ascensão política. Desbaratou todos os seus inimigos, internos e externos, e reina sobre um império que vai do Eufrates ao Nilo. Mas é justamente no auge do seu sucesso que começam a prever-se os sinais do seu declínio. Também para David chegará a lei do “pôr-do-sol ao meio dia”.

A gestão da sua sucessão é um sinal que diz que a trajetória de David começa a mudar de rumo, a assumir a forma de uma parábola. O texto dá-nos alguns elementos sobre a relação entre o rei e um sobrevivente da casa de Saul. É um episódio muito bonito e humano. Não temos elementos suficientes para compreender bem as razões que impeliram David a informar-se sobre a existência daquele filho do seu amigo, muitos anos depois da morte de Jonatas (na altura, Mefiboset tinha cinco anos; agora, é homem adulto). O que impressiona é a semelhança entre a pergunta de David («que eu possa tratar com a bondade de Deus») e a pergunta dirigida por Herodes aos Reis Magos, que «queria honrar o novo rei». É o resto do relato a sugerir, no mínimo, a ambivalência das motivações de David. Mefiboset chegou à corte, «prostrou-se com o rosto por terra. David disse-lhe: «Mefiboset!» Ele respondeu: «Aqui me tens, senhor, para te servir». David disse-lhe: «Não tenhas receio. Quero fazer-te bem, por amor de Jónatas, teu pai. Restituir-te-ei todos os bens de Saul, teu avô, e comerás sempre à minha mesa”» (9, 6-87).

Uma descrição muito reduzida. É muito provável que David estivesse a gerir sentimentos contrastantes. O antigo pacto de amizade com Jónatas levaria a ler a restituição das terras de Saul àquele seu neto como um ato de generosidade e de honra para o filho de seu grande amigo. O temor de Mefiboset, a quem David e os seus homens tinham exterminado a família, e a resposta que dá a David («Quem é o teu servo, para que dês atenção a um cão morto como eu?» (9, 8), oferecem, por seu lado, considerações que não alinham com as nobres palavras de David. Mas o que torna mais difícil sustentar a não-ambivalência de David é aquele «comerás sempre à minha mesa». Qual o sentido deste pedido? É a ambivalência de David e de todo o poder: querer permanecer fiel aos pactos com os amigos, mas também ter sob controlo os potenciais inimigos para a sucessão ao trono. Mefiboset será obrigado a ficar na corte de David, numa gaiola de oiro, aleijado e afastado do seu único filho: «Mefiboset tinha um filho menor chamado Mica… Mas Mefiboset vivia em Jerusalém, porque comia todos os dias à mesa do rei; era paralítico de ambos os pés» (9, 12-13).

David não sabia que os moabitas, os arameus eram “cristãos”, como não sabia que também Mefiboset, paralítico de ambos os pés, era “cristão”. Nós, porém, sabemo-lo e devemos recordá-lo a David, que “não gostava dos cegos e dos coxos”. Enquanto continuamos a crescer por e com ela, temos de devolver à Bíblia os seus personagens, enriquecidos pelo nosso dote de humanidade. Descer pela Bíblia, até ao fundo, chegar a Sara e repreendê-la pelo modo como trata Agar; indignar-nos pela bênção que Jacob tira a Esaú; segurar a mão de Abraão antes que chegue o cordeiro e o carneiro; desesperar-nos com Jacob e Raquel porque os seus “filhos já não existem” e, depois irritar-nos com Deus porque não responde a Job com palavras à altura das suas perguntas tremendas, porque humaníssimas. Continuar a gritar “porquê?”, com o Filho na cruz e há dois mil anos a esperar que nos responda.

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por Luigino Bruni

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Piu grandi della colpa 21 rid«Rabi Pinchas disse: “Quem diz que as palavras dos Ensinamentos são uma coisa e as palavras do mundo são outra, será chamado um negador de Deus”»

Martin Buber Storie e leggende chassidiche  [Histórias e lendas hassídicas]

Quando era criança, na minha terra, para dizer pessoa humana dizia-se cristão (melhor cristià, em dialeto de Ascoli). Durante muito tempo, pensei que “cristão” fosse o nome dos seres humanos. Não a ouvia como uma palavra religiosa e a maior parte da minha gente usava-a, sem saber que aquele termo tão comum tinha nascido da religião. Os cristãos eram os homens, as cristãs eram as mulheres.

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Cristãos, isto é, homens e irmãos

Cristãos, isto é, homens e irmãos

Maiores que a culpa / 21 – Não há retórica que sustente: toda a guerra é fratricídio por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 10/06/2018 «Rabi Pinchas disse: “Quem diz que as palavras dos Ensinamentos são uma coisa e as palavras do mundo são outra, será chamado um negador de Deus”» Marti...
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Maiores que a culpa / 20 – O humanismo bíblico é uma infinita educação para a liberdade

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 03/06/2018

Piu grandi della colpa 20 rid

«Se o teu coração não quiser ceder 
Não sentir paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois»

Luisa Sobral, Amar pelos dois

Quando se procura responder a uma vocação, a existência move-se entre a recordação de uma grande libertação e a espera da realização de uma grande promessa, entre memória e esperança. Tudo se desenrola entre estas duas margens do rio e a arte de viver está em aprender a permanecer no vau, sem ceder à tentação da saudade da costa donde proviemos nem àquela que nos repete que o desembarque era apenas uma miragem. Não se é submerso pelas águas e levado pela corrente enquanto se permanecer agarrados à corda invisível que liga o Mar Vermelho ao Jordão. Também porque quando mais nos aproximamos da outra margem, mais o pedaço de corda que agarramos fica cada vez mais fina sob a nossa mão.

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David recuperou a arca e transportou-a para Jerusalém, a sua nova cidade. Assim, religou o seu reino à primeira Aliança dos antepassados, na saída do Egipto, no Sinai, e ligou o seu nome ao nome da origem. Mas um grande projeto coletivo não vive apenas a elaborar e a resgatar a memória; tem uma necessidade vital de uma nova promessa que abra o futuro, enquanto o ancora ao passado, porque nenhuma aurora é luminosa se não se antevê a chegada do meio-dia. Mas, enquanto a origem é dom e herança e, por isso, apenas a podemos acolher e receber, procurar hoje a legitimação do futuro expõe sempre ao risco da manipulação do passado para o transformar ideologicamente em depósito de um futuro que queremos construir e não esperar. Também David sente este medo e esta tentação: “Quando o rei se instalou em sua casa … disse David ao profeta Natan: «Não vês que eu moro num palácio de cedro, enquanto a Arca de Deus está abrigada numa tenda?»” (7, 1-2). A Jerusalém de David não tem um templo. Outras cidades de Israel tinham-no. David quer dar ao seu Deus uma casa na sua nova cidade. O profeta Natan, que faz, aqui, a sua aparição, responde: “Pois bem, faz o que te dita o coração, porque o Senhor está contigo!” (7, 3). Natan é profeta de corte, sabia que o Senhor estava com David e, sem interrogar diretamente YHWH, aconselha o rei a fazer quando deseja fazer. Este é um exercício ordinário da profecia, quando o profeta usa o passado e o bom senso para responder a uma pergunta sobre o presente e sobre o futuro. Mas a pergunta de David não era uma pergunta ordinária, porque tocava uma coluna da identidade do seu povo. Portanto, não podia ser suficiente a sua profissão; havia necessidade de uma epifania para compreender uma verdade mais profunda: “Mas, naquela mesma noite, o Senhor falou a Natan, dizendo-lhe: «Vai dizer ao meu servo David: Diz o Senhor: "És tu que me vais construir uma casa para Eu habitar? Desde que tirei da terra do Egipto os filhos de Israel até ao dia de hoje, não habitei em casa alguma; mas peregrinava alojado numa tenda que me servia de morada»” (7, 4-6). Mas… a palavra que YHWH dirige ao seu profeta começa com um ‘mas’. Natan é o profeta próximo de David; talvez, após a morte de Samuel, tenha ocupado o seu lugar de conselheiro profético do rei. A sua função e a sua profissão tinham-lhe sugerido, numa primeira reação, apoiar o desejo do rei. Mas Natan é um profeta verdadeiro; Ser-lhe-á revelado o resto da vida de David. E eis que dispara nele uma segunda dimensão da palavra. É-lhe sugerido – talvez em sonho – uma outra verdade, uma palavra maior e diferente da primeira. Os profetas verdadeiros são diferentes dos profetas falsos porque sabem ser portadores de duas vozes, diferentes, apesar de saírem da mesma boca. Torna-se falso profeta quando as duas vozes acabam por coincidir – o profeta faz-se deus e, frequentemente, consegue convencer os outros (e a si mesmo) de o ser verdadeiramente.

Natan, pelo contrário, distingue as duas vozes, ordena-as hierarquicamente e, no dia seguinte, tem a coragem de dizer a David o contrário de quanto tinha dito no dia anterior. Não é um profeta rufia, não tem medo de fazer má figura, mostrando-se desmentido por YHWH, nem tem medo de dizer a David coisas diferentes das que gostaria de dizer (está aqui quase toda a dificuldade do exercício de toda a profecia verdadeira). O novo oráculo diz a David (e a nós) algo de fundamental para a fé bíblica e para qualquer fé.

YHWH tinha-se revelado como uma voz, voz livre e não aprisionável. Desde o princípio, tinha assegurado a sua presença (schekhinah) no hoje do povo. Como o maná, aquela presença saciava só a fome diária e não podia ser acumulada, caso contrário apodrecia – é este o sentido da esperança bíblica e o valor da gratuidade (charis, gratia) de toda a fé-confiança. Confiamos verdadeiramente em alguém a quem estamos ligados por um pacto enquanto esperamos que, amanhã, volte novamente a casa tendo-lhe dado, hoje, a liberdade de o não fazer, sem nunca nos deixarmos de surpreender sempre que o vemos voltar. Mas, no dia em que construímos um sistema de garantias e controlo que impedem o outro de não voltar, nos regressos não-livres, aquela relação começa a morrer. O humanismo bíblico é uma infinita educação para esta liberdade, que culmina num crucificado que morre sem que quem está junto da cruz tenha garantias da sua ressurreição. Havia apenas uma grande esperança, que continua a fazer-nos ver crucificados a ressuscitar se não deixamos de frequentar os Gólgotas da nossa terra (muitos não conseguem ver as ressurreições porque perderam de vista os lugares onde ocorrem as crucifixões e onde as pedras rolam: nos “bons salões” nunca nenhum jardineiro nos chamará pelo nome).

A construção de um novo templo era a obra mais natural e mais religiosa para David; o bom senso e a sua devoção apontavam para esta única direção. Mas o Deus bíblico não é o deus do bom senso dos reis nem das religiões. A relação entre YHWH e o templo sempre foi ambivalente e problemático, expressão da ambivalência e da problemática da relação entre a Bíblia e a religião. A Bíblia gerou muitas religiões, mas o seu primeiro objetivo não é a edificação de um discurso religioso. No centro do humanismo bíblico está, pelo contrário, a fé; portanto, uma relação, coletiva ou individual, com um Deus espiritual e, por isso, diferente dos outros ídolos. E, enquanto relação, a fé bíblica é dinâmica, histórica, evolutiva, surpreendente, competitiva, contraditória. As religiões têm necessidade de templos; a Bíblia pode passar sem eles, e passou sem eles. À Bíblia interessa realçar a verdade de um Deus maior e diferente de qualquer templo e de qualquer religião. E, então, a geração que passa entre a procura de um templo de David e a sua construção por parte do seu filho Salomão, aquele vazio histórico de Israel é a linguagem com que a Bíblia quis mostrar o excedente entre o templo de Deus e o Deus do templo, a diferença entre a fé e a religião que incarna essa fé, a liberdade de YHWH em relação às casas que lhe construímos para lhe dizer qual deve ser a sua morada e o seu território por nós delimitado. Para recordar a todas as religiões do livro que aquele Deus diferente não é monopolizável, que não se pode tornar propriedade privada de um povo nem de nenhuma comunidade religiosa. Todas as violências religiosas nascem quando se esquece a existência desta ‘geração intermédia’, o tempo sem templo, a diferença entre a procura de uma casa e a resposta. A terra do templo vem, assim, a coincidir com a terra de Deus, o teto do templo torna-se a medida da liberdade de Deus e nossa. Está nesta diferença a belíssima laicidade do Deus bíblico, que prefere o ‘vaguear debaixo duma tenda’ ao cedro robusto e estável do templo. A stabitas loci não é um atributo do Deus da Bíblia – o vaguear de Deus que permite às nossas estabilidades não se tornarem prisões religiosas.
Deus, através de Natan, responde ao pedido de David: “O Senhor faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti” (7, 11). Reviravolta na história. É David, somos nós que temos necessidade de uma casa e de uma bênção. É dada a David uma bênção diferente e especial, uma promessa nova e maravilhosa: “A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre” (7, 16). Para sempre. Nesta nova promessa não há o ‘se’, que era o centro da primeira Aliança com os Patriarcas e com Moisés, onde a estrutura contratual comprometia uma parte à fidelidade com a condição de a outra parte se manter também fiel. Ora, aqui, temos, pelo contrário, um pacto incondicional por parte de Deus – “Se ele cometer alguma falta, hei de corrigi-lo com varas e com açoites, como fazem os homens, mas não lhe tirarei a minha graça,” (7, 14-15). Não tirarei.

Muitas das grandes promessas da vida são, e devem ser, recíprocas e condicionais. As famílias, as empresas, as comunidades vive, de pactos e de ‘ses’ que dão seriedade e robustez às nossas casas. Mas, se olharmos bem, descobrimos que, por detrás dos ‘ses’ e da condições das nossas alianças, estão promessas sem ses e sem condições. Um casamento é um pacto de reciprocidade que vive se cada um faz a sua parte e é fiel. O pacto nupcial não é, porém, um encontro de ‘ses’ porque se disséssemos ao outro ‘amar-te-ei para sempre se tu me amares para sempre’, sairíamos do pacto nupcial e precipitar-nos-íamos num contrato comercial. O ‘para sempre’, no momento em que é pronunciado, não conhece os ‘ses’. Há uma dimensão de liberdade incondicional como fundamento das nossas reciprocidades condicionais porque, se não existissem, os nossos pactos não seriam suficientemente robustos e livres para poder durar. Os seres humanos são maiores que a sua reciprocidade, somos mais livres que os nossos ‘ses’, sabemos amar mais que as condições que colocamos ao nosso amor. Por isso (por vezes), conseguimos não morrer quando descobrimos que o nosso ‘para sempre’ não encontrou o ‘para sempre’ do outro, os nossos pactos correram mal, não experimentamos ressurgir, mais uma vez. Ou quando continuamos a caminhar, ancorados num ‘para sempre’, mesmo que estejamos convencidos que, da outra parte, já não haja nada a colher da primeira promessa pronunciada na juventude. E, talvez, no fim, descobriremos que a corda se tinha adelgaçado tanto, a ponto de se quebrar, mas existia uma mão a recolher-nos porque, continuando a caminhar, tínhamos chegado a um passo da nova terra e não nos tínhamos apercebido.

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Maiores que a culpa / 20 – O humanismo bíblico é uma infinita educação para a liberdade

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 03/06/2018

Piu grandi della colpa 20 rid

«Se o teu coração não quiser ceder 
Não sentir paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois»

Luisa Sobral, Amar pelos dois

Quando se procura responder a uma vocação, a existência move-se entre a recordação de uma grande libertação e a espera da realização de uma grande promessa, entre memória e esperança. Tudo se desenrola entre estas duas margens do rio e a arte de viver está em aprender a permanecer no vau, sem ceder à tentação da saudade da costa donde proviemos nem àquela que nos repete que o desembarque era apenas uma miragem. Não se é submerso pelas águas e levado pela corrente enquanto se permanecer agarrados à corda invisível que liga o Mar Vermelho ao Jordão. Também porque quando mais nos aproximamos da outra margem, mais o pedaço de corda que agarramos fica cada vez mais fina sob a nossa mão.

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A esplêndida laicidade de Deus

A esplêndida laicidade de Deus

Maiores que a culpa / 20 – O humanismo bíblico é uma infinita educação para a liberdade por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 03/06/2018 «Se o teu coração não quiser ceder  Não sentir paixão, não quiser sofrer Sem fazer planos do que virá depois O meu coração pode amar pelos doi...
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Maiores que a culpa / 19 – As palavras verdadeiras dos rejeitados e rejeitadas salvam também a Deus

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 27/05/2018

Piu grandi della colpa 19 rid«Foi por graça de Deus, e não pelos seus méritos, que Noé encontrou, na arca, um abrigo da fúria avassaladora das águas. Apesar de ser melhor que os seus contemporâneos, não teria merecido que, para ele, se realizassem milagres»

Louis Ginzberg Le leggende degli ebrei

Foi a religião a inventar o homo oeconomicus, muito antes que o reinventasse a economia. O primeiro parceiro de negócios dos homens foi Deus, porque a economia dos mercados foi uma extensão da economia na esfera religiosa. As primeiras moedas que a humanidade conheceu foram cabras, carneiros, cordeiros, às vezes também crianças e virgens, com as quais os homens pagavam aos seus deuses, às vezes para lhes pagar ou, por vezes, para reduzir o débito originário pelo qual as comunidades se sentiam esmagadas.

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A Bíblia, nalguns dos seus livros (profetas, Job, Qohélet, muitos textos dos Evangelhos e de Paulo) reagiram com força a esta visão económica da fé, dos sacrifícios e do culto, fazendo tudo para manter Deus fora dos nossos comércios, para o salvar da nossa constante tentação em o manipular. Mas também na Bíblia, no Antigo e Novo Testamento e, depois, na teologia e na praxis cristã, permanecem vestígios, por vezes muito visíveis, desta ideia mercantil da religião, onde até a morte de Cristo foi lida como “pagamento” de um preço ao Pai, e onde o sofrimento – nosso e dos outros – é lido como “moeda” para pagar a um Deus nosso credor.

Um lugar onde a religião económica produziu, de verdade, muitos e graves danos é a valoração social, espiritual e ética dos pobres. Pobres eram os mendicantes, mas pobres eram também os leprosos, os cegos, os mudos, os coxos, todos unidos pelo faco de serem escórias da comunidade. Para defender a sua ideia de Deus justo, as antigas religiões económicas condenavam os pobres, que tornavam rejeitados pela vida e rejeitados por Deus. O “cego e o coxo” eram portadores de culpa e de pecado e, por isso, Deus podia continuar perfeito na sua justiça porque cada um recebia, da vida, exatamente quanto tinha merecido (por si próprio ou pelos seus pais). Riqueza duplamente abençoada; pobreza duplamente amaldiçoada – até há pouco, muitos pais segregavam, em casa ou em institutos, os filhos portadores de graves incapacidades, porque sentiam muito forte, sobre a sua família, a maldição religiosa e social por aqueles filhos diferentes. Após milénios, as civilizações humanas (nem todas ainda) estão a conseguir, finalmente, dizer que a incapacidade não é uma maldição, que a indigência material e psicofísica não um estigma, mas uma pergunta, de cuja resposta dependem a qualidade civil e moral de uma sociedade e a sua justiça mais importante. Uma conquista entre as maiores da humanidade, sempre frágil, porque a antiga ideia de pobreza-maldição mudou de formas (desemprego, falta de rendimentos, imigração…), disfarça-se e camufla-se (meritocracia), mas é cada vez mais forte a sua capacidade de convencer que a pobreza dos outros não tenha qualquer relação com a nossa riqueza “merecida” – culpabilizar as vítimas é a mais antiga e simples estratégia para negar qualquer responsabilidade nossa.

«Vieram, pois, todos os anciãos de Israel ter com o rei a Hebron. David fez com eles uma aliança diante do Senhor, e eles sagraram-no rei de Israel» (2 Samuel 5, 3). Depois da consagração de Samuel e os sete anos e meio de reino sobre Judá, David, agora, estabelece um pacto com todas as tribos e torna-se rei de Israel. Quando menino, fora escolhido e ungido, mas só agora, graças a um pacto, se torna verdadeiramente rei. As vocações nascem de um encontro pessoalíssimo com uma voz que chama pelo nome, num espaço de diálogo interior do coração onde, no princípio, não pode nem deve entrar ninguém. Ali começam e vivem as vocações, nos primeiros tempos, mas florescem plenamente se, um dia, aquele diálogo a dois gera um pato, uma experiência de reciprocidade, um compromisso público, assumido com outros homens e mulheres; se e quando aquele primeiro diálogo íntimo se torna discurso social, projeto comum, ação social, e a primeira voz nos diz para construir, com outros, uma arca, para salvar alguém. As vocações devem tornar-se pactos. Muitos chamamentos autênticos se bloqueiam e se arruínam porque ficam demasiado tempo no “primeiro diálogo”, sem conseguir tornar-se um pacto, uma aliança, um compromisso comunitário. Extinguem-se facilmente porque o pacto nasce necessariamente da morte do primeiro diálogo íntimo, e o medo da morte impede o diálogo de ressurgir em pacto. Os pactos são encontros de promessas de um futuro comum livre, não blindado pelo presente. São cada vez mais raros sobre a nossa terra, abarrotada de contratos que devoram os pactos e as alianças, porque, enganando-nos, se apresentam como “mercadorias” parecidas, oferecidas a um preço muito mais baixo que o dos pactos – dumping relacional. Juntamente ao novo reino, aparece, na história de David e Israel, um outro nome maravilhoso que, só por si, diz muitas coisas, belíssimas e tremendas, ontem e hoje: Jerusalém, que, agora, se torna a cidade de David: «O rei marchou com os seus homens para Jerusalém, contra os jebuseus, que habitavam aquela terra. Estes disseram a David: “Não entrarás aqui; serás repelido até por cegos e coxos”.
(…) David apoderou-se da fortaleza de Sião, que é a Cidade de David. David disse naquele dia: “Quem quiser atacar os jebuseus suba pelo canal e mate esses cegos e coxos, que David despreza. Daí, o ditado: ‘Nem cego nem coxo entrarão no templo’”» (5, 6-8). Um texto muito breve para conseguir explicar e fazer compreender a natureza deste ódio entre David e “os cegos e os coxos”. Quer o interpretemos como um gesto de soberba dos Jebuseus que (talvez) puseram deficientes a defender a cidade, quer o leiamos como um ato político de David que (talvez) eliminou do seu exército cegos e coxos, permanece forte e clara a mensagem de fundo: os “cegos e coxos” são os rejeitados, os refugos, os excluídos “da casa” e do templo, os não amados: «O Senhor disse a Moisés: “Nas gerações futuras, nenhum dos teus descendentes, se sofrer de alguma deficiência, poderá oferecer o pão do seu Deus… um cego ou coxo, um desfigurado ou deformado; um aleijado dos pés ou das mãos; um corcunda ou um anão, aquele que tiver uma névoa no olho ou a sarna, uma impigem ou testículos lesionados. (…) Atingido por alguma deficiência, não pode apresentar-se para oferecer o pão do seu Deus» (Levítico, 21, 16-21). Palavras duras e tremendas, que encontramos na Bíblia, juntamente a Isaías, que profetiza: «Aos eunucos (…) dar-lhes-ei, no meu templo e dentro das minhas muralhas, um monumento e um nome mais valioso que os filhos e as filhas» (Isaías 56, 4-5), juntamente às bem-aventuranças e Jesus que cura cegos e paralíticos. A Bíblia oferece-nos razões para condenar os pobres ou para os chamar bem-aventurados – e espera.

Uma das primeiras tarefas de David como rei é o transporte da Arca da Aliança para Jerusalém: «Colocaram a Arca de Deus num carro novo, tirando-a da casa de Abinadab, situada na colina. Uzá e Aío, filhos de Abinadab, conduziam o carro novo» (6, 3). Durante o transporte, Uzá toca na arca e morre subitamente (6,7) – outro episódio que mostra o tremendum do sagrado. A procissão, entre cânticos e danças, chega, finalmente, a Jerusalém. E, aqui, encontramos um episódio, narrativamente, muito belo e misterioso.

David, no entusiasmo daquela entrada com a arca, talvez também pela sua índole poética e artística, entra numa espécie de êxtase místico na dança e na música, até quase se desnudar no meio do povo. Mical, sua mulher, vê a cena da sua janela, «e sentiu desprezo por ele em seu coração» (6, 16). Depois, na intimidade da casa, fala com o seu marido: «Que bela figura fez hoje o rei de Israel, dando-se em espetáculo às servas de seus vassalos, e descobrindo-se sem pudor, como qualquer homem do povo!» (6, 20). David não aceita a repreensão conjugal e responde repreendendo-a, por seu lado: «Foi diante do Senhor que dancei, do Senhor que me escolheu e me preferiu a teu pai e a toda a tua família. (…) E bailarei ainda mais, e me aviltarei aos meus próprios olhos» (6, 21-22). A interpretação oficial deste episódio e o redator final do texto estão, claramente, do lado de David, e leem o seu comportamento como uma expressão de humildade e da sua devoção verdadeira a YHWH.

Mas, também aqui, podemos ler de modo diferente este trecho e fazer a nossa escolha narrativa e ética. A vida das famílias, as comuns e as de homens famosos e poderosos, estão cheias de muitos diálogos semelhantes a este, entre David e Mical. São muitas as mulheres que “observam da janela” os comportamentos decorosos e indecorosos dos maridos, mulheres que, em público, calam mas que, depois, sabem falar dentro de casa com uma autoridade diferente e essencial. Certas verdades dizem-se e ouvem-se só dentro de casa, só quando se tem uma família e alguém que nos vê de modo diferente e nos ama tanto a ponto de nos dizer coisas que não podem dizer-nos os nossos “súbditos”, os nossos trabalhadores, eleitores, fans. E são verdades fundamentais para poder viver bem. O decoro das mulheres não é o dos homens, os seus olhos vêm coisas diferentes que, se escutadas, contêm a salvação dos maridos. Mical apenas tinha visto algo que, do seu local de observação, não era nem belo nem bom, nem religioso nem devoto. Mas, nem o marido nem o redator do livro de Samuel que recolheu esta antiga tradição a compreenderam e condenaram-na, sem piedade: «Mical, filha de Saul, não teve mais filhos em todo o tempo que ainda viveu» (6, 22). Mical termina, assim, na grande comunidade dos rejeitados por deus e pelos homens, juntando-se ao seu pai Saul e aos seus irmãos.

Nós podemos deixá-la aí, como fez a grande parte dos comentadores deste trecho, abandonando-a nas periferias existenciais da Bíblia, na companhia dos cegos e dos coxos de David. Porém, também podemos decidir resgatá-la e, com ela, resgatar as muitas mulheres condenadas e rejeitadas pela história e pela vida, só porque disseram aos maridos e aos poderosos palavras diferentes, não rufias e mais verdadeiras que, depois, se tornaram a sua condenação e, não raramente, o seu martírio.

Não basta a Bíblia, nem sequer o Evangelho, para resgatar as vítimas e os pobres. Diz-no-lo a história. É uma necessidade essencial da nossa liberdade. Quem falha muitas vezes nas histórias da Bíblia somos nós, os seus leitores. Para poder chegar até ao quarto de Mical e dizer-lhe: “Compreendo-te”, temos de o querer e escolher. Caso contrário, paramos à porta do quarto e da Bíblia. A leitura bíblica é fecunda se se torna um exercício espiritual e moral para ver e erguer humildes e humilhados e também para salvar Deus, muitas vezes colocado à porta dos fortes e dos vencedores.

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Maiores que a culpa / 19 – As palavras verdadeiras dos rejeitados e rejeitadas salvam também a Deus

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 27/05/2018

Piu grandi della colpa 19 rid«Foi por graça de Deus, e não pelos seus méritos, que Noé encontrou, na arca, um abrigo da fúria avassaladora das águas. Apesar de ser melhor que os seus contemporâneos, não teria merecido que, para ele, se realizassem milagres»

Louis Ginzberg Le leggende degli ebrei

Foi a religião a inventar o homo oeconomicus, muito antes que o reinventasse a economia. O primeiro parceiro de negócios dos homens foi Deus, porque a economia dos mercados foi uma extensão da economia na esfera religiosa. As primeiras moedas que a humanidade conheceu foram cabras, carneiros, cordeiros, às vezes também crianças e virgens, com as quais os homens pagavam aos seus deuses, às vezes para lhes pagar ou, por vezes, para reduzir o débito originário pelo qual as comunidades se sentiam esmagadas.

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O decoro diferente das mulheres

O decoro diferente das mulheres

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Maiores que a culpa / 18 – Os carniceiros humilham, negando a dignidade do nome

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 20/05/2018

Piu grandi della colpa 18 rid«A relação Eu-Tu consiste em colocar-se frente a um ser externo, isto é, radicalmente outro, e em reconhecê-lo como tal. Este reconhecimento da alteridade não consiste em fazer uma ideia da alteridade. Não se trata de pensar o outro nem de o pensar como outro, mas de dirigir-se a ele, dizer-lhe Tu»

Emanuel Lévinas Martin Buber

O diálogo é o fio que tece as nossas relações sociais boas e fecundas. Ouvir e dizer, silêncio e palavra, frases e gestos são a gramática do recíproco atravessamento (dia) da palavra (logos). Dialogar é deixar-se atravessar pelo outro enquanto lhe pedimos autorização para se deixar atravessar pela nossa palavra. Atravessar é um verbo de movimento, que lembra tempo e espaço, lugares, nomes, carne; é sempre criação e novidade.

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Muitos possíveis diálogos necessários, começados com empenho e boa vontade, não conseguem nascer porque, quando a palavra toca a carne para a marcar, a perceção da dor bloqueia o atravessamento recíproco. Paramos, quase sempre, no limiar do diálogo verdadeiro, onde se encontram os seus semiacabados – o confronto, o gentlemen agreement, o compromisso… Na origem da civilização ocidental encontramos uma tese esplêndida e imensa, que é também uma declaração de amor que o homem faz a si mesmo: somos seres capazes de logos, de palavra, de discurso, de diálogo e, por isso, de relação. Somos uma realidade dialógica. O humanismo bíblico também nos disse que o Adão também é capaz de diálogo com Deus, que podemos ter uma relação com o absoluto, sabemos discorrer com YHWH. O homem é um ‘amigo de Deus’ (Abraão), fala-nos ‘face a face’ (Moisés), porque não só o homem, mas também o Deus bíblico é capaz de diálogo. Jeremias, Isaías, Agar, Ana, Maria mostraram-se como pessoas guiadas por uma voz, com a qual entram em diálogo. Dialogar é sempre uma aprendizagem recíproca, é uma con-criação. Então, se é verdade que a humanidade aprendeu e aprende muito, dialogando com Deus, deve ser também verdade que Deus aprendeu e continua a aprender alguma coisa a dialogar com o homem e com as mulheres. Aprendeu e aprende o que, na verdade, são o mundo, a dor e o amor, enquanto nós melhoramos esse mundo com o nosso trabalho, enquanto nos enamoramos, sofremos, somos fiéis e infiéis, morremos e ressurgimos muitas vezes. Deus mudou para sempre a história humana ressuscitando o seu filho, e nós sabemos que muda porque não pode ficar indiferente quando assiste, ao vivo, às nossas ressurreições e às dos nossos filhos.

Também David é um homem que dialoga com Deus: “Depois disto, David consultou o Senhor, dizendo: «Posso ir a alguma das cidades de Judá?» Respondeu o Senhor: «Podes.» David perguntou: «A qual irei?» A resposta foi: «A Hebron.» David pôs-se a caminho de Hebron com suas duas mulheres, Aínoam, de Jezrael, e Abigaíl” (2 Samuel 2, 1-2). David faz perguntas a Deus, que responde. Não sabemos como David dialogava com YHWH. Mas seríamos tolos se deixássemos o género literário ensombrar a beleza e a verdade destes diálogos distantes. Em Hebron, David é ungido rei: “Os homens de Judá foram lá e ungiram David como rei de Judá” (2, 4). David torna-se rei local, e grande parte de Israel permanece ainda nas mãos da família de Saul. Abner, o comandante do exército de Saul, pessoa de grande carisma e poder, tinha feito com que Isboset, um dos filhos de Saul, se tornasse rei: “Isboset, filho de Saul, tinha quarenta anos quando se tornou rei de Israel e reinou durante dois anos. Porém, a casa de Judá seguiu David” (2, 10).

Em seguida, David dirige-se aos habitantes de Jabés de Guilead, que tinham sepultado dignamente Saul: “David soube, então, que os homens de Jabés em Guilead haviam sepultado Saul. David mandou-lhes mensageiros, dizendo: «Abençoados sejais pelo Senhor, por terdes feito esta obra de misericórdia para com o vosso senhor Saul, sepultando-o. Que o Senhor, por sua vez, se mostre bom e fiel para convosco; eu também vos farei bem por esta ação que realizastes” (2, 4-6).

O reconhecimento é duplamente transitivo: aqueles habitantes tinham sido reconhecidos para com Saul; agora, David é reconhecido para com eles e pede a Deus que seja reconhecido, dando àqueles cidadãos ‘amor e fidelidade’. Os nossos filhos serão, amanhã, reconhecidos para com os outros e para connosco, se hoje o somos para com os outros e para com os nossos pais, porque o reconhecimento é a primeira herança que se transmite de pai para filho. Esta forma de transmissão horizontal (entre homens e entre gerações) é o lado luminosos da lei de retribuição vertical que atravessa a Bíblia (as nossas desventuras e as nossas riquezas são punições e prémio de Deus), que Jesus procurou superar definitivamente – sem sucesso, se pensamos que a meritocracia não é mais que a secularização daquela antiga teologia.

Estes primeiros capítulos do segundo livro de Samuel mostram-nos uma verdadeira guerra civil e fratricida entre David e a dinastia de Saul. Sucedem-se hediondos homicídios, traições, vinganças, que têm como principal fim dizer-nos que David, o novo rei, não sobe ao trono nem como usurpador nem como assassino dos seus inimigos. Os seus rivais principais (Isboset e Abner) são mortos por homens de David sem o seu conhecimento e contra a sua vontade (capítulos 3 e 4). De facto, como tinha acontecido com a morte de Saul e de Jónatas, David chora, jejua e celebra o luto quer pela morte de Isboset quer pela de Abner. O texto descreve-nos uma escalada de violência camuflada (René Girard), onde as retaliações e as vinganças se tornam a nova lei. A guerra civil terminará com a vitória de David e uma sua nova unção como rei de todo o Israel, em Jerusalém, a sua nova cidade e capital do reino.

Dentro do relato desta guerra civil, encontramos quadros narrativos breves, mas esplêndidos, que não nos podem deixar indiferentes.
O primeiro está relacionado com Abner, comandante do exército, que tinha “tomado” uma concubina de Saul. Isboset, o novo rei, diz-lhe: “Porque te aproximaste da concubina de meu pai?” E Abner dá-lhe uma resposta que nos introduz, imediatamente, numa dimensão péssima do poder, de todos os tempos: “Sou, porventura, algum cão de Judá? Até hoje, tenho agido com lealdade para com a casa de Saul, para com o teu pai, os seus irmãos e amigos, livrando-vos de cair nas mãos de David; e vens tu agora acusar-me de crime com esta mulher?” (3, 8). Tremendo. Passaram-se três mil anos, mas ainda encontramos esta frase viva e atual, com toda a sua infinita violência, nos lugares do poder dos homens, onde as relações com as mulheres são, muitas vezes, consideradas ‘questões’ irrelevantes, loucuras, ‘coisas’ desprezíveis, se comparadas às coisas sérias da política, da economia e do poder. A Bíblia, pelo contrário, olha para esta mulher, dá-lhe um nome e, portanto, reconhece-a. Aquela mulher chama-se Rispa. É a Bíblia a chamá-la pelo nome, não Abner, para quem ela é apenas uma ‘coisa’ a ‘tomar’, nem o rei, que a chama ‘uma concubina’. Não é Sara a dizer-nos, no Génesis, o nome da serva e do seu filho que ela expulsou para o deserto: é o autor bíblico a dizer-nos que se chamavam ‘Agar’ e ‘Ismael’. Os poderosos e os carrascos começam por humilhar as suas vítimas, negando-lhes a dignidade do nome, porque chamá-las pelo nome significaria reconhecê-las como pessoas. Reencontraremos Rispa no capítulo 21, num dos episódios mais dramáticos e humanos de toda a literatura antiga.

Um segundo quadro está encaixado na oferta de aliança/traição que Abner faz a David, prometendo entregar-lhe todo o Israel. David, como pré-condição de aliança com ele, diz a Abner: “Restitui-me a minha mulher, Mical, com a qual casei em virtude de ter circuncidado cem filisteus” (3, 14). Não sabemos porque é que David pede de volta a sua primeira mulher, Mical, filha de Saul. Apenas sabemos que, depois da fuga de David, Mical fora dada pelo pai a um outro marido: Paltiel. O pedido de David é executado e o rei “ordenou que a tirassem a seu marido, Paltiel” (3, 15). Muito forte é a reação do marido: “com lágrimas, a acompanhou até Baurim. Ao chegar ali, disse-lhe Abner: «Volta para tua casa.» E ele voltou” (3, 16). A Bíblia consegue fazer-nos ver este marido que segue, a pé e em lágrimas, a caravana da mulher, como o mesmo desespero com se segue o carro com a urna de uma mulher E, com isto, quer dizer-nos algo acerca da piedosa condição de um homem, de um macho, de um marido que, mesmo que só por um momento, atenua a impiedade das ações dos outros homens desta história – David incluído.

Por fim, encontramos um terceiro pormenor no capítulo que descreve a morte do rei Isboset: “Jónatas, filho de Saul, tinha um filho paralítico dos dois pés. Quando tinha cinco anos, chegou de Jezrael a notícia da morte de Saul e de Jónatas. Então, a sua ama fugiu com ele e, na precipitação da fuga, o menino caiu e ficou coxo. Chamava-se Mefiboset” (4, 4). Um relato que nos diz mais alguma coisa sobre Jónatas, o amigo de David, e quão grande e coletiva foi a dor por aquela morte. Um menino de cinco anos, coxo, em que revimos tantos meninos estropiados pelas guerras que ainda agora, três mil anos depois, continuam a estropiar, sobretudo, as crianças, a humilhar as mulheres que, mesmo quando conseguem fugir com os filhos nos braços, nem sempre conseguem evitar que as maldades dos adultos estropiem as suas crianças.

O escritor não podia poupar-nos a narração das violências daquela guerra civil. Porém, podia omitir estes pequenos pormenores narrativos, podia evitar falar-nos de Rispa e de Paltiel – como fizeram os Livros das Crónicas, que relatam os mesmos episódios, mas sem Rispa, Paltiel, Mefiboset. Todavia, aquele antigo escritor quis deixá-los, deu-nos os seus nomes e, assim, erigiu novas lápides às vítimas inocentes de todas as violências.

A Bíblia é um livro maravilhoso, por muitas razões, mas é-o, sobretudo, porque é um cofre que guarda as lágrimas dos pobres e dos rejeitados, muitas vezes escondidas nos interstícios dos grandes relatos, quase sempre ausentes nas nossas liturgias. E talvez seja bom que continuem escondidas, porque a dor das vítimas e dos pequenos é muito preciosa e deve permanecer em segredo, para a proteger.

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Maiores que a culpa / 18 – Os carniceiros humilham, negando a dignidade do nome

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 20/05/2018

Piu grandi della colpa 18 rid«A relação Eu-Tu consiste em colocar-se frente a um ser externo, isto é, radicalmente outro, e em reconhecê-lo como tal. Este reconhecimento da alteridade não consiste em fazer uma ideia da alteridade. Não se trata de pensar o outro nem de o pensar como outro, mas de dirigir-se a ele, dizer-lhe Tu»

Emanuel Lévinas Martin Buber

O diálogo é o fio que tece as nossas relações sociais boas e fecundas. Ouvir e dizer, silêncio e palavra, frases e gestos são a gramática do recíproco atravessamento (dia) da palavra (logos). Dialogar é deixar-se atravessar pelo outro enquanto lhe pedimos autorização para se deixar atravessar pela nossa palavra. Atravessar é um verbo de movimento, que lembra tempo e espaço, lugares, nomes, carne; é sempre criação e novidade.

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Como lápide dos inocentes

Como lápide dos inocentes

Maiores que a culpa / 18 – Os carniceiros humilham, negando a dignidade do nome por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 20/05/2018 «A relação Eu-Tu consiste em colocar-se frente a um ser externo, isto é, radicalmente outro, e em reconhecê-lo como tal. Este reconhecimento da alteridade n...