O exílio e a promessa

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O exílio e a promessa / 15 – A palavra pode fazer-nos entrever decifrar Deus e, ainda antes, as mulheres e os homens

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 17/02/2019

À frente de todos está Deus, senhor do céu. Isto, todos o sabem. Depois, vem o príncipe Torlonia, senhor da terra. Depois, vêm os guardas do príncipe. Depois, vêm os cães dos guardas do príncipe. Depois, nada. Depois, mais nada. Depois, vêm os saloios. E pode dizer-se que acabou.

Ignazio Silone, Fontamara

Paternidade, filiação e matrimónio são imagens presentes em muitas religiões, para exprimir a relação entre os povos e as suas divindades. Também a Bíblia as conhece, mas usa-as com muita parcimónia. Porque a urgência de marcar a diferença entre YHWH e os ídolos gerou uma grande desconfiança em relação às imagens humanas para poder falar de Deus. O Cristianismo, depois, gerou talvez a maior inovação religiosa quando nos mostrou um homem-Deus que chamava YHWH com o nome Abbá: papá. Mas cairíamos no mesmo erro dos cananeus e dos caldeus se pensássemos que a paternidade de Deus, mostrada por Jesus Cristo, seja uma cópia da paternidade humana. Apenas se assemelha. Como nós nos assemelhamos a Deus, de quem somos “imagem e semelhança”; uma fórmula que mostra aproximação e distância, ambas máximas. Muitas doenças religiosas desenvolveram-se por uma distância demasiado grande que anulou a proximidade; outras, por uma excessiva proximidade que fez de Deus algo de tão parecido connosco a ponto de o tornar banal ou inútil.

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Ezequiel habituou-nos a uma linguagem que não tem medo de atravessar também o território perigosos das metáforas sexuais para nos falar de Deus: "Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: “Filho de homem, havia duas mulheres, filhas da mesma mãe. Elas prostituíram-se durante o tempo da sua juventude, no Egipto. Lá, foram tocados os seus peitos e acariciado o seu seio virginal. Eis os seus nomes: Oola, a mais velha, e Ooliba, sua irmã. Elas eram minhas e deram à luz filhos e filhas. Eis os seus nomes: Samaria é Oola, Jerusalém é Ooliba”» (Ezequiel 23, 1-4).

Oseias e Jeremias já tinham introduzido metáforas sexuais. O próprio Ezequiel (cap. 16) tinha descrito a história de infidelidade do povo em relação ao seu Deus, recorrendo à imagem da donzela, vista e escolhida quando era jovem e pobre e, mais tarde, pervertida em prostituta. Aqui, porém, Ezequiel ousa quase o impensável: já não a mulher escolhida desde jovem e que, depois, se estraga, mas duas mulheres quando já eram prostitutas. Não lemos apenas que YHWH desposa (“eram minhas”) duas mulheres, recorrendo, assim, à imagem do matrimónio poligâmico que era proibido aos hebreus (Lev 18, 18); mas YHWH desposa, em contrato poligâmico, duas irmãs prostitutas, um facto enorme e surpreendente, um unicum em toda a literatura bíblica. Além das interpretações das motivações da radicalidade deste capítulo de Ezequiel, a parábola do matrimónio entre YHWH e as duas prostitutas diz-nos muito, deve falar-nos muito.

Antes de mais, recorda-nos mais uma vez que Israel não teve nenhum receio de reconstruir e transmitir uma história pouco gloriosa e, às vezes, até vergonhosa. Especialmente os profetas – e, entre estes, sobretudo os que viveram e profetizaram no período do exílio (Jeremias, o Segundo Isaías e Ezequiel – tiveram a força espiritual de contar a história do povo despida de qualquer ideologia triunfalista e nacionalista. Foram implacáveis, não emendaram nenhuma página negra e escandalosa do seu passado (e presente). E, assim, o salvaram e continuam a salvar-nos a nós que, hoje, os lemos, nos nossos exílios e tragédias. “A verdade liberta”, é um pilar de todo o humanismo bíblico, sobretudo dos profetas.

Quando, num exílio ou nas vésperas de uma grande tragédia, nas comunidades, alguém se encontra com uma missão profética, consegue salvar verdadeiramente o seu povo se resiste à tentação de apagar ou reescrever os trechos menos edificantes do passado, a fim de interpretar ideologicamente o presente. Os falsos profetas, para vender cenários presentes e futuros melhores, têm absoluta necessidade de emendar e trair o passado, porque são incapazes de ler os paraísos dentro dos infernos, a aurora no anoitecer, o ocaso no meio-dia. Os profetas-não-falsos, pelo contrário, fazem exatamente o contrário. Enquanto dizem “esta história acabou”, sabem dizer: “mas… a história não acabou”. Enquanto repetem: “fizemos coisas tremendas, escandalosas e loucas”, conseguem acrescentar: “mas… salvar-se-á um resto e ainda fará coisas boas e fiéis”. Enquanto recordam: “somos teimosos e inconvertíveis”, dizem-nos: “ mas YHWH é fiel e permanece fiel”.

E nós não devemos cometer o erro de pensar que os profetas são dominados por um pessimismo antropológico, porque recordam sempre os pecados do povo. Isto seria apenas uma leitura superficial e errada. Eles cantam a beleza do homem, mesmo quando veem e denunciam toda a sua miséria. A positividade e a confiança infinita que os profetas têm para com Deus tornam-se, imediatamente, positividade e confiança para com o homem. Falando-nos bem de Deus, falam-nos bem de nós, mesmo quando nos falam só de infidelidades e de traições. É esta a força extraordinária da categoria da aliança bíblica e das alianças verdadeiras entre nós. Enquanto alguém segura bem uma ponta da corda, bem firme sobre a rocha (quem está mais firme que YHWH?), se estamos ligados na mesma, não nos precipitamos no abismo. A Bíblia mostra-nos este trilho milenar, feito com os nossos deslizamentos, continuamente salvos por alguém que não desistiu e que continua a não desistir. A força da mensagem bíblica está toda nesta tenacidade; e os profetas não nos amam porque nos escondem os nossos (e seus) deslizamentos, mas porque nos asseguram que, lá em cima, no lado mais alto da rocha, bem firme nas suas bordas, está alguém que segura a corda também para nós. Alguém de quem somos “imagem e semelhança” e, então, somos capazes, também nós, de segurar, às vezes durante toda a vida, uma corda para salvar alguém, para salvar, pelo menos, um. Esta frase, estupenda e temerária, escrita no primeiro capítulo do Génesis – “E Eloim criou o homem à sua imagem e semelhança” – é o fio que segura, juntas, teologia e antropologia, que nos permite alargar aos homens as coisas estupendas que a Lei e os profetas dizem de Deus. Um laço entre céu e terra, que impedirá, para sempre, de amaldiçoar o homem enquanto alguém continuar a bendizer a Deus, que reverterá sobre os homens cada salmo a Ele dirigido.

Por fim, este capítulo deve gerar um pensamento sobre as mulheres e sobre as vítimas que encontramos na Bíblia. A Bíblia foi escrita (talvez) apenas por homens e mesmo se uma mão de mulher tenha dado algum toque, não foi a mão dominante. Porém, estes homens foram capazes de escrever páginas extraordinárias sobre mulheres e sobre o seu génio (encontrámos algumas, no comentário ao livro de Samuel). Mas, agora, lendo esta parábola das duas irmãs prostitutas, escolhidas como imagem e símbolo de perversão de Israel de Judá, é difícil não pensar nas muitas palavras más sobre mulheres que encontramos na Bíblia, que nos interrogam e nos põem em crise.

Em qualquer tempo, inclusive no de Ezequiel, as prostitutas – as profanas e as sagradas dos templos cananeus e babilónicos – eram as vítimas de um mundo de machos e de poderosos que as gerava, a fim de satisfazer as suas necessidades e vícios. Teria sido muito mais fiel ao lado histórico, se Ezequiel tivesse utilizado a imagem dos homens infiéis que traíam as suas esposas com outras mulheres obrigadas, pela vida, pela pobreza e por homens, a prostituírem-se. Em vez disso, o profeta descreve-nos a vida, o vestuário, o comércio e as punições de prostitutas babilónicas, que terá visto, todos os dias, ao longo das ruas. E um redator posterior, menos profético e mais moralista que Ezequiel, foge da metáfora para lançar diretamente um aviso às mulheres do seu povo: «Todas as mulheres aprenderão esta lição e não imitarão a vossa má conduta» (23, 48). Não nos devemos espantar; a Bíblia foi sempre objeto de operações manipulativas; é esta uma grande inevitável vulnerabilidade de todo o grande texto – ainda hoje, existem comentadores que utilizam a parábola dos talentos de Mateus, contada certamente não para nos falar de economia e de finança, para uma sacralização a meritocracia e do espírito do capitalismo.

Como podemos e devemos ler, agora, estas passagens, onde as vítimas são erguidas como ícones de pecado e perversão? É certo que não podemos pedir muito à Bíblia, no plano social e antropológico, esquecendo o contexto cultural em que aqueles textos foram ditos e escritos. Mas também não devemos pedir-lhe demasiado pouco e, assim, atravessar estes capítulos sem ver nem “tocar” as vítimas que encontramos. Ezequiel podia fazê-lo e ficar inocente. Nós, não: temos que dizer de que lado queremos estar ao ler as histórias da Bíblia, se queremos que ela permaneça entre as coisas vivas da terra e do nosso coração.

E, enquanto lemos as punições que YHWH infligirá às prostitutas pela sua infidelidade – «Cortar-te-ão o nariz e as orelhas e o que ainda restar será cortado ao fio da espada. Tomarão os teus filhos e filhas e o que restar será devorado pelo fogo» (23, 25) – podemos e devemos pensar nas mutilações e nas cicatrizes dos rostos que os homens babilónicos realizavam no corpo das mulheres e que muitos homens continuam ainda a realizar. Depois, repetir: “nunca mais”, e, depois, esforçarmo-nos para que o exercício feito na leitura bíblica se torne, imediatamente, exercício civilizado e ético. Quem sabe quantos redentores e redentoras de mulheres e homens violentados desceram às estradas depois de ter lido, com a sua carne, uma página bíblica; e, ali, no encontro verdadeiro com as vítimas, encontram apenas inocência e dor infinita. A força da palavra está nesta capacidade de mudar o olhar, de nos fazer ver Deus de modo diferente e, ainda antes, de nos fazer ver de modo diferente as mulheres e os homens. É uma educação dos olhos da alma, que nos torna capazes de repetir, nos vários encontros, dentro e fora da Bíblia: “E olhando-o, amou-o”.

Nestes anos de comentário à Bíblia, estou a aprender a ver e a olhar as suas vítimas. Quando as encontro, abrando, recolho-me, paro. Para olhá-las, para estar com elas, para me fazer tocar e enriquecer e, depois, desejar libertá-las do seu inferno.

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O exílio e a promessa / 15 – A palavra pode fazer-nos entrever decifrar Deus e, ainda antes, as mulheres e os homens

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 17/02/2019

À frente de todos está Deus, senhor do céu. Isto, todos o sabem. Depois, vem o príncipe Torlonia, senhor da terra. Depois, vêm os guardas do príncipe. Depois, vêm os cães dos guardas do príncipe. Depois, nada. Depois, mais nada. Depois, vêm os saloios. E pode dizer-se que acabou.

Ignazio Silone, Fontamara

Paternidade, filiação e matrimónio são imagens presentes em muitas religiões, para exprimir a relação entre os povos e as suas divindades. Também a Bíblia as conhece, mas usa-as com muita parcimónia. Porque a urgência de marcar a diferença entre YHWH e os ídolos gerou uma grande desconfiança em relação às imagens humanas para poder falar de Deus. O Cristianismo, depois, gerou talvez a maior inovação religiosa quando nos mostrou um homem-Deus que chamava YHWH com o nome Abbá: papá. Mas cairíamos no mesmo erro dos cananeus e dos caldeus se pensássemos que a paternidade de Deus, mostrada por Jesus Cristo, seja uma cópia da paternidade humana. Apenas se assemelha. Como nós nos assemelhamos a Deus, de quem somos “imagem e semelhança”; uma fórmula que mostra aproximação e distância, ambas máximas. Muitas doenças religiosas desenvolveram-se por uma distância demasiado grande que anulou a proximidade; outras, por uma excessiva proximidade que fez de Deus algo de tão parecido connosco a ponto de o tornar banal ou inútil.

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Aprender a parar e a ver

Aprender a parar e a ver

O exílio e a promessa / 15 – A palavra pode fazer-nos entrever decifrar Deus e, ainda antes, as mulheres e os homens por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 17/02/2019 À frente de todos está Deus, senhor do céu. Isto, todos o sabem. Depois, vem o príncipe Torlonia, senhor da terra. Depo...
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O exílio e a promessa / 14 – Uma outra mão, não a nossa, fechará, pela última vez, os nossos olhos

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 10/02/2019

«Também quando a alma está angustiada, também quando nenhuma oração consegue sair da garganta, na dor, o puro repouso silencioso do Shabbat leva-nos ao reino de uma paz sem fim. A eternidade indica um dia. Shabbat».

A.J. Heschel, O Shabbat

As desordens morais são expressão das desordens espirituais. A ética é segunda. Por detrás de uma maldade para com outro, esconde-se um mal-estar mais radical e mais profundo dentro da alma. Ofender e ultrajar o nome do outro são filhos de um ultraje e de uma ofensa ao próprio nome. Toda a crise moral se cura a partir de dentro, remetendo o próprio coração para o único lugar onde se pode curar, converter-se, ouvir-se chamado. O primeiro movimento da cura das doenças profundas da vida é teológico, porque diz respeito à natureza do nosso nome que não pode chamar-se, mas apenas ser chamado: como em crianças, quando descobrimos qual é o nosso nome porque o ouvimos chamar por quem nos ama. Tornamo-nos maus quando já não nos voltamos o ouvir pronunciar o nosso nome – ou porque o esquecemos ou porque ninguém o chama com suficiente ágape para o podermos reconhecer.

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«Tornaste-te culpada pelo sangue que derramaste, e contaminaste-te pelos ídolos que fizeste… Dentro de ti, despreza-se o pai e a mãe; dentro de ti, maltrata-se o estrangeiro e oprime-se o órfão e a viúva… Profanaste os meus sábados» (Ezequiel 22, 4-8). A queda de Jerusalém já está próxima. Ezequiel e os outros poucos profetas verdadeiros de Israel sabem-no. Sabem-no não porque os profetas veem o futuro, mas porque veem, de modo diferente e mais profundo, o presente e, nele, leem os sinais do futuro enquanto, instante após instante, se torna realidade. A profecia é imersão total no presente, o único lugar onde é possível escutar uma voz que chama e fala. Quem, na vida, aprendeu alguma palavra de vida espiritual autêntica, tornou-se mestre do presente: capaz de tocar ou soprar o eterno porque mergulhado num presente infinito. A única eternidade possível é a que nos envolve agora, enquanto estamos, simplesmente, a viver. Para Ezequiel, o diagnóstico da ruína do seu povo é imediato: é a consequência natural de uma corrupção teológica tornada corrupção moral e social. Podemos ler a queda de Jerusalém à luz da geopolítica da época e, assim, oferecer explicações alternativas às dos profetas. Podemos fazê-lo para o passado, fazemo-lo para o presente, quando explicamos as guerras, as destruições e a dor imensa do nosso tempo, sem fazer referências à fé, aos pecados, a Deus. Mas, se viver ainda um profeta, do seu lugar solitário de vigia, tem acesso a uma dimensão a mais da realidade e, por isso, a outras perspetivas, a horizontes diferentes que nós não conhecemos. Como precisaríamos, hoje, destas leituras mais largas, mais profundas e mais altas! Pelo contrário, respondemos às carências de profecia negando a necessidade da sua quarta dimensão. Adaptámo-nos a um mundo reduzido e deixámos de sonhar o paraíso, convencidos que já não existe.

Aqui, Ezequiel diz-nos que existe um nexo, lógico e tremendo, entre os mandamentos teológicos da Lei e os sociais. A renúncia à idolatria, que é o coração da primeira parte do Decálogo, é a raiz de toda a Torá. Se, por um lado, desonrar o pai e a mãe, não ser solidários com o pobre e o estrangeiro é já uma expressão de idolatria, quando perdemos o centro teologal da vida, toda a vilania se torna possível e concreta.

Nesta síntese da Lei que Ezequiel nos dá, estão duas palavras que ecoam com uma força enorme dentro do nosso hoje: o pecado contra o estrangeiro e contra o sábado/shabbat. O estrangeiro residente, o gher, o hóspede de passagem (nokri), representavam uma característica comum na Judeia, uma região de mudanças e migrações. Eram mercadores, trabalhadores, militares, nómadas e fugitivos, migrantes políticos e económicos que se encontravam, por um período mais ou menos longo, no meio do povo de Israel. Se comparada com as normas das regiões vizinhas, a Lei de Moisés era particularmente acolhedora e generosa em relação aos estrangeiros: «Não oprimirás um estrangeiro residente; vós conheceis a vida do estrangeiro residente, porque fostes estrangeiros residentes na terra do Egipto» (Êxodo 23, 9).

Ezequiel, ao produzir a sua acusação contra Jerusalém, diz-nos que o povo tinha violado a lei sagrada da hospitalidade, não tinha acolhido nem respeitado o estrangeiro («em ti, maltrata-se o estrangeiro»). Os migrantes, os estrangeiros, os nómadas sempre foram maltratados porque se encontram numa situação objetiva de vulnerabilidade e de exposição ao abuso; e a história diz-nos que a possibilidade de abuso traduz-se, quase sempre, em abuso efetivo. É desta transformação do comportamento possível em efetivo que nascem as leis e as instituições. A Torá e os profetas protegem o forasteiro porque sabem que o povo, naturalmente, não o faria e, por isso, perderia a alma e a bênção de YHWH, que é um Deus diferente e verdadeiro, também porque acolhe e protege o estrangeiro.

A pedra angular desta legislação era a experiência dos hebreus no Egipto. O ter conhecido, ali, a “respiração” do forasteiro oprimido, formava a primeira – e suficiente – razão para não aumentar, na terra, aquela respiração errada. Assim como nós não fomos acolhidos nem respeitados pelos egípcios, porque os nossos pais experimentaram a humilhação e o sofrimento da migração, temos o dever teológico e ético de ser diferentes, generosos e acolhedores para com os forasteiros. A nossa dor de ontem, enquanto migrantes não acolhidos, fundamenta hoje o acolhimento dos nossos estrangeiros. São estas catarses intemporais o fundamento das boas normas: a experiência e a recordação passadas de um direito negado tornam-se a razão para reconhecer, hoje, esse direito a quem se encontra numa situação semelhante. As civilizações progridem quando o exercício da memória não produz rancor ou vingança, mas pietas e desejo de reduzir o sofrimento no mundo. Quando, diante duma grande dor minha e de outros, consigo gritar “nunca mais”, aquela dor já se tornou uma bênção para mim e para todos. Assim como, depois das guerras, nasceram muitas Constituições, assim também nasceu, na Bíblia, a magnífica legislação sobre o respeito e o cuidado dos forasteiros, que está ali, em todos os tempos, a julgar as nossas ações e as nossas palavras.

Uma das consequências morais e sociais do domínio da finança, que marca este início de milénio, é o desaparecimento da memória como recurso ético e espiritual do presente e do futuro. O único tempo que a finança conhece é o futuro, entendido como aposta e esperança de lucros. O monopólio do registo económico-financeiro amputou a nossa civilização atual dos tempos no passado, porque nenhum pacto estipulado ontem condiciona verdadeiramente as minhas ações de hoje, nem a dor dos pais gera alguma norma válida na orientação das ações dos filhos.

E, finalmente, o sábado, o sahbbat: «Profanaste os meus sábados». O shabbat é uma das grandes novidades da lei e da cultura de Israel, um imenso e inédito dom que a Bíblia fez à humanidade de todos os tempos. No exílio, numa terra sem templo e, por isso, sem um lugar que marcasse o espaço e distinguisse, com os seus umbrais, a terra sagrada da terra profana, os hebreus, sobre a morte da sacralidade do espaço, com o shabbat aprenderam a sacralidade do tempo. Num espaço tornado todo profano, porque já sem lugar onde parar para um encontro diferente com YHWH, Israel encontrou-se com um dia diferente que, na ordem do tempo, desempenhava a mesma função que desempenhava o templo na ordem do espaço. A u-topia do templo gerou a u-cronia do shabbat. Ele é um templo móvel, que apenas o imenso luto pela destruição do templo e do exílio podia gerar. A entrada no shabbat era entrada no templo do tempo, onde, porém, a linguagem para falar com Deus não eram os sacrifícios de pombas e cordeiros, mas relações sociais e cósmicas diferentes porque sinal e sacramento da fraternidade universal que, um dia, chegaria aos outros seis dias da semana da história. A igualdade radical que, no sétimo dia, reúne residentes e forasteiros, homens e mulheres, livres e escravos, seres humanos e animais, animais e plantas e terra, mostra a única substância do humanismo bíblico. O povo de Israel salvou o shabbat durante milénios e o shabbat salvou Israel.

A criação bíblica (Génesis 1) encerra-se com o repouso/shabbat de Eloim, com a separação de Deus da sua criação. Aquela separação criou o espaço de liberdade onde os seres humanos pudessem continuar a transformar a terra e a tornassem melhor do que a tinha deixado Eloim antes de se separar dela. Mas o shabbat é também o dispositivo de guarda das relações sociais e cósmicas. Enquanto, no sétimo dia, mantivermos viva, no ciclo vital dos dias, a memória de uma sociabilidade e de uma terra diferente da que as nossas relações de poder plasmaram nos primeiros seis, a promessa não morreu: podemos anunciar uma terra de fraternidade que ainda não existe, porque a estamos a experimentar. Não há guarda da terra e das relações se o Adão é dono de todos os dias da semana. Sem o dom do sétimo dia, a respiração da terra é uma respiração do estrangeiro humilhado.

Deus parou ao sexto dia, no número da imperfeição. Manteve o sétimo dia fora do nosso controlo, para nos deixar indigentes de plenitude e geradores de possibilidades. Está neste valor de incompletude o sentido de uma das atividades (melachot) que a lei hebraica proíbe no shabbat: «Dar a última demão para acabar um trabalho» (n. 38). Deixar incompleto um trabalho é símbolo da boa incompletude da vida. Não somos nós a dar a última mão à nossa existência. Será uma outra mão, não a nossa, a que fechará, pela última vez, os nossos olhos. Somos relações, não somos os proprietários das últimas palavras da nossa história. Debaixo do sol, também as coisas maravilhosas se interrompem, um dia antes do último, para que algum outro possa dar a última demão e completar a obra-prima.

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O exílio e a promessa / 14 – Uma outra mão, não a nossa, fechará, pela última vez, os nossos olhos

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 10/02/2019

«Também quando a alma está angustiada, também quando nenhuma oração consegue sair da garganta, na dor, o puro repouso silencioso do Shabbat leva-nos ao reino de uma paz sem fim. A eternidade indica um dia. Shabbat».

A.J. Heschel, O Shabbat

As desordens morais são expressão das desordens espirituais. A ética é segunda. Por detrás de uma maldade para com outro, esconde-se um mal-estar mais radical e mais profundo dentro da alma. Ofender e ultrajar o nome do outro são filhos de um ultraje e de uma ofensa ao próprio nome. Toda a crise moral se cura a partir de dentro, remetendo o próprio coração para o único lugar onde se pode curar, converter-se, ouvir-se chamado. O primeiro movimento da cura das doenças profundas da vida é teológico, porque diz respeito à natureza do nosso nome que não pode chamar-se, mas apenas ser chamado: como em crianças, quando descobrimos qual é o nosso nome porque o ouvimos chamar por quem nos ama. Tornamo-nos maus quando já não nos voltamos o ouvir pronunciar o nosso nome – ou porque o esquecemos ou porque ninguém o chama com suficiente ágape para o podermos reconhecer.

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A boa incompletude da vida

A boa incompletude da vida

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O exílio e a promessa / 13 – Quando nos encontramos mudos, resta-nos a palavra extrema: a nossa carne

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 03/02/2019

«Estou, há seculos, desde há um momento 
parado num vazio em que tudo cala,
já não sei dizer desde quando sinto
angústia ou paz»

Francesco Guccini Shomèr ma Mi-llailah

Em todo o autêntico diálogo, as palavras de quem fala conseguem nascer se encontram, em nós, confiança naquelas palavras e, ainda antes, na pessoa que as diz. Ninguém fala num diálogo sem que algum outro o acolha e, por isso, nesta sua dimensão originária, a confiança é, essencialmente, uma questão de dom. Também Deus teve necessidade da confiança dos profetas para nos poder falar – quem sabe quantas palavras proféticas autênticas se perderam e se perderão porque quem as escutou não lhe deu confiança e não acreditou nelas nem as compreendeu naquilo que eram. Porém, os profetas, enquanto dão confiança a YHWH – e, fazendo isso, fazem-no falar ao mundo – precisam também da nossa confiança para que a sua palavra transmitida não se reduza a nada. Toda a palavra verdadeira é diálogo, é encontro de palavras dadas e recebidas. O profeta é sentinela e, se ninguém acolhe o seu alarme, gritado em cima das muralhas, aquele grito apaga-se e torna-se sopro de vento. Então, as provas ”empíricas” da verdade das suas palavras não se encontram nem no céu nem na terra, mas na frágil força da confiança, da fides, da fé. Ezequiel pode continuar a falar-nos se nós continuamos a dar-lhe crédito, a acreditar nele.

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«Foi-me dirigida a palavra de YHWH nestes termos: “Filho de homem, volta a tua face para sul; dirige a tua palavra à região meridional e profetiza contra a floresta, que se encontra na região do Négueb. Assim falarás à floresta do Négueb: Ouve a palavra do Senhor. Assim fala o Senhor Deus: ‘Eis que Eu acendo o fogo em ti, para devorar todas as árvores verdes e todas as árvores secas; as chamas violentas não se apagarão e tudo será devorado, desde o Négueb até ao Norte’. E todos verão que Eu, o Senhor, é que provoquei o incêndio e ele não se extinguirá”» (Ezequiel 21, 1-4). “Foi-me dirigida a palavra de YHWH”. Apesar de termos percorrido vinte capítulos, medidos e esculpidos por esta frase, a ponto de representar um verdadeiro tema dominante (porque mostra a essência do profetismo), sempre que a reencontramos, volta a admiração e a comoção ao ler palavras sussurradas por Deus ao ouvido de outros homens como nós; palavras tornadas factos, como os que nos acontecem em cada dia do mundo.

É certo que nós, homens e mulheres do terceiro milénio, podemos amortecer a força daquela experiência auditiva, podemos lê-la com todos os instrumentos técnicos e históricos à nossa disposição e, assim, chegar mesmo a negá-la, equiparar o profetismo aos grandes mitos antigos, soltando-o da voz diferente que o inspirava e alimentava, ou sustentar que os livros dos profetas foram escritos ex-post por reformadores religiosos que queriam imprimir às suas palavras um crisma sagrado mais forte que o da sua política. Podemos fazê-lo e muitos o fazem; mas, assim, a Bíblia perde o seu interesse espiritual e antropológico, esmorece o seu fascínio e, rapidamente, ela mesma. Ezequiel fala-nos e muda-nos se o vemos enquanto ainda fala com a voz que lhe fala, num diálogo que nunca é interrompido, graças aos leitores que acreditam nele, que lhe deram crédito e, assim, permitiram-lhe continuar a falar. Não sabemos os conteúdos nem os pormenores das suas experiências auditivas nem dos acontecimentos teofânicos que nos descreveu mas, para ficar ligados às suas palavras e não interromper o seu fluxo espiritual, temos de acreditar nele, não pensar que seja um auto iludido e, assim, levá-lo a sério. A fé bíblica é muitas coisas ao mesmo tempo, mas é, e talvez acima de tudo, dar confiança a uma palavra.

Os primeiros a não levar suficientemente a sério Ezequiel foram os seus concidadãos, exilados, como ele, em Babilónia, que não entraram num diálogo autêntico com ele. Os anciãos do povo interrogavam-no (por interesse próprio), mas não lhe davam confiança porque, como acontece sempre que damos confiança verdadeiramente a alguém, deveriam ter entrado naquele diálogo com a disponibilidade para se tornar algo de diferente do que eram antes de o iniciar. Todo o diálogo genuíno é uma travessia noturna do rio, onde entra Jacob e sai Israel (Génesis 32) – o grande mito do combate, no rio - Jacob - é, de facto, um perfeito ícone do diálogo: começa-se com um nome e acaba-se com um nome novo e, no fim, fica-se ferido e abençoado numa dança de reciprocidade.

Desde o início da sua pregação, Ezequiel procura fazer chegar uma mensagem principal ao seu povo no exílio. O que está para acontecer a Jerusalém, isto é, a sua destruição e, depois, a deportação de todo o povo de Judá para Babilónia, é inevitável, porque é a consequência lógica de uma vida religiosa e moralmente corrompida. O fim da Cidade Santa já está próximo e é certo; a parte do povo que já está no exílio, em vez de se iludir, sob a ação dos falsos profetas, num regresso iminente à pátria – o falso profeta Ananias, como nos conta Jeremias (cap. 28), tinha profetizado que os exilados regressariam a Jerusalém muito rapidamente – apenas deveria aprender de quanto está para acontecer a Jerusalém, que o único caminho certo é a conversão imediata, o abandono dos ídolos e das iniquidades, e voltar à Aliança e à Lei. Na vigília da deportação para Babilónia e, depois, durante o exílio, os falsos profetas cresceram muito, em número, no povo de Israel, e foi particularmente dura a luta contra eles, realizada, sobretudo, por Ezequiel e Jeremias. E, assim, também por causa da ação constante e tenaz dos falsos profetas, em boa ou má-fé, os hebreus exilados continuavam, pelo contrário, a iludir-se, eram seduzidos pelos cultos babilónicos e queriam até construir um templo para repetir, em Babilónia as mesmas práticas idólatras e sincretistas do povo que ainda estava em Jerusalém.

A sua comunidade deportada continua a não compreender as palavras de Ezequiel nem os seus gestos que, pelo contrário, são ridicularizados e zombados. Agora, acusam-no de ser uma espécie de ator de rua: «Eu disse: “Ah! Senhor Deus, eles dizem de mim: ‘Não será ele um contador de enigmas?’”» (21, 5). Um contador de enigmas: Ezequiel tem de anunciar uma mensagem dramática ao seu povo, a mais dramática desde o tempo de Moisés, acontecimento determinante na história da salvação, e as pessoas, a quem é enviado, tomam-no por uma espécie de saltimbanco, um tipo estranho que conta histórias e faz gestos, que formula enigmas extravagantes, ainda mais estranhos que as suas palavras. Um mago, um sofista, um técnico da palavra que usa para confundir os seus interlocutores ou para os surpreender com fenómenos estéticos. Ezequiel encontra-se, assim, com uma mensagem e uma missão completamente deturpadas pela sua comunidade. Não é de excluir, portanto, que alguém pensasse que os incêndios desencadeados nas florestas das regiões vizinhas fossem ateados pelo próprio Ezequiel, num momento de exaltação estática ou graças a poderes mágicos que lhe permitiam agir à distância (“Eu acenderei em ti um fogo que devorará, em ti, toda a árvore verde e seca”).

Ezequiel ator, saltimbanco, mago, pirómano. Sorte estranha a dos profetas verdadeiros, a espelhar a dos falsos profetas. Estes últimos, em virtude de uma vocação divina que não receberam, obtêm sucessos e benesses; os primeiros, em virtude de uma vocação que receberam, encontram-se sistematicamente – e sem saída – no meio de culpa, sarcasmo e, quase sempre, terminam a sua vida na marginalização e na perseguição. Eis porque, paradoxalmente (um paradoxo apenas para quem não conhece a Bíblia, a vida), o insucesso é o primeiro indicador da profecia verdadeira – não é o único indicador (nem todas as mulheres e os homens derrotados são profetizas ou profetas, embora muitas sejam pessoas honestas e verdadeiras), mas é um grande indicador. Pelo contrário, se alguém quer encontrar, com facilidade, falsos profetas – ontem e hoje – deve procurá-los nos lugares frequentados pelos vencedores.

Por fim, também neste capítulo, regressa um outro pilar da profecia de Ezequiel: o seu corpo torna-se símbolo, sacramento e mensagem: «Tu, porém, filho de homem, geme, chora e sofre diante deles, com os rins despedaçados e com tristeza. Se eles, então, te perguntarem: ‘Porque gemes?’, dirás: ‘Por causa da notícia que acaba de chegar, com a qual todos os corações ficarão desfeitos e todas as mãos paralisadas, os espíritos enfraquecidos e os joelhos dobrados. Eis que ela já chegou e vai cumprir-se’» (21, 11-12). Mais uma vez, Ezequiel fala com a linguagem muda do seu corpo marcado – e o fará ainda. Esgotados os recursos orais, alcança a linguagem extrema que é a nossa carne, os rins quebrados. Aqui, eleva um verdadeiro lamento fúnebre: chora, sofre e geme pela cidade que será destruída, e fá-lo antes de ser destruída de verdade. Os profetas sofrem antes das catástrofes e das tragédias e, depois, como e juntamente a nós, continuam a fazê-lo durante e depois. Quando, aos profetas, se esgotaram os recursos ordinários e extraordinários, resta-lhes a possibilidade de chorar, de gritar um luto. Ontem e sempre. Geralmente, nem sequer eles têm a capacidade de obter uma conversão das pessoas que deveriam converter. Desejam-na, querem-na, sofrem-na no seu corpo mas, também eles como nós, têm necessidade de confiança e de fé e isto, pensando bem, é precisamente uma mensagem cheia de esperança.

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O exílio e a promessa / 13 – Quando nos encontramos mudos, resta-nos a palavra extrema: a nossa carne

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 03/02/2019

«Estou, há seculos, desde há um momento 
parado num vazio em que tudo cala,
já não sei dizer desde quando sinto
angústia ou paz»

Francesco Guccini Shomèr ma Mi-llailah

Em todo o autêntico diálogo, as palavras de quem fala conseguem nascer se encontram, em nós, confiança naquelas palavras e, ainda antes, na pessoa que as diz. Ninguém fala num diálogo sem que algum outro o acolha e, por isso, nesta sua dimensão originária, a confiança é, essencialmente, uma questão de dom. Também Deus teve necessidade da confiança dos profetas para nos poder falar – quem sabe quantas palavras proféticas autênticas se perderam e se perderão porque quem as escutou não lhe deu confiança e não acreditou nelas nem as compreendeu naquilo que eram. Porém, os profetas, enquanto dão confiança a YHWH – e, fazendo isso, fazem-no falar ao mundo – precisam também da nossa confiança para que a sua palavra transmitida não se reduza a nada. Toda a palavra verdadeira é diálogo, é encontro de palavras dadas e recebidas. O profeta é sentinela e, se ninguém acolhe o seu alarme, gritado em cima das muralhas, aquele grito apaga-se e torna-se sopro de vento. Então, as provas ”empíricas” da verdade das suas palavras não se encontram nem no céu nem na terra, mas na frágil força da confiança, da fides, da fé. Ezequiel pode continuar a falar-nos se nós continuamos a dar-lhe crédito, a acreditar nele.

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Mendigos de fé e de crédito

Mendigos de fé e de crédito

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O exílio e a promessa / 12 – Nem sequer Deus pode passar sem homens e mulheres que aceitem os seus dons

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 27/01/2019

«A solidão veio… Os homens retiraram-se; as amizades amorteceram; os interesses acabaram... Ingratidão? Vaidade? Ilusão?... Certamente! Mas é, sobretudo, a lógica da existência que irrompe até uma certa idade; e depois, atingido o cume, vai-se degradando pela outra vertente, para mergulhar no mistério… Sozinho: portanto, livre».

Igino Giordani, Diario di Fuoco

Nas experiências das ofertas, a primeira oferta não chega. É preciso um segundo ato co-existencial de acolhimento. Porque a oferta é um discurso que se desenvolve no tempo, é uma sintaxe social de atos livres. Muitas patologias relacionais nascem de relações em que o dador está tão preocupado em fazer a sua oferta que impede que o outro pronuncie livremente o seu sim. Em muitas relações, a parte mais débil não é quem aceita, mas quem faz a oferta, porque a recusa é fonte de muita dor e frustração (como a experimentada por Caim, por a sua oferta não ser aceite). Todos nós temos medo que as nossas ofertas mais importantes não sejam aceites (por um filho, pelo chefe de escritório) e, assim, somos tentados a tirar ao outro a liberdade de recusar a nossa oferta e, se pudermos, fazemo-lo frequentemente. O Deus bíblico não nos quis privar da liberdade de recusar a sua maior oferta – a Aliança e a Lei – e, assim, exaltou a nossa dignidade precisamente enquanto registava as nossas infidelidades – e continua a fazê-lo.

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Pela terceira vez, desde o início da sua missão, os anciãos daquela porção do povo que se encontrava no exílio, em Babilónia, dirigem-se a Ezequiel e pedem-lhe para interrogar YHWH, para ter uma opinião: «Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: Filho de homem, fala aos anciãos de Israel e diz-lhes: “Assim fala o Senhor Deus: Viestes para me consultar? Pela minha vida, não deixarei que me consulteis”» (Ezequiel 20, 2-3). Para oferecer aos anciãos a explicação daquela recusa, Ezequiel revê toda a história da salvação (que ele começa no Egipto, não nos patriarcas), dividida em três fases (Egipto, deserto e, finalmente, Canaã). Do longo relato de Ezequiel, enriquecido e emendado pelas mãos redaccionais posteriores, emerge, com clareza, uma mensagem forte. A história, que vai da libertação do povo escravo do faraó até à conquista da Terra Prometida, é, na realidade, o relato das vicissitudes de um povo marcado pela incapacidade de permanecer dentro do ethos da Aliança e da Lei. Aquela história é uma sucessão de momentos de fidelidade e de períodos, mais longos de traições. Um pacto dado apenas pela gratuidade teve, contudo, necessidade de um povo que experimentasse repetir outros sim, depois de muitos fracassos.

A infidelidade manifestou-se, sobretudo, nas práticas idólatras, o principal ponto de acusação, em Ezequiel e nos profetas. Mas, neste capítulo, encontramos uma leitura da idolatria que nos revela a sua raiz e a natureza mais séria e mais grave: «Assim fala o Senhor Deus: Também lá os vossos pais me ultrajaram (…) onde quer que vissem um monte elevado ou uma árvore frondosa, aí ofereciam sacrifícios e apresentavam suas ofertas provocantes» (20, 27-28). O elemento determinante é a natureza deste culto. Nos montes elevados, os hebreus não adoravam outros ídolos: nos montes elevados cananeus, o povo eleito adorava YHWH, que tinha sido descido ao estatuto de deus dos montes elevados, um deus como o de todas as outras nações vizinhas: «Dizeis: ‘Queremos ser como os povos, como as tribos dos países estrangeiros’» (20, 32).

Há uma idolatria popular, simples, que leva as pessoas a ver o sagrado nos fenómenos naturais, no mistério da vida que morre e renasce, no sol e nos astros do céu. A Bíblia é severa também em relação a esta idolatria natural, que nasce da necessidade de pessoas de entrar em contacto com o sagrado no quotidiano, uma necessidade legítima que, no entanto, recebe uma resposta errada, combatida, como tal, pelos profetas. As comunidades hebraicas que, sobretudo em algumas fases da história de Israel, tinham introduzido amuletos nas suas casas, que de vez em quando frequentavam os tempos cananeus da fertilidade, sabiam – pelo menos, alguns deles – que as imagens não eram YHWH, eram fantoches e, por isso, por vezes, podiam converter-se e voltar ao Deus verdadeiro e totalmente diferente. É neste ponto que Ezequiel muda o eixo do seu discurso, para nos falar de uma outra forma de idolatria, ainda mais radical e perigosa. É a que nasce da redução de YHWH a um deus dos montes elevados.

É provável (20, 39) que o conteúdo da pergunta que os anciãos queriam dirigir a YHWH, se referisse precisamente à proposta de construir um templo na terra do exílio, no qual O adorariam do mesmo modo que se adoravam divindades babilónicas – estátuas, imagens ou até mesmo sacrifícios dos primogénitos («fazeis passar os vossos filhos pelo fogo»: 20, 31). Se os profetas tivessem cedido em tolerar esta segunda forma de idolatria, onde o “bezerro” toma o nome de YHWH, hoje, não estaríamos aqui a ler estes textos, que são também a base do cristianismo, florescido da mesma raiz anti idolátrica dos profetas. Ezequiel/YHWH, portanto, não aceita que o seu pedido seja formulado e endereçado, através dele, a YHWH, porque começar a dialogar destes temas é já um princípio de cedência. Em certos momentos determinantes, é preciso ter a força de negar a legitimidade da pergunta, porque a única boa resposta possível é a falta de diálogo. Ezequiel terá, provavelmente, conhecido estes anciãos do povo, terá alimentado respeito para com eles mas, por vocação, foi capaz de não permitir em nada esta forma de pietas natural, para lhes poder dar uma outra pietas muito mais rara e preciosa. Quando Deus é reduzido a ídolo, a conversão torna-se impossível, a menos que se encontre com um ágape tornado verdade, graças a alguém disposto a sustentar todas as despesas desta operação. Ezequiel, em todo o seu livro, continua a amar o seu povo no exílio, não respondendo às suas perguntas erradas. Se a sua compaixão tivesse vencido o amor pela verdade, ter-se-ia, simplesmente, tornado num falso profeta.

Portanto, Ezequiel, até aqui, tem-nos dito que nem Deus, para agir na história, pode fazer menos que homens e mulheres que aceitem o dom da sua predileção. Porém, agora diz-nos algo a mais e esplêndido sobre a natureza da Aliança e de qualquer fidelidade: «Assim diz o Senhor: “Mas Eu tive consideração pelo meu nome, a fim de que ele não fosse profanado, à vista das nações em que se encontravam”» (20, 9). Estamos diante duma lógica diferente de fidelidade, que apoia os seus dois elementos. O primeiro diz respeito ao nome: “por amor do meu nome”. É-se fiel, aqui, por amor de algo que diz respeito ao amante, não ao amado, não tem nada a ver com o nome de quem amamos, mas com o nosso (no humanismo bíblico, todo o nome é vocação e destino). Quem ama e é traído pode decidir continuar a ser fiel, sem que encontre no outro algum mérito ou boa razão para continuar a aliança; permanece fiel por uma misteriosa fidelidade a si mesmo, ao próprio nome. Talvez porque, nos pactos determinantes da vida (como um casamento), aquela com quem me ligo, torna-se “carne da minha carne”, que, portanto, me plasma e me modifica por dentro. Um dia, ela poderá trair aquele pacto, mas eu posso encontrar razões para continuar, ‘por amor do meu nome’, porque no meu nome está, agora, inscrito também o seu.

Talvez só Deus seja capaz, verdadeiramente, desta fidelidade sem reciprocidade. Mas esta possibilidade que o amor divino tem, também nós a temos, ao menos um pouco. No-la promete a Bíblia, que quis abrir o seu primeiro livro revelando-nos que somos “imagem e semelhança” de Elohim. Então, somos sua imagem também nesta capacidade de perdão e de fidelidade unilateral. E, se olharmos bem para dentro de nós e à nossa volta, encontramos verdadeiramente este reflexo da imagem; não está muito escondido. Há pessoas que continuam uma misteriosa, mas real, fidelidade depois de muitos anos de separação, de divórcio, de luto e, por vezes, fazem-no “por amor do seu nome”, um nome tornado plural para sempre. Esta fidelidade ao próprio nome não nasce de um amor menor, mas de um ágape maior. Como quando, depois de ter contornado muitas vezes o edifício, por fim, voltamos a casa ou ao trabalho, apenas por “amor ao nosso nome”, porque, naquelas relações, já não há qualquer satisfação ou sentido, mas continua dentro de nós algo de muito parecido ao significado da primeira palavra verdade.

Ezequiel, porém, revela-nos uma segunda razão desta paradoxal fidelidade: para que o seu nome não “fosse profanado no meio das nações”. Israel não fora “eleito” numa relação privada, por um contrato apenas de vantagens mútuas. O chamamento daquele povo fora uma promessa universal, feita diante das outras nações e para elas. Os pactos – mesmo os nossos pactos – não são experiências de consumo recíproco. São celebrados na presença das “nações”, diante de testemunhas, pais, parentes. Depois, geram filhos, novas relações, novos amigos, que já estavam – invisíveis, mas reais – a assinar o mesmo pacto. Esta forma de fidelidade nasce de promessas ditas diante de pessoas que sabemos dependerem da nossa fidelidade. Nestes casos – e são muitos e acontecem todos os dias – uma grande razão da fidelidade encontra-se fora de nós, naquelas relações geradas pelo nosso pacto que sentimos o dever de conservar, mesmo sós.

Quando, nos pactos traídos, já não encontramos, no outro, qualquer razão para recomeçar, resta-nos ainda um recurso de última instância: podemos perdoar, por amor do nosso nome e pelo das outras pessoas ligadas àquela aliança. Quando começa a faltar o primeiro “tu”, podemos experimentar ser fiéis em nome dos outros “tu”, presentes na nossa vida e também descobrindo, em nós, um nome mais verdadeiro que ainda não conhecíamos. Podemos fazê-lo – por vezes fizemo-lo –; faz parte do nosso repertório humano, porque somos maiores que a nossa felicidade.

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O exílio e a promessa / 12 – Nem sequer Deus pode passar sem homens e mulheres que aceitem os seus dons

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 27/01/2019

«A solidão veio… Os homens retiraram-se; as amizades amorteceram; os interesses acabaram... Ingratidão? Vaidade? Ilusão?... Certamente! Mas é, sobretudo, a lógica da existência que irrompe até uma certa idade; e depois, atingido o cume, vai-se degradando pela outra vertente, para mergulhar no mistério… Sozinho: portanto, livre».

Igino Giordani, Diario di Fuoco

Nas experiências das ofertas, a primeira oferta não chega. É preciso um segundo ato co-existencial de acolhimento. Porque a oferta é um discurso que se desenvolve no tempo, é uma sintaxe social de atos livres. Muitas patologias relacionais nascem de relações em que o dador está tão preocupado em fazer a sua oferta que impede que o outro pronuncie livremente o seu sim. Em muitas relações, a parte mais débil não é quem aceita, mas quem faz a oferta, porque a recusa é fonte de muita dor e frustração (como a experimentada por Caim, por a sua oferta não ser aceite). Todos nós temos medo que as nossas ofertas mais importantes não sejam aceites (por um filho, pelo chefe de escritório) e, assim, somos tentados a tirar ao outro a liberdade de recusar a nossa oferta e, se pudermos, fazemo-lo frequentemente. O Deus bíblico não nos quis privar da liberdade de recusar a sua maior oferta – a Aliança e a Lei – e, assim, exaltou a nossa dignidade precisamente enquanto registava as nossas infidelidades – e continua a fazê-lo.

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O nome da última fidelidade

O nome da última fidelidade

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O exílio e a promessa / 11 – A profecia sobre dívida e juro funda uma ética diferente da do “império”

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 20/01/2019

«Eu detesto e rejeito as vossas festas; e não sinto nenhum gosto nas vossas assembleias. Afastai de mim o vozear dos vossos cânticos, não quero ouvir mais a música das vossas harpas. Antes, jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca..»

Amos, 5,21-24

Na Bíblia, a economia é algo de tremendamente sério. Não por acaso, é colocada ao lado do pecado da idolatria. A sua teologia torna-se, imediatamente, antropologia e, por isso, dinheiro, empréstimos, juros. É esta a bonita laicidade da Bíblia, onde Deus, para nos falar de si, também usa as palavras dos nossos negócios, elevando-as, até as fazer perfurar o céu. E não nos devemos admirar se, quando algum de nós chegar ao paraíso, descobrir, no meio da dança das pessoas divinas e dos bem-aventurados em redor, o torno, a chave de parafusos, móveis e vestidos. Se perdermos esta co-essencialidade do eixo vertical e do horizontal, não compreendemos nada do humanismo bíblico e do dos Evangelhos. A economia é parte da vida e temos de o recordar ainda mais hoje, quando quer transbordar e tornar-se toda a vida. Mas, ao mesmo tempo, as relações económicas determinam a qualidade e a justiça de todas as outras e, assim, errar a relação com a economia e com a finança significa errar também a relação com Deus. A Bíblia quis, teve de manter radicalmente ligadas a oikonomia da salvação e a economia quotidiana dos negócios e do dinheiro e, ao fazer isso, deixou-nos uma herança sem preço, porque de valor infinito.

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«A grande águia de asas enormes, compridas, cobertas de plumas multicolores, veio do Líbano comer a ponta do cedro. Apanhou o ramo mais elevado, e levou-o para o país dos comerciantes, para uma cidade de negociantes» (Ezequiel 17, 3-5). Na Bíblia, a natureza é muito mais que um pano de fundo onde se desenrolam a comédia e a tragédia humana. Homens, montanhas, céu, vento, fogo… vivem, movem-se e “falam”, juntamente a águias, leões (cap. 19), cedros e videiras. As plantas não entram na arca de Noé, mas subiram da arca da Bíblia, onde também as árvores estão vivas e, por vezes, tornam-se palavras que os profetas utilizam para dar a palavra a YHWH. Os animais e a natureza estão incluídos no seu diálogo com os homens e com Deus. São cantores globais da criação. Porque a palavra de Deus é palavra de vida, e a vida humana, obra-prima da criação, é, porém, insuficiente para dizer, sozinha, algo de verdadeiro sobre o mistério da vida. Nabucodonosor II, a grande águia, capturou, com as suas garras, o rei de Israel (o rebento mais alto do cedro, Joaquim, na primeira deportação, em 598 a. C.) e exilou-o em Babilónia. Depois, a parábola continua com a chegada de uma segunda águia («Havia outra águia grande»: 17, 7), imagem da superpotência egípcia, para a qual Israel se volta (em 591) à procura, que se mostrará insensata, de uma condição política melhor que a assegurada pelo tratado com os babilónios.

Ezequiel encontra-se como profeta de uma parte do povo exilado, um exílio lido e vivido como punição dos pecados de idolatria dos pais, pela traição coletiva da Aliança. Um estado moral e religioso que poderia paralisar e matar qualquer esperança não-vã. Tem, portanto, de reconstruir a alma do seu povo, dar-lhe também uma oportunidade de salvação: «Mas se o pecador renuncia a todos os pecados que cometeu, se observa todas as minhas leis e pratica o direito e a justiça, ele deve viver, não morrerá» (18, 21). Para não morrer, cada um deve, com certeza, repudiar os ídolos, mas o profeta também nos diz que deve praticar uma ética diferente, que se torna o modo concreto para mostrar, com as mãos, a fidelidade do coração: «Rejeitai todos os pecados que cometestes contra mim e criai um coração novo e um espírito novo. Porque quereis morrer, casa de Israel? Pois Eu não me comprazo com a morte de quem quer que seja» (18, 31-32).

Nesta operação ética e teológica fundamental, entra em campo e ocupa um lugar central a economia.

De facto, Ezequiel, para descrever Babilónia, usa poucas palavras, capazes, porém, de nos revelar a essência: «país de mercadores, cidade de negócios». Esta escolha lexical pode dizer-nos muitas coisas, se a deixarmos falar A Ezequiel e aos hebreus deportados, deve ter impressionado muito a economia daquele grande império. Embora os antropólogos do século passado nos tenham dito que o mercado é uma invenção moderna, porque as comunidades antigas regiam as suas trocas com a oferta e com a redistribuição de riqueza, hoje, graças aos milhares de placas encontradas nas escavações recentes, sabemos, pelo contrário, que a Babilonia de Nabucodonosor tinha alcançado um excecional desenvolvimento económico e financeiro, não distante, pela quantidade e qualidade, do que encontraremos no Império Romano tardio ou nas cidades italianas medievais (e, por isso, não muito diferente do nosso). Aquela economia era predominantemente monetária (dinheiro), existia um mercado do trabalho com operários assalariados, negócios internos e externos florescentes e um sofisticado sistema bancário, concentrado nos templos com a sua rica e complicada economia e finança. Em todo o Médio Oriente antigo, era permitida a taxa de juros sobre os empréstimos e, nalguns códices babilónicos, estava limitado até 20% sobre o dinheiro e 33,3% sobre a farinha. Em todo o Médio Oriente… exceto em Israel. Porquê? Quais as razões desta singularidade da proibição bíblica de empréstimos com juros, que tanto condicionou o desenvolvimento do Ocidente, até à Idade Moderna?

Em economias não monetárias, onde a moeda abrange apenas alguns aspetos da vida, o dinheiro não é determinante. Mas se a economia se torna monetária e, portanto, o dinheiro intermedeia a maior parte das relações, a relação com o dinheiro é determinante para a vida e, acrescenta profeticamente Ezequiel, para a fé. Portanto, não se era (não se é) igual no comando do dinheiro e quem o detém é tremendamente tentado a abusar do poder que tem, a usá-lo sem justiça. Quem concede empréstimos não estava (e, normalmente, não está) numa situação de igualdade com quem os recebe. Quem o oferecia era rico, poderoso, por vezes revestido de uma autoridade sacra – geralmente, os bancos estavam ligados ao rei ou aos templos. Quem o pedia encontrava-se numa situação de necessidade, de incerteza em relação ao futuro; era, por isso, débil. Israel, no exílio, compreende, então, que impedir a usura significa não permitir que o uso do poder gere receita para os mais fortes à custa da parte mais frágil do povo. A profecia é sempre profecia económica, nunca fica apenas assunto “religioso” e de culto – e quando se torna isso, transforma-se em falsa-profecia.

A maldade babilónica, a observação direta das graves consequências da usura sobre os devedores, foram determinantes para o nascimento da legislação especial e única da Torá hebraica (escrita predominantemente depois do exílio), que atribui uma importância central às dívidas, aos empréstimos e aos juros. O jubileu era também – e, em certos períodos, sobretudo – o tempo da libertação dos escravos, tornados tais porque não pagaram os empréstimos aos seus credores que se tornaram senhores de toda a família.

E assim, no longo exílio, numa terra comercial e financeira, sem templo e sem culto, graças a Ezequiel e aos profetas do exílio, o povo de Israel compreende que, para refundar a ética da Aliança, era preciso uma luta sem tréguas contra o fascínio daqueles deuses diferentes, sedutores, naturais e cheios de cores como as águias; mas havia a mesma urgência de refundar uma vida social e económica diferente da dominante naquele grande império. Para dizer quem era o seu Deus, escreveram uma outra economia, negaram os juros sobre o dinheiro para exaltar os interesses dos pobres e da justiça divina. Um Deus, que escuta o grito dos pobres, não podia ouvir a voz dos usurários. A diversidade teológica torna-se imediatamente diversidade ética e, por isso, económica.

Não admira, então, que quando Ezequiel indica quais são as condições para se converter e ser justo, escreva assim: «Se alguém é justo, observa o direito e a justiça, não come nos lugares altos, não levanta os olhos para os ídolos da casa de Israel… se restitui o que recebeu em fiança, não comete furtos, distribui pão aos famintos, cobre o nu; não empresta com usura e não recebe juros» (18, 5-8)

Um povo com um Deus diferente de todos os outros povos produz uma singular e diferente ética económica e financeira. Naquele império idólatra e económico-financeiro, Ezequiel compreendeu que uma das lições teo-antropológicas que aquela grande mágoa estava a dar a um povo amedrontado e desencorajado dos exilados, era a compreensão da natureza religiosa do dinheiro, tão religiosa que tornava-se o material dos ídolos assim como o primeiro tijolo da construção da primeira nova casa. Ontem e hoje, a economia vive desta radical e tremenda ambivalência. Eram dinheiros os trinta que Judas usou para o seu torpe comércio, eram dinheiros os dois gastos pelo Samaritano, para associar um comerciante à sua proximidade. Com o ouro se construiu o vitelo, na base do Sinai; com ouro e prata se constroem a nossa justiça e a nossa injustiça. Nós esquecemo-lo e, assim, saímos da igreja e, logo de seguida, investimos dinheiro nos bancos que financiam os jogos de azar e as minas antipessoais, e nem sequer temos um profeta que nos diga: “Ai de vós” – e se e quando resta algum, capaz de ainda o repetir, não o ouvimos ou ridicularizamo-lo.

nisto a grande seriedade da economia. A justiça socioeconómica tem a mesma natureza e dignidade do culto religioso. Ezequiel não coloca uma hierarquia nos seus preceitos: traímos a Aliança e morremos, quer venerando Baal, quer oprimindo o próximo com empréstimos usurários e com contratos injustos. Morremos na alma tornando-nos idólatras; morremos na alma usando o nosso poder económico contra os pobres. Os profetas recordam-nos esta ligação, mostram-nos esta corda que liga IHWH à economia. Nós procuramos cortá-la de todos os modos e eles têm de continuar a recordar-no-lo.

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O exílio e a promessa / 11 – A profecia sobre dívida e juro funda uma ética diferente da do “império”

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 20/01/2019

«Eu detesto e rejeito as vossas festas; e não sinto nenhum gosto nas vossas assembleias. Afastai de mim o vozear dos vossos cânticos, não quero ouvir mais a música das vossas harpas. Antes, jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca..»

Amos, 5,21-24

Na Bíblia, a economia é algo de tremendamente sério. Não por acaso, é colocada ao lado do pecado da idolatria. A sua teologia torna-se, imediatamente, antropologia e, por isso, dinheiro, empréstimos, juros. É esta a bonita laicidade da Bíblia, onde Deus, para nos falar de si, também usa as palavras dos nossos negócios, elevando-as, até as fazer perfurar o céu. E não nos devemos admirar se, quando algum de nós chegar ao paraíso, descobrir, no meio da dança das pessoas divinas e dos bem-aventurados em redor, o torno, a chave de parafusos, móveis e vestidos. Se perdermos esta co-essencialidade do eixo vertical e do horizontal, não compreendemos nada do humanismo bíblico e do dos Evangelhos. A economia é parte da vida e temos de o recordar ainda mais hoje, quando quer transbordar e tornar-se toda a vida. Mas, ao mesmo tempo, as relações económicas determinam a qualidade e a justiça de todas as outras e, assim, errar a relação com a economia e com a finança significa errar também a relação com Deus. A Bíblia quis, teve de manter radicalmente ligadas a oikonomia da salvação e a economia quotidiana dos negócios e do dinheiro e, ao fazer isso, deixou-nos uma herança sem preço, porque de valor infinito.

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A fé converte o dinheiro

A fé converte o dinheiro

O exílio e a promessa / 11 – A profecia sobre dívida e juro funda uma ética diferente da do “império” por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 20/01/2019 «Eu detesto e rejeito as vossas festas; e não sinto nenhum gosto nas vossas assembleias. Afastai de mim o vozear dos vossos cânticos, ...
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O exílio e a promessa / 10 – Expomo-nos livremente, ficando vulneráveis, à liberdade do outro.

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 13/01/2019

«Se a mulher não tivesse sido separada do homem, não morreria com o homem. A sua separação marcou o início da morte. Por isso, veio Cristo, para reparar a separação que existia desde o princípio e para unir novamente os dois, homem e mulher»

O evangelho de Filipe, 78-79

O amor humano é uma realidade complexa. Nas relações mais importantes, o amor conhece dimensões de incondicionalidade, isto é, tem a capacidade de amar mesmo sem reciprocidade. Uma capacidade essencial para superar as crises, para resistir nas pobrezas de retorno, para recomeçar verdadeiramente, depois das grandes traições. Porém, esta capacidade convive com a necessidade, também radical, de mutualidade e de comunhão, de ser amados enquanto se ama ou depois de ter amado. Porque os amores mais importantes desenvolvem-se no interior dos pactos, que são compromissos coletivos e mútuos. “Ama o teu próximo” desabrocha em “ amai-vos uns aos outros”, onde o mandamento ao eu e ao tu se alia com o mandamento ao vós e ao nós. E também quando o amor amadurece e alcança as notas paradisíacas do ágape, não deixa nunca de ser também eros e philia (amizade) porque, no fim, permanece indigente do outro como o eros e livre como a philia (o ágape pode elevar apenas “vísceras” movidas e comovidas por todos os amores humanos). É nesta dinâmica de liberdade e de ligação que se encontram as experiências humanas mais sublimes e tremendas. Aos pactos entregamos livremente uma parte de liberdade e, uma vez dada, perdemos a propriedade privada dela. Decidimos livremente expor-nos à liberdade do outro, tornar-nos vulneráveis às suas mudanças de coração, ligar a nossa vida a uma corda de que controlamos apenas um fio e que não é o mais forte.
A Bíblia, nalgumas das suas páginas mais sublimes, tomou as palavras do amor humano maior e mais sério e deu-as a Deus para que pudesse falar-nos do seu amor: ahavah, hesed, dodim e, por fim, ágape. Porque, no amor esponsal, o primeiro dom é a reciprocidade de palavras maravilhosas.

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No princípio (no Génesis), para exprimir a Aliança, a Bíblia tinha recorrido ao contrato comercial e político. Depois, na alma, os profetas intuíram que a primeira linguagem era demasiado pobre e usaram a imagem do matrimónio. Mas, para dar verdade a esta metáfora, os próprios profetas tiveram de estender a analogia até ao fim, e chegaram a tocar também a experiência do pacto traído com as suas palavras trágicas. A dureza extrema das palavras sobre a traição do pacto, que os profetas nos deixaram, diz-nos também a verdade extrema dos nossos pactos e das nossas promessas, que são verdadeiros nas suas palavras mais belas porque são também verdadeiros nas suas palavras desesperadas.

E, assim, graças aos profetas, compreendemos que o amor entre IHWH e nós é gratuito, mas não desinteressado; é incondicional na sua escolha, mas condicionado pelas nossas respostas e traições; é libérrimo ciumento. Quando a Bíblia fala de pactos, diz que o seu Deus é afetado pela nossa fidelidade e infidelidade, porque se pôs na condição de ser traído – a possibilidade de trair Deus alargou o âmbito da liberdade humana e, por isso, estendeu a nossa responsabilidade. É este o paradoxo da traição: o valor de cada fidelidade depende da possibilidade de poder ser infiel, porque ninguém se sentirá amado por alguém a quem se negou a liberdade de o poder trair. E assim, nós temos a capacidade de alegrar Deus («alegrai-vos ó céus…») porque temos também a possibilidade de O fazer sofrer.

Ezequiel é, entre estes profetas extremos e temerários, o que utilizou termos linguísticos inéditos e ousadíssimos: «Assim fala o Senhor Deus a Jerusalém: Pelas tuas origens e pelo teu nascimento, és da terra do cananeu. O teu pai era amorreu e a tua mãe hitita. No dia em que nasceste, não te cortaram o cordão umbilical, não foste lavada em água para seres purificada… Deitaram-te em campo aberto… Cresceste, adquiriste uma beleza perfeita; os teus seios formaram-se e chegaste à puberdade; mas tu estavas nua, completamente nua. Então, passei de novo perto de ti e vi-te; e eis que o teu tempo era o tempo dos amores. Estendi sobre ti a ponta do meu manto e cobri a tua nudez. Fiz, então, um juramento e estabeleci contigo uma aliança e ficaste a ser minha» (16, 3-8).
Jerusalém, de origem pagã e humilde, é “vista” por IHWH, salva, escolhida e feita sua esposa («estabeleci contigo uma aliança»). Depois da época do primeiro amor, depois de a ter transformado de abandonada em princesa («Tornaste-te extraordinariamente bela e chegaste à dignidade real»: 16, 13), a esposa começou a perverter-se, a prostituir-se com homens estrangeiros (egípcio, assírio, caldeu), oferecendo-se a quem quer que passasse pelas suas camas, nos cruzamentos das estradas (16, 20-32). E, como se não bastasse, aquela esposa alterou até a própria natureza da prostituição: «A todas as prostitutas se dá um presente; tu, porém, é que deste a todos os teus amantes um presente, pagaste-lhes para que viessem ter contigo de todas as partes, para se prostituírem contigo» (16, 33). Jerusalém não tinha nenhuma razão económica nem social para se prostituir (ontem e hoje, muitas pessoas, que acabam ao longos das estradas, são vítimas que nem escolhem nem querem aquela vida). A sua escolha era uma escolha intencional, ditada apenas pelo vício e pela procura do prazer e, por isso, culpável.

Ezequiel (e, antes dele, Oseias e Jeremias) foi transformado, por IHWH, em mensagem incarnada. Mas, diferentemente de Oseias, Ezequiel não relata uma vivência autobiográfica. Ele não se casou com uma mulher infiel; fala da sua mulher como «luz dos meus olhos». Mas, ao dizer aquelas palavras de condenação do seu povo prostituído, sente a mesma dor que sentiria se fosse a sua mulher a traí-lo. Assim, podemos explicar ou, pelo menos, intuir a dureza, mesmo lexical, das palavras de Ezequiel (que, na linguagem original e não corrigida pelas traduções, delimitam e cruzam a linguagem sexual vulgar). É o temperamento de Ezequiel, sem dúvida, mas é, sobretudo, o cântico de dor de um verdadeiro esposo traído descaradamente. A Bíblia é grande, por vezes intensa, também e talvez acima de tudo pela sua capacidade de nos fazer encontrar com homens e mulheres completos, tão completos que conseguem fazer-nos tocar também a fímbria do manto de Deus, e sentir que se dá conta do nosso toque. Abaixo desta humanidade integral – que será, depois, a do Batista, de Paulo, de Jesus – encontramo-nos apenas com ideologias e ídolos da religião, que não nos tocam porque são fumo e vanitas.

Mas há mais. Talvez YHWH lhe tenha sussurrado estas palavras enquanto estava a caminhar nas ruas de Babilónia, povoadas de prostitutas. Ao ver os seus negócios, aquelas palavras fizeram-lhe experimentar a dor, enquanto membro e pastor daquele povo prostituído aos ídolos (nenhum profeta verdadeiro perde a solidariedade com o povo que deve admoestar e condenar e, por isso, enquanto condena o povo, admoesta-se e condena-se a si próprio); mas aquele oráculo de YHWH fez-lhe sentir também a dor de Deus pelo povo que O traía. É este o destino dos profetas honestos. Vivem mais vidas; vivem e sofrem mais dores: as suas, as do povo e as de Deus. Se a voz de Deus, que fala aos profetas, é verdadeira, então também a dor de Deus deve ser verdadeira e, na terra, podemos conhecê-la pelo sofrimento dos seus profetas, que nos ensinam as alegrias e as dores dos homens juntamente às alegrias e às dores de Deus. Quando Ezequiel caminhava em Babilónia, naquelas prostitutas, via verdadeiramente Jerusalém, a cidade de David, a cidade santa com o templo santo. Nos gestos errados daquelas mulheres via os próprios gestos perversos do seu povo. Não os imagina; vê-os e, destas “visões” nasce a força do seu grito e do seu vocabulário. Este olhar é o sentido fundamental dos profetas. Vêm coisas diferentes, ouvem coisas diferentes e só depois dizem palavras diferentes.

Ezequiel tinha começado o seu discurso metafórico sobre a traição de Israel no capítulo XV, onde tinha usado a imagem da vinha, outra metáfora bíblica e profética muito comum para representar Israel. Tinha cantado uma vinha cultivada e cavada que, a um dado momento, porém, se estragou, tornando-se totalmente inútil: «Filho de homem, que vale a lenha da videira mais do que qualquer outra cortada nas árvores da floresta? Porventura tira-se dela madeira para fazer algum objeto?... Eis que se lança no fogo, a fim de ser consumida» (15, 2-4). Um processo degenerativo que, depois, prossegue e se exalta nos capítulos seguintes.

Um centro narrativo e teológico destes discursos sobre a depravação de Jerusalém é, então, a relação complexa e perigosa entre eleição e méritos. A lenha da videira não tem, em si, preços especiais; não é melhor que a do carvalho e da faia para fabricar utensílios nem como lenha para queimar. É o cuidado do vinhateiro a torná-la rainha das plantas dos campos. O bom vinho, quando existe, não é mérito da videira, mas dom, gratuidade, graça, charis, ágape. Mas quando a videira e a jovem esposa começam a considerar a sua eleição como o resultado de méritos e não de dom, começa aí a insinuar-se o gérmen da perversão. Para a videira e para a vida. A Bíblia e os profetas dizem-nos, com toda a força de que são capazes (e é verdadeiramente notável), que a eleição, o ser escolhidos entre muitos, é dom – ahavah: ágape.

Em muitas coisas humanas, os méritos determinam e geram a eleição, mas eles não são verdadeiramente decisivos. Não merecemos nascer numa família que nos acolheu, amou, respeitou, fez estudar e acompanhou; e não desmerecemos nascer num país em guerra e sem liberdade. Não merecemos fazer os poucos encontros determinantes, dos quais dependeu o nosso perfil humano e profissional; não merecemos ser “vistos” e chamados pelo nome. É esta radical gratuidade da vida que a Bíblia e os profetas defenderam e defendem até ao fim. Para que nos pudéssemos sentir mais amados que o que merecemos e desmerecemos.

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O exílio e a promessa / 10 – Expomo-nos livremente, ficando vulneráveis, à liberdade do outro.

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 13/01/2019

«Se a mulher não tivesse sido separada do homem, não morreria com o homem. A sua separação marcou o início da morte. Por isso, veio Cristo, para reparar a separação que existia desde o princípio e para unir novamente os dois, homem e mulher»

O evangelho de Filipe, 78-79

O amor humano é uma realidade complexa. Nas relações mais importantes, o amor conhece dimensões de incondicionalidade, isto é, tem a capacidade de amar mesmo sem reciprocidade. Uma capacidade essencial para superar as crises, para resistir nas pobrezas de retorno, para recomeçar verdadeiramente, depois das grandes traições. Porém, esta capacidade convive com a necessidade, também radical, de mutualidade e de comunhão, de ser amados enquanto se ama ou depois de ter amado. Porque os amores mais importantes desenvolvem-se no interior dos pactos, que são compromissos coletivos e mútuos. “Ama o teu próximo” desabrocha em “ amai-vos uns aos outros”, onde o mandamento ao eu e ao tu se alia com o mandamento ao vós e ao nós. E também quando o amor amadurece e alcança as notas paradisíacas do ágape, não deixa nunca de ser também eros e philia (amizade) porque, no fim, permanece indigente do outro como o eros e livre como a philia (o ágape pode elevar apenas “vísceras” movidas e comovidas por todos os amores humanos). É nesta dinâmica de liberdade e de ligação que se encontram as experiências humanas mais sublimes e tremendas. Aos pactos entregamos livremente uma parte de liberdade e, uma vez dada, perdemos a propriedade privada dela. Decidimos livremente expor-nos à liberdade do outro, tornar-nos vulneráveis às suas mudanças de coração, ligar a nossa vida a uma corda de que controlamos apenas um fio e que não é o mais forte.
A Bíblia, nalgumas das suas páginas mais sublimes, tomou as palavras do amor humano maior e mais sério e deu-as a Deus para que pudesse falar-nos do seu amor: ahavah, hesed, dodim e, por fim, ágape. Porque, no amor esponsal, o primeiro dom é a reciprocidade de palavras maravilhosas.

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A tremenda beleza dos pactos

A tremenda beleza dos pactos

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O exílio e a promessa / 9 – A responsabilidade moral e espiritual de cada ação é sempre pessoal

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 06/01/2019

«Como o instinto do mal procura seduzir o homem ao pecado, também procura seduzi-lo a tornar-se demasiado justo»

Martin Buber, Storie e leggende chassidiche

O discurso civil é rico e bom quando conseguimos dizer “tu” a muitas pessoas, que aumentam e se tornam mais verdadeiras com o decorrer dos anos. Todavia, esta boa lei universal conhece poucas e determinantes exceções, onde é preciso que o “tu” seja um só. Os casamentos, por exemplo, têm inscrito na sua natureza a dimensão da unicidade. Algumas, pouquíssimas mas essenciais, palavras do “coração” só se podem dizer à própria esposa porque, se as dizemos a mais mulheres, esvaziam-se da sua beleza e verdade. Quando a Bíblia nos diz que a relação com Deus é vivida como Aliança e pacto, está a dizer-nos algo de muito parecido: se, no meu coração, digo as mesmas palavras a mais que uma divindade, não estou a dizer nada de verdadeiro a nenhuma delas. O Deus bíblico só sabe falar coração-a-coração, só conhece o discurso a dois; connosco apenas procura o dia-logo. A luta anti-idolátrica dos profetas é, portanto, a tentativa de salvar os homens e as mulheres, a possibilidade de poder tratar, verdadeiramente, a Deus por tu, sem nos enganar e sem enganar.

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«Alguns anciãos de Israel aproximaram-se de mim... E a palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: “Filho de homem, estas gentes puseram os seus ídolos no seu coração... Devo Eu deixar-me consultar por eles?”» (Ezequiel 14, 1-3). Os chefes da comunidade do povo de Israel exilado em Babilónia vão ter com Ezequiel e pedem-lhe para interrogar IHWH. Eis a sua reposta: «Convertei-vos, afastai-vos dos vossos ídolos e afastai-vos de todas as vossas abominações» (14, 6). IHWH não responde ao seu pedido e convida-os a abandonar os ídolos. Regressa um tema central da profecia, a idolatria, que nos é apresentada como uma questão de “coração”: o povo e os seus chefes tinham hospedado na alma deuses diferentes do único Deus; tinham-se corrompido intimamente. Esta forma de idolatria, no exílio, é diferente da que Ezequiel tinha observado quando fora levado, “em visão”, ao templo de Jerusalém, habitado por outras divindades, colocadas ao lado de YHWH. Esta, em Babilónia, não é uma idolatria pública, também porque os exilados não tinham o templo. A pouca vida religiosa pública dos deportados continuava a celebrar YHWH como Deus. Era no privado que tinha chegado a corrupção, nas casas onde as famílias introduziam amuletos e imagens babilónicas a que rezavam e adoravam no segredo. Por isso, enquanto no exterior se continuava a rezar ao Deus da aliança, no coração tinham-se introduzido ídolos a que rezavam e adoravam como outros “tu”. Por isso, Ezequiel não pode deixar de dar o único responso possível: convertei-vos e voltai, “virai”, mudai radicalmente de direção, o nosso Deus é verdadeiro e diferente porque não fala, não pode falar num ambiente habitado pelos vossos ídolos.

O profeta conhece, vê, também esta corrupção íntima e secreta, e é esta uma das suas funções mais preciosas. Não as vê porque é um adivinho ou um mago, mas porque, por vocação, tem uma inteligência diferente: sabe ver dentro. Talvez a veja nos olhos dos seus interlocutores, porque os olhos são o espelho da alma e, portanto, de toda a corrupção interior. E como em qualquer traição do corpo e do coração, são os olhos os primeiros a embaciarem-se, perdem brilho, não mantêm o olhar a não ser por poucos segundos, desaparecem deles a luz especial da infância que acompanha durante toda a vida os olhos bons, a que guarda uma pureza diferente que, se a conservamos, será o primeiro dote com que chegaremos ao céu. O seu discurso continua e faz-nos conhecer uma outra forma de falsa profecia: «Se o profeta se deixa seduzir e profere alguma palavra, quererá dizer com isso que fui Eu quem o seduziu; estenderei a minha mão sobre ele e exterminá-lo-ei do meu povo de Israel» (14, 9). Entre os muitos falsos profetas no exílio, havia também os que continuavam a desempenhar a sua profissão no meio do povo corrompido na fé. Sendo vendedores de vanitas, não tinham nenhum diálogo verdadeiro a conservar e, por isso, ofereciam profecias falsas a qualquer requisitante. Por isso, eram muito estimados pelo povo, satisfaziam as suas necessidades religiosas, mas, na realidade, traiam-no e enganavam-no, e tornavam (e tornam) a vida ainda mais dura aos profetas honestos.

Este tratado sobre a idolatria conclui-se (por agora) e, imediatamente, com uma reviravolta narrativa, encontramo-nos dentro dum horizonte diferente, em que Ezequiel nos revela coisas novas e muito importantes: «Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: “Filho de homem, se um país pecasse contra mim por revolta e Eu estendesse a minha mão contra ele… se estivessem neste país estes três homens - Noé, Daniel e Job - estes homens salvariam a sua vida graças à sua justiça”» (14, 12-14). Aqui, o grande tema é o da responsabilidade individual das ações e a transmissão das culpas (e dos méritos) de pais para filhos («porém, se estivessem lá Noé, Daniel e Job, … eles não salvariam seus filhos e filhas, e apenas salvariam as suas vidas»: 14, 20). Ezequiel, para dar força ao seu discurso e o universalizar, refere três figuras lendárias e não hebraicas, conhecidas pela sua grande justiça – impressiona a cultura de Ezequiel, que abarca as civilizações afastadas e antigas e, nisto, é o maior que os outros profetas bíblicos. Noé, Job e Daniel eram personagens míticos do Médio Oriente que, depois, a Bíblia retomará e transformará em obras-primas espirituais e literárias. Ezequiel diz-nos que nem sequer estes campeões éticos absolutos conseguiriam, com a sua proverbial justiça, salvar os seus filhos. Porquê?

A relação entre as culpas e a justiça dos pais e as dos filhos é um tema que, em formas não totalmente coerentes entre si, acompanha toda a Bíblia. A vida é uma corda (fides) que serpenteia entre as gerações e, de cada uma delas, sai marcada e ensinada (in-segnata, no original). Nós sabemos que, mais que qualquer teoria religiosa ou científica, é um dado da vida que as culpas e os méritos dos pais e das mães se transmitem aos filhos. As suas virtudes, a sua inteligência, a sua economia e a sua cultura, as suas escolhas éticas, os seus erros e os seus pecados condicionam muito, por vezes determinantemente, a nossa vida, no bem, e no mal. Mas nós – e Ezequiel – também sabemos que somos maiores que o destino inscrito nos nossos genes e no nosso passado. Um dos caracteres que tornam o Adão “um pouco inferior aos Elohim” (Salmo 8) é a nossa capacidade de nos tornarmos diferentes de como deveríamos ser pela família de que provimos, pelas bênçãos e pelas feridas da nossa infância e juventude. Somos muito mais que acaso e necessidade, embora neste “muito mais” se esconda a possibilidade de piorar o nosso destino (porque uma vida pior è sempre preferível a uma vida determinada pelo nosso passado, porque o valor da liberdade é infinito).

Então Ezequiel e nós sabemos que existem virtudes e culpas que não se transmitem por linha familiar e, em muitos casos, é bom que seja assim. Nós sabemos, mas não foi sempre assim, e não era assim em Israel, no tempo de Ezequiel (que, não por acaso, retomará este tema no capítulo 18). De facto, as civilizações quiseram deduzir as virtudes e, sobretudo, as culpas dos pais das ações dos filhos - «que família teve este jovem para fazer isto?!». E, assim, durante milénios, as responsabilidades individuais tornaram-se coletivas, o estigma privado transformou-se em familiar e público e atacou muitos inocentes, pais e filhos. Neste capítulo do seu livro, Ezequiel está agora a dizer-nos algo de novo e de extremamente significativo: a responsabilidade moral e espiritual das ações é pessoal. Uma tese teológica e antropológica que tem enormes consequências, simultaneamente esplêndidas e tremendas. Um filho mau não pode ser resgatado por um pai bom, que pode permanecer – e, geralmente, permanece – justo apesar do seu filho se tornar injusto. Esta é uma lei moral que deriva da seriedade e da verdade da história e da nossa dignidade e liberdade. Há méritos e bondade dos nossos filhos que não podemos nem devemos atribuir aos nossos cromossomas e à nossa hereditariedade, como existem degenerações e pecados que não devemos ver como nossa responsabilidade e culpa. Vemo-los crescer, mudar e, por vezes, tornarem-se piores do que podiam e deviam ser. Fazemos de tudo para os redimir e salvar mas, um dia, chegam a um patamar que não conseguimos ultrapassar, que não devemos ultrapassar.

É o limiar que delimita e guarda a sua responsabilidade pessoal que, de certo modo, os protege das nossas heranças estragadas, os liberta também do destino e os pode tornar melhores que nós, os defende também do nosso desejo santo de os salvar dos abismos que nós já vemos abrir-se debaixo dos seus pés. A sua necessária liberdade que os salva dos nossos pecados é a mesma liberdade que não lhes permite de se agarrar às nossas virtudes. Este é um dos grandes mistérios da paternidade, talvez o maior: a alegria que experimentamos quando vemos os nossos filhos e filhas tornarem-se mais bonitos e melhores que nós é verdadeira porque também é verdadeira a nossa dor quando assistimos, impotentes, à sua deterioração. A maturidade espiritual da vida adulta depende muito da aprendizagem da arte de assistir, impotentes, aos calvários dos nossos filhos sem desesperarmos nem mergulhar num sentimento de culpa. Por vezes, conseguimos descravá-los do madeiro ou a cravar-nos nós em vez deles. Fazemo-lo muitas vezes. Mas não o podemos fazer sempre porque, nesta nossa impotência e dependência, estamos a gerar neles a possibilidade de se tornarem pais e mães de filhos e filhas que, talvez, se tornem melhores que eles, melhores que nós.

Dedicado a Marco, regressado à Casa do Pai e que soube conservar a pureza dos olhos bons.

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O exílio e a promessa / 9 – A responsabilidade moral e espiritual de cada ação é sempre pessoal

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 06/01/2019

«Como o instinto do mal procura seduzir o homem ao pecado, também procura seduzi-lo a tornar-se demasiado justo»

Martin Buber, Storie e leggende chassidiche

O discurso civil é rico e bom quando conseguimos dizer “tu” a muitas pessoas, que aumentam e se tornam mais verdadeiras com o decorrer dos anos. Todavia, esta boa lei universal conhece poucas e determinantes exceções, onde é preciso que o “tu” seja um só. Os casamentos, por exemplo, têm inscrito na sua natureza a dimensão da unicidade. Algumas, pouquíssimas mas essenciais, palavras do “coração” só se podem dizer à própria esposa porque, se as dizemos a mais mulheres, esvaziam-se da sua beleza e verdade. Quando a Bíblia nos diz que a relação com Deus é vivida como Aliança e pacto, está a dizer-nos algo de muito parecido: se, no meu coração, digo as mesmas palavras a mais que uma divindade, não estou a dizer nada de verdadeiro a nenhuma delas. O Deus bíblico só sabe falar coração-a-coração, só conhece o discurso a dois; connosco apenas procura o dia-logo. A luta anti-idolátrica dos profetas é, portanto, a tentativa de salvar os homens e as mulheres, a possibilidade de poder tratar, verdadeiramente, a Deus por tu, sem nos enganar e sem enganar.

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Maiores que o nosso destino

Maiores que o nosso destino

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O exílio e a promessa / 8 – Não se “trai” apenas por lucro, mas também por amor sem verdade

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 30/12/2018

Ezechiele 08 rid«A palavra só é essencial e eficaz quando nasce do silêncio. O silêncio abre a fonte interior donde brota a palavra»

Romano Guardini, O testamento de Jesus

A luta entre profecia e falsa profecia é uma constante da história humana. Encontramo-la no centro da política, da economia, das religiões. Nas comunidades existem pessoas às quais lhes é reconhecido o papel de “visão” porque portadores de um carisma, de uma capacidade de ver de modo diferente e mais longe, de traçar cenários presentes e futuros, de indicar caminhos de salvação, de bem-estar, de crescimento humano e ético. Os “profetas” porém, não são todos iguais. As sortes das realidades dependem decididamente da capacidade de identificar e seguir as vozes honestas e verdadeiras e de desconfiar das falsas. A Bíblia identificou alguns indicadores da verdadeira e falsa profecia. Aperfeiçoou-os com o tempo, testou-os e, depois, guardou-os para nós, para que os pudéssemos usar nos nossos discernimentos.

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Uma primeira nota. Os falsos profetas apresentam-se com os mesmos traços distintivos dos profetas verdadeiros. Geralmente, ambos pertencem à comunidade profética, exercem a mesma profissão, receberam o mesmo mandato do povo e, frequentemente, também uma vocação profética. O profeta verdadeiro está no mesmo palco dos falsos, fala diante das mesmas pessoas – que preferem os segundos. Por isso, Ezequiel chama “profetas” (nabi) também aos que nós chamaríamos falsos profetas. «Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: “Filho de homem, profetiza contra os profetas de Israel”» (13, 1-2). Reconhece-os como colegas, mas denuncia-os como profetas desviados. Porquê? Ondem erram os falsos profetas?

Os falsos profetas de que fala Ezequiel não são charlatães infiltrados na comunidade (mesmo se, naqueles tempos confusos e tremendos, estes também existiram), porque se fosse assim, não os chamaria “profetas”. Aqui, os falsos profetas são profetas que perderam a alma, embora conservando a técnica e a profissão proféticas. E, como acontece sempre que temos que lidar com a alma, ela pode desaparecer enquanto continuamos a realizar a mesma vida e a mesma profissão de sempre. Dissemos, durante anos, a mesma Missa, mas, um dia, desaparece o sopro que dava folego a gestos e palavras; damos as mesmas aulas, mas o espírito, que enchia a sala e a animava, já não existe. A alma é sopro (anemos), é espirito. Quanto morre o sopro, desaparece a vida. O profeta apaga-se e torna-se uma coisa diferente, alguém diferente. Na Bíblia e na nossa vida, são precisos profetas verdadeiros para aceitar e denunciar outros profetas que perderam a alma e se desviaram do caminho reto. Enquanto houver um profeta verdadeiro com a força de denunciar os falsos, podemos sempre esperar salvar-nos dos vendedores de vanitas.

Ezequiel, neste capítulo, dirige-se diretamente aos profetas que se estragaram pelo “lucro” pessoal ou de grupo. Dirá às profetizas, também elas ativas em Israel: «Vós profanais-me entre o meu povo, por um punhado de cevada e uns bocados de pão» (13, 19). Os profetas são particularmente duros com “os profetas for-profit”, porque sabem que a essência da vocação profética autêntica é a gratuidade e, por isso, têm o trabalho facilitado para identificar a falsa profecia com a ausência da gratuidade, indicador infalível. Sendo competentes absolutos na arte da gratuidade, porque falam e calam para além de qualquer cálculo utilitarista, basta-lhes ver aparecer qualquer forma de paga – económica, de status, de poder... – para colocar a sua sentença certa e inapelável de falsa profecia. Mas o interesse económico não é nem a primeira nem a mais importante razão da traição de um profeta – quase sempre, a corrupção económica é consequência de uma corrupção mais profunda: a do coração. Ezequiel diz-nos claramente donde depende a falsa profecia: «Ai dos profetas insensatos que seguem o seu próprio espírito, sem nada verem!» (13, 3). O profeta perde a alma porque começa a profetizar “seguindo o seu próprio espírito”; portanto, não seguindo já o outro espírito, que lhes falava e cujas palavras ele ou ela referia.

Se o falso profeta de hoje foi, ontem, um profeta autêntico, porque fez a experiência de uma voz falante e chamadora, as formas da degeneração são todas variações de um tema principal: o silêncio da voz profética. O profeta entra no estádio de silêncio da voz, coisa normal neste tipo de vocações (ver Jeremias). Porque o profeta autêntico não é dono da voz, não lhe responde ao comando, não sabe se e quando voltará a falar nem muito menos o que lhe dirá. Alterna palavra e silêncio, poucas palavras e muito silêncio. Só fala quando uma ordem, dentro de si, lhe diz para o fazer; fala quando já não pode calar mais. É um obediente dócil a uma voz não sua. Deve resistir, com muito esforço e muita dor, mesmo quando a sua comunidade sofre e lhe pede salvações que ele não pode anunciar porque não as escutou, porque não lhe foi “dirigida” aquela palavra. Todas as vezes, recomeça do zero. A experiência passada purifica a técnica, aumenta as competências gerais, mas não o ajuda a ter a certeza de, amanhã, o espírito profético continuar a falar-lhe. A profecia não é magia, não é técnica adivinhadora. É dom e, como todos os verdadeiros dons, é sempre acompanhada pela surpresa. Devemos imaginar os profetas verdadeiros a admirarem-se profundamente sempre que a voz lhe fala e lhe dá poucas palavras diferentes. Podem imaginá-las, esperá-las, rezá-las, mas ficam sempre carentes de palavra – também por isso, o profeta verdadeiro é e deve ser sempre um pobre. Mesmo que o tenham visto voltar cem vezes, cada vez que um filho volta a partir com “a parte da sua herança”, continuam a ter a lanterna acesa de noite e a olhar para o horizonte, esperando que volte mais uma vez: e, se volta, lança-lhe os braços ao pescoço com o mesmo assombro comovido da primeira vez.

Resistir nestas pausas da voz que, por vezes, podem durar anos, ou até décadas, é extremamente doloroso. E, assim, no silêncio do primeiro espírito, o profeta, para poder responder às perguntas que, urgentes e fortes, se elevam até ele, pode ceder à tentação de beber do próprio espírito, sem esperar novas “visões”. A necessidade de continuar a desempenhar a própria missão prevalece e o silêncio do espírito é cheio pelas suas próprias palavras. Os artistas sabem isto muito bem, porque perdem a alma quando, na falta do sopro da inspiração, não conseguem permanecer no silêncio e na esterilidade e começam a escutar outros espíritos. Existem profetas transformados em falsos apenas porque não souberam resistir silenciosos aos fortes gritos da sua comunidade em crise. Estes são muito difíceis de reconhecer e, por isso, são mais perigosos porque, por vezes, são movidos por alguma coisa parecida à gratuidade. Não mudam de espirito por lucro ou por ganho, mas por acolher uma forma de amor-gratuidade sem verdade. Como existe uma falsa profecia, existe também uma falsa gratuidade, a não acompanhada da verdade acerca de si.

O principal e talvez o único exercício moral e espiritual do profeta está em distinguir os espíritos que lhe falam. Todos – mas sobretudo quem recebeu uma vocação – sabemos que o nosso coração é habitado por muitas vozes. Entre estas, há uma delicada e diferente de todas as outras, a que contém o espírito da vocação. Há pessoas que descobriram ter uma vocação, no dia em que compreenderam que a voz que falava no coração, desde crianças, não era a mais verdadeira. Depois, escutaram mais profundamente e encontraram uma outra voz que dizia coisas diferentes e mais verdadeiras e seguiram-na. A beleza trágica de quem recebeu uma vocação está na guarda do diálogo com esta voz necessária e não controlável – e, talvez, no fim da corrida, nos aperceberemos que todas as vozes eram tons de uma única belíssima melodia, que nós não escrevemos. Porém, dado que o profeta começa a colocar entre aspas («assim fala o Senhor») as palavras que lhe sugere o seu próprio espírito, sai da comunidade dos verdadeiros profetas (13, 9). E é uma saída definitiva, porque a voz profética já não pode falar numa alma ocupada, porque as “visões” diferentes têm necessidade de todo o espaço interior – é muito raro que um profeta estragado reaprenda a escutar de novo os espíritos diferentes.

As formas da decadência são, portanto, muitas. Mas Ezequiel descreve-nos, com clareza, alguns traços comuns: «Como raposas entre ruínas, são os teus profetas, ó Israel. Vós não subistes às brechas e não levantastes muralhas à volta da casa de Israel» (13, 4-5). Os falsos profetas, como lobos ou chacais, tiram vantagens das ruinas da sua cidade, transformam as casas destruídas em tocas e refúgios e circulam nas brechas, à procura de alimento. Os profetas honestos sobem às brechas e procuram reconstruir; os falsos têm necessidade das ruinas para os seus negócios e, por isso, não querem superar as crises porque são elas a principal fonte de sucesso e de lucro (quem nega a gravidade da crise quando já se está dentro de uma devastação é, com certeza, um falso profeta, em boa ou má fé). Forte e eficaz é também a segunda imagem que usa Ezequiel: «se o meu povo construía um muro, eis que eles o cobriam de reboco» (13, 10). O povo construiu um muro frágil, com os tijolos das falsas ilusões e das esperanças vãs; os falsos profetas o rebocaram com promessas de salvação e milagres para lhes conferir aparência de robustez. Assim, a única salvação verdadeira, a do “resto” que voltará, é negada e as palavras de Ezequiel (e de Jeremias) são caladas como profecias de desventura, inimigas do povo de Deus.

Por fim, dentro desde horizonte de dor (o maior sofrimento dos profetas é ver a sua gente a cair nas ilusões dos falsos profetas), Ezequiel dá-nos uma grande palavra de esperança: «arranco-as dos vossos braços para que levantem voo» (13, 20). O profeta é um libertador. Solta-nos das cordas das falsas ilusões e das falsas consolações para que possamos vislumbrar uma verdadeira e diferente na linha do horizonte. E, depois, libertar-nos para um voo mais alto.

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O exílio e a promessa / 8 – Não se “trai” apenas por lucro, mas também por amor sem verdade

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 30/12/2018

Ezechiele 08 rid«A palavra só é essencial e eficaz quando nasce do silêncio. O silêncio abre a fonte interior donde brota a palavra»

Romano Guardini, O testamento de Jesus

A luta entre profecia e falsa profecia é uma constante da história humana. Encontramo-la no centro da política, da economia, das religiões. Nas comunidades existem pessoas às quais lhes é reconhecido o papel de “visão” porque portadores de um carisma, de uma capacidade de ver de modo diferente e mais longe, de traçar cenários presentes e futuros, de indicar caminhos de salvação, de bem-estar, de crescimento humano e ético. Os “profetas” porém, não são todos iguais. As sortes das realidades dependem decididamente da capacidade de identificar e seguir as vozes honestas e verdadeiras e de desconfiar das falsas. A Bíblia identificou alguns indicadores da verdadeira e falsa profecia. Aperfeiçoou-os com o tempo, testou-os e, depois, guardou-os para nós, para que os pudéssemos usar nos nossos discernimentos.

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O engano da falsa gratuidade

O engano da falsa gratuidade

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O exílio e a promessa / 7 – Não nos “centros” dos poderosos falsos profetas, mas nas periferias e entre os últimos

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 23/12/2018

Ezechiele 07 rid«Suplico-te: Deus, meu sonhador, continua a sonhar-me»

J. L. Borges, Storia della notte

A Bíblia é a narração de migrações, de exílios, de povos nómadas e de tendas móveis, é a estupenda história de um arameu errante que segue uma voz num horizonte infinito. Numa aldeia de exilados, nos arredores de Babilónia, por ordem de YHWH, a profecia ganha a forma do migrante, e o homo migrans torna-se palavra bíblica na carne de um dos maiores profetas. E ali permaneceu para sempre. Em Ezequiel, profeta pobre e exilado, sacerdote sem templo de um Deus derrotado, todo o emigrado da terra pode ler a sua história, pode rezar com as suas palavras se esgotou as suas, pode senti-lo companheiro de viagem e de fugas noturnas por terra e por mar, sob o mesmo véu que tapa os olhos para não morrer de dor.

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Passou mais de um ano, desde o início da atividade profética de Ezequiel, e os seus compatriotas, como ele no exílio, não compreendem nem as palavras nem os sinais do profeta. O jovem profeta recebe uma nova e específica palavra de YHWH, que o convida a continuar, para além do seu fracasso: «Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: “Filho de homem, tu moras no meio desta raça de gente rebelde que tem olhos para ver e não vê, ouvidos para ouvir e não ouve”» (Ezequiel 12, 1-2). Ezequiel sabia que a sua missão era uma missão impossível, porque o tinha ouvido no dia da sua vocação («Filho de homem, vou enviar-te aos filhos de Israel, aos rebeldes»: 2, 3). Mas, enquanto está a experimentar, na sua carne, a verdade daquelas palavras do primeiro dia, eis que uma nova palavra lhe repete o que ele já sabia. Porque o anúncio do fracasso é sempre muito diferente da experiência do fracasso, ao qual nunca se chega preparado.

Voltar a escutar as palavras da anunciação de ontem, enquanto hoje se luta e se procura resistir, é um dom que permite continuar a luta, embora sabendo que não venceremos. Umas vezes, as primeiras palavras voltam da mesma voz e (quase) do mesmo modo; outras vezes, com a voz de um amigo, outras ainda com a voz dos pobres ou da dor da terra. E, assim, pode acontecer que um profeta não volte a ouvir a primeira voz, porque lhe chegou “como subtil voz do silêncio”, quando ele a esperava no forte vento ou no tremor de terra. Mas também pode acontecer que as segundas palavras nunca cheguem verdadeiramente. Há profetas que caminharam toda a vida com as únicas palavras do dia da vocação. Continuaram o caminho e tornaram-se palavra para os outros.

YHWH, pelo contrário, fala ainda a Ezequiel e, apesar do fracasso que está a registar, pede-lhe para continuar a produzir gestos e palavras proféticas: «Tu, filho de homem, prepara a tua bagagem de emigrante e sai de dia, à vista deles… Sairás à tarde, à vista deles, como saem os exilados. Faz um buraco na parede, à vista deles, e sai através dele. À vista deles, põe a bagagem aos ombros e sai na obscuridade. Cobre o rosto para não poderes ver o país» (12, 3-6). Ezequiel acolhe a palavra: «Procedi conforme me foi ordenado» (12, 7). Num tempo, como o nosso, dominado pela ideologia do sucesso e da obsessão de reentrar entre os “vencedores”, os profetas dizem-nos que pode haver uma vida boa entre as derrotas e os insucessos. E que o caminho bom da vida é frequentado, quase exclusivamente, por “perdedores” que continuam a caminhar com dignidade e cabeça erguida, apesar das derrotas. O fracasso do profeta não é um fracasso da sua profecia, porque o insucesso e a não-escuta são intrínsecos à profecia e distinguem-na da falsa.

Detenhamo-nos um momento; paremos, e olhemos bem para este profeta que incarna a condição do exilado. Este capítulo do livro de Ezequiel repete muitas vezes que o profeta fez aqueles gestos “diante dos olhos do povo”. Entre aqueles “olhos” devem estar também os nossos, porque aqueles gestos-sinais de Ezequiel continuam a estar vivos e eficazes se conseguimos vê-los aqui e agora, se os vemos a realizar perfeitamente o seu exercício, exposto na praça da terra. E, assim, vemo-lo carregar a bagagem de exilado e, ao pôr-do-sol, partir da sua casa e da sua terra. Na obscuridade, como muitos migrantes, com o fardo aos ombros, com o rosto coberto com um véu, para impedir que os olhos húmidos “vejam o país” e, assim, não demorar na saudade da casa deixada para sempre – quando um imigrado parte, viverá melhor na nova terra se não cultivar a recordação da casa deixada; por isso, não deve partir com aquela última imagem na pupila (a saudade é sempre péssimo dote quando se quer ou se deve recomeçar).

Aquele sinal profético de Ezequiel não era fácil de decifrar. A maior parte terá visto nisso a profecia do regresso a casa, a Jerusalém. Os falsos profetas, presentes e ativos também no exílio, vendiam, como sua principal mercadoria, a certeza do regresso iminente à pátria e o fim do exílio. Mas Ezequiel revela um significado radicalmente diferente e desconcertante: «Diz: ‘Eu sou para vós um sinal. Como eu fiz, assim vos será feito.’ Eles irão para o exílio, para o cativeiro» (12, 11). Portanto, o exílio é o destino de quem permaneceu no país: não só os primeiros deportados para Babilónia não voltarão, como também será deportado todo o resto do povo (como, de facto, acontecerá poucos anos depois, em 587). Eis, portanto, a primeira surpresa: o gesto, embora realizado entre os exilados, era dirigido a quem permaneceu em Jerusalém. Quem sabe quantos Ezequiel estão hoje a profetizar nos nossos campos de refugiados e de não-acolhimento e, a partir dali, realizam gestos que são mensagens dirigidas a nós. Se queremos escutar alguma palavra verdadeira sobre o destino que nos espera, não as devemos procurar nas catedrais e nos templos dos nossos “centros”, onde atuam muitos falsos profetas. Poderemos encontrá-las nas periferias, nas deportações, nos exílios, nas infinitas peregrinações, onde acontecem gestos e sinais que nós pensamos que não nos dizem respeito quando, pelo contrário, são dirigidos a nós que, como os concidadãos de Ezequiel, temos a cerviz demasiado dura para os compreender, os acolher e nos convertermos.

Há também um elemento essencial: Ezequiel preparou-se verdadeiramente para emigrar, fez realmente um buraco na casa, saiu verdadeiramente ao pôr-do-sol e, durante a noite, vagueou exilado, fora da cidade. Os gestos proféticos são carne viva, caso contrário, seriam ineficazes e inúteis. São mais “pequenos” que o acontecimento real, mas são verdadeiros e, assim, falam, tornando-se sacramento e sinal: «Eu faço de ti um símbolo para a casa de Israel» (12, 6). Este sinal maravilhoso continua a dizer palavras de carne: «Foi-me dirigida a palavra de Deus nestes termos: “Filho de homem, comerás o teu pão a tremer e beberás a tua água na inquietação e na angústia”» (12, 17-18). É também o corpo do profeta a profetizar e a dizer aos habitantes de Jerusalém que está a chegar o tempo do cerco e, depois, do exílio, quando o pão e a água serão escassos e consumados no medo e na angústia, que farão tremer todo o corpo. Depois da paralisia e do mutismo, é também o seu corpo a dizer palavras mais importantes com os tremores e as sacudidelas, provavelmente verdadeiras convulsões. Não sabemos durante quanto tempo durou, para Ezequiel, esta experiência de comer e beber com as mãos e todo o corpo trémulo, mas sabemos que foi uma experiência real e verdadeira, que o tocou e feriu e que talvez o marcou na carne para toda a vida, porque eram experiência verdadeiras e incarnadas.

A dura luta que, desde sempre, os profetas combatem contra os falsos profetas gira à volta da palavra verdade. Se, no lugar de Ezequiel, estivesse um falso profeta, teria utilizado uma máscara para interpretar um guião escrito por ele próprio. Ezequiel não: enquanto segura um guião que alguém tinha composto para ele, torna-se, ao realizá-lo, o que representa. Em cada gesto profético, repete-se a experiência admirável que os atores fizeram pelo menos uma vez na vida, quando, depois de ter recitado muitos guiões e muitas vezes o mesmo guião, uma noite, enquanto se encontravam no mesmo teatro, a repetir as mesmas palavras, acontece o milagre: inesperadamente, desaparecem palco, público, autor e guião, e o ator torna-se as palavras e os gestos que está a recitar. Como revive o acontecimento que pode (e deve) acontecer a quem trabalha verdadeiramente, quando, depois de realizar, durante anos, ordens e diretivas externas, um dia, desaparecem inesperadamente gerente, hierarquias, competências, e nos damos conta que aquele trabalho se tornou totalmente íntimo e alma, que se anulou a distância que separava o nosso trabalho do nosso coração. Ou a experiência de quem, depois de ter recitado, durante décadas, orações e salmos aprendidos e herdados da comunidade, finalmente, numa liturgia diferente, compreende que se tornou a oração que está a dizer, onde as palavras mais santas são as pronunciadas pelo seu corpo tremente e ferido.

Estas experiências – extraordinárias e, por vezes, únicas – são a normalidade na vida do profeta, que pode dizer palavras diferentes porque, antes de as dizer, as “comeu”, porque se tornaram bagagem às suas costas, buracos verdadeiros no muro de casa, pão e água ingeridos nos espasmos das convulsões. Palavra feita carne. O povo de Israel não se converteu, não compreendeu nem acolheu a mensagem de Ezequiel. Não compreendeu que o profeta era um sinal maravilhoso dirigido a eles. Veio para os seus, mas os seus não o acolheram. Seis séculos depois de Ezequiel, o profeta tornado sinal de exílio e de migração, um menino, um filho, torna-se sacramento e sinal maravilhoso para nós. Um divino migrante que, partindo, não colocou um véu a cobrir os olhos, porque queria que a imagem da sua “casa” permanecesse impressa nas suas pupilas e, assim, nós, vendo-as, pudéssemos contemplá-la. Bom Natal!

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O exílio e a promessa / 7 – Não nos “centros” dos poderosos falsos profetas, mas nas periferias e entre os últimos

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 23/12/2018

Ezechiele 07 rid«Suplico-te: Deus, meu sonhador, continua a sonhar-me»

J. L. Borges, Storia della notte

A Bíblia é a narração de migrações, de exílios, de povos nómadas e de tendas móveis, é a estupenda história de um arameu errante que segue uma voz num horizonte infinito. Numa aldeia de exilados, nos arredores de Babilónia, por ordem de YHWH, a profecia ganha a forma do migrante, e o homo migrans torna-se palavra bíblica na carne de um dos maiores profetas. E ali permaneceu para sempre. Em Ezequiel, profeta pobre e exilado, sacerdote sem templo de um Deus derrotado, todo o emigrado da terra pode ler a sua história, pode rezar com as suas palavras se esgotou as suas, pode senti-lo companheiro de viagem e de fugas noturnas por terra e por mar, sob o mesmo véu que tapa os olhos para não morrer de dor.

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Como um sinal maravilhoso

Como um sinal maravilhoso

O exílio e a promessa / 7 – Não nos “centros” dos poderosos falsos profetas, mas nas periferias e entre os últimos por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 23/12/2018 «Suplico-te: Deus, meu sonhador, continua a sonhar-me» J. L. Borges, Storia della notte A Bíblia é a narração de migraçõe...
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O exílio e a promessa / 6 – A nova e verdadeira festa é onde parece não haver qualquer “mérito”

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 16/12/2018

Ezechiele 06 rid«E talvez tenhamos paz
quando tudo estiver perdido
e sentirmos inúteis as palavras
e estes encontros que nos iludem.

Então, a angústia será
ter descoberto – demasiado tarde –
esta perdida existência…».

David Maria Turoldo, de O sensi miei [Oh sentidos meus]

As vigílias marcam o ritmo das festas e das suas esperas. É o tempo em que o dia diferente se prepara e amadurece, quando se forma e cresce o desejo. As crianças são os grandes especialistas das vigílias – dos aniversários, dos primeiros dias de escola, do passeio. Elas sabem que, na “aldeia”, o sábado é um dia bonito porque será seguido por um dia ainda mais bonito. Porque sabem que as festas são verdadeiras, que não são apenas ilusões de um desejo estrangulado no dia em que se realiza, porque verdadeiros são os pais, os professores, os companheiros, porque são verdadeiros dons. É a verdade da festa que torna verdadeiros o desejo e a espera, sua vigília. Uma inovação do nosso tempo é a invenção de vigílias sem festa porque, na era das festas marcadas pelo negócio, ficam só as vigílias. Não sabendo, coletivamente, quem e o que festejam verdadeiramente, permanecemos numa sucessão contínua de “sábados da aldeia”. À vigília de Natal sucederá a vigília das vendas e, depois, a de S. Valentim e assim por diante, durante todo o ano, onde novas vigílias nos fazem esquecer a tristeza das festas negadas. E o ano voará velocíssimo, porque com o tempo diferente da festa roubado, que estaria ali para nos fazer saborear um pedaço de eternidade – mesmo que vivamos mais anos que os nossos avós, estamos a viver dias muito mais breves que eles.

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Se alguém quer reencontrar o sentido da festa e da vigília (e é preciso fazê-lo depressa, porque uma cultura que não conhece a verdade do “dia de festa” não conhece a verdade da vida e da morte), deve procurá-lo entre os pobres, porque é lá que a festa continua a viver junto à sua vigília não-vã. Antes, porém, temos de nos aproximar do sentido da pobreza e dos pobres, e libertar-nos das nossas maldições. E, também aí, os melhores mestres serão os profetas.

«Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: “Filho de homem, é a teus irmãos, a teus familiares e a toda a casa de Israel que os habitantes de Jerusalém dizem: ‘Eles estão longe de Deus; a nós é que o país foi dado em herança’”» (Ezequiel 11, 14-15). O povo que escapou à primeira deportação babilónica lia o exílio dos seus compatriotas como maldição de Deus. O afastamento da pátria e do templo santo era visto como punição divina, como consequência dos seus pecados. A soberba religiosa alimentava a falsa segurança de ser a parte eleita, os verdadeiros proprietários da terra e, assim, os deportados pelos babilónios tornavam-se os deportados de YHWH. Na história das civilizações sempre nasceu, quase invencível, a necessidade de encontrar uma justificação sobrenatural para as suas desventuras e, sobretudo, para as desventuras dos outros. A mais comum, porque a mais simples, era oferecida pela lógica económica: quem hoje sofre está a pagar uma dívida por alguma culpa amadurecida ontem e quem goza está a recolher os frutos dos seus méritos. Os ricos encontravam-se, assim, num duplo paraíso (o da terra e o do céu), e os pobres viviam num duplo inferno, prisioneiros dentro de uma perfeita armadilha, sem esperança de libertação. As meritocracias sempre tiveram necessidade (e ainda a têm) de pobres merecedores da sua desventura, de um escabelo sobre o qual os eleitos pudessem apoiar os pés para subir ao seu céu.

Os profetas, por vocação, põem em crise estas fáceis e banais religiões do mérito e da culpa e revelam-nos uma outra lógica, mostram-nos uma outra ideia de pobreza e de justiça: «Assim fala o Senhor Deus: “Sim, afastei-os entre as nações e dispersei-os para os países estrangeiros; e a custo fui para eles um santuário, nos países para onde eles foram”» (11, 16). Também Jeremias, irmão e mestre de Ezequiel, o tinha profetizado: o cesto de figos bons não é o que permaneceu na pátria, mas o deportado para Babilónia (Jeremias 24, 1-2). A profecia descreve uma outra teologia e, quando esta falta, ficamos prisioneiros de esquemas ideológicos que têm como único objetivo a justificação da nossa condição de salvos e da nossa indiferença.

Esta dinâmica repete-se, frequentemente, também nas nossas comunidades ideais e espirituais. Uma parte ou alguém encontra-se exilado, deportado em terras estrangeiras, arrastado por algum império ou demónio revelados demasiado fortes para opor resistência. Quem permanece em casa sente a necessidade de fazer uma leitura religiosa da saída dos outros e da sua permanência; e, assim, para se sentir seguro e fiel, acaba, por vezes em boa-fé, por condenar quem saiu. Separa-se moralmente deles, deixa-os no seu monte de estrume e, depois, procura, como os “amigos” de Job, convencer-se e convencer que por detrás daquela desventura deve haver alguma culpa que permaneceu escondida. O profeta, pelo contrário, continua o cântico de Job e repete aos deportados, a quem permanece em casa, a nós: «Estou inocente; e, se nesta história há algum culpável, é encontrado na vossa ideia errada de Deus e, portanto, da vida». Os profetas dão voz à parte amaldiçoada do mundo e recordam-nos que se há um Deus verdadeiro, este deve ser procurado, antes de mais, nos montes de estrume, nos campos de deportados, entre os exilados, entre os rejeitados e os amaldiçoados. É aí que espera e, por vezes, nos encontra, talvez depois de o ter procurado e não o ter encontrado nos lugares onde pensávamos que estivesse, e quando tínhamos perdido toda a esperança (as experiências espirituais maravilhosas são as que chegam quando estávamos seguros que não chegaria mais nada).

Mas Ezequiel diz-nos algo ainda mais forte e revolucionário: YHWH promete aos deportados que será para eles “um santuário”. Numa cultura religiosa antiga, onde a proteção dos deuses era limitada ao território nacional e onde a saída da terra significava saída da área da ação da divindade, Ezequiel não diz apenas que YHWH está vivo e atua também no exílio, mas que será a sua presença a substituir o santuário que já não têm. A condição objetiva do exílio, a falta do templo e de muitas dimensões do culto religioso, permite àquele “resto” rejeitado dar um salto qualitativo na fé. Intuíram, graças aos profetas, que Deus não podia estar confinado a um lugar, que não habita apenas nos lugares sagrados, porque a sua casa era a terra inteira, não apenas a terra da promessa. Deus é maior que o culto religioso, com que O veneravam. É diferente e maior que os nossos sacrifícios, que as nossas liturgias, porque é um Deus leigo (que vive no meio do povo). Uma mensagem enorme, também nos dias de hoje, mas extraordinária naquele povo do templo diferente e único. “Serei o teu santuário”: quantas vezes, pessoas rejeitadas, comunidades exiladas sentiram ecoar como verdadeira, na sua alma, esta esplendida promessa; e ali, no meio de divindades estrangeiras, perdidas e desesperadas, compreenderam que nada faltava, que não eram amaldiçoadas nem abandonadas, mas que foram conduzidas ao deserto para celebrar uma nova aliança, uma nova festa, uma nova Páscoa. E o céu abria-se, desciam os Elohim e começava o paraíso dentro dos infernos.

O exílio de Israel foi um regresso à tenda móvel do arameu errante, ao Deus nómada como o seu povo, que, mudando-se, se pode fazer companheiro de caminho de qualquer homem e mulher da terra, de todos “os da rua”. As grandes crises tornam-se, por vezes, epifanias de uma espiritualidade mais verdadeira, de uma religião mais elevada que o teto dos templos, regressos à pobreza de uma tenda onde escutar palavras diferentes e infinitas. Como aconteceu naquela prisão alemã, no fim da segunda guerra mundial, quando o profeta do nosso tempo, pouco antes de ser fuzilado, por ter seguido a voz até ao fim, foi capaz de escrever algumas palavras maiores que a sua teologia, geradas pelo abismo do seu exílio: «O “cristianismo” foi sempre uma forma (talvez a verdadeira forma) da “religião”. Mas, se um dia (…) os homens se tornarem radicalmente não religiosos, que significa, então, todo este “cristianismo”? Serão arrancados os alicerces de todo o nosso “cristianismo” como tem sido até gora, e nós, “religiosamente”, poderemos alcançar apenas algum “cavaleiro solitário” ou alguma pessoa intelectualmente desonesta? Deverão ser estes os poucos eleitos? Deveremos lançar-nos zelosos, irritados ou mesmo arrogantes sobre este equívoco grupo de pessoas para vender a nossa mercadoria? (…) Como pode Cristo tornar-se o Senhor também dos não-religiosos? Se a religião é apenas uma veste do cristianismo, o que é, então, um cristianismo não-religioso?» (D. Bonhoeffer, «Resistência e rendição»). Nestas palavras, que nos deixam também sem folego, estão também Jeremias, Ezequiel e toda a Bíblia, cuja profunda meditação tinha acompanhado e alimentado Bonhoeffer, antes e durante a prisão.

Também nós podemos ver a condição de tantos exilados sem templo, dispersos por terras dos deuses diferentes, e condená-los como malditos, culpáveis e merecedores da sua condição de sem Deus – o que é o nosso tempo se não um grande exílio de massa do templo? Mas também podemos repetir as palavras de Ezequiel. Podemos e devemos dizer se queremos estar da parte dos habitantes de Jerusalém e condenar os exilados ou com os profetas e contar uma história diferente, a que vê no nosso grande exílio uma “presença” para além do templo. Podemos maldizer o nosso mundo, mas podemos também anunciar-lhe uma salvação. As religiões e as comunidades podem ser amigas dos pobres, foram-no muitas vezes e são-no ainda quando sabem despir as vestes meritocráticas desenhadas pelos homens e, depois, aplicadas às divindades, sem lhes pedir autorização.

Os profetas continuam e ser guardas do homem e guardas de Deus. Nós, teimosos, tentamos, todos os dias, manipular Deus e os homens; e os profetas, mais teimosos que nós, continuam a guardá-los.

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O exílio e a promessa / 6 – A nova e verdadeira festa é onde parece não haver qualquer “mérito”

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 16/12/2018

Ezechiele 06 rid«E talvez tenhamos paz
quando tudo estiver perdido
e sentirmos inúteis as palavras
e estes encontros que nos iludem.

Então, a angústia será
ter descoberto – demasiado tarde –
esta perdida existência…».

David Maria Turoldo, de O sensi miei [Oh sentidos meus]

As vigílias marcam o ritmo das festas e das suas esperas. É o tempo em que o dia diferente se prepara e amadurece, quando se forma e cresce o desejo. As crianças são os grandes especialistas das vigílias – dos aniversários, dos primeiros dias de escola, do passeio. Elas sabem que, na “aldeia”, o sábado é um dia bonito porque será seguido por um dia ainda mais bonito. Porque sabem que as festas são verdadeiras, que não são apenas ilusões de um desejo estrangulado no dia em que se realiza, porque verdadeiros são os pais, os professores, os companheiros, porque são verdadeiros dons. É a verdade da festa que torna verdadeiros o desejo e a espera, sua vigília. Uma inovação do nosso tempo é a invenção de vigílias sem festa porque, na era das festas marcadas pelo negócio, ficam só as vigílias. Não sabendo, coletivamente, quem e o que festejam verdadeiramente, permanecemos numa sucessão contínua de “sábados da aldeia”. À vigília de Natal sucederá a vigília das vendas e, depois, a de S. Valentim e assim por diante, durante todo o ano, onde novas vigílias nos fazem esquecer a tristeza das festas negadas. E o ano voará velocíssimo, porque com o tempo diferente da festa roubado, que estaria ali para nos fazer saborear um pedaço de eternidade – mesmo que vivamos mais anos que os nossos avós, estamos a viver dias muito mais breves que eles.

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Os pobres não são malditos

Os pobres não são malditos

O exílio e a promessa / 6 – A nova e verdadeira festa é onde parece não haver qualquer “mérito” por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 16/12/2018 «E talvez tenhamos paz quando tudo estiver perdido e sentirmos inúteis as palavras e estes encontros que nos iludem. … Então, a angústia ser...
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O exílio e a promessa / 5 – A missão do profeta é também a “segunda oração”

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 09/12/2018

Ezechiele 05 rid«A calúnia mata três pessoas: a que a difunde, a que a escuta e aquela de quem se fala; mas mais a quem a escuta que a quem a difunde»

Mosé Maimonide, Norme di vita morale

As religiões e as fés são também lugares de satisfação das necessidades humanas, porque nenhuma religião descuidou a dimensão material e corpórea da vida. Peixes, pão, maná, codornizes, água, bolos, passas de uva: a Bíblia poderia também ser lida como uma história de alimento, de convivência, de bens. A terra prometida é uma terra onde corre leite e mel. Mas também por esta sua dimensão concreta e total, as fés têm uma tendência intrínseca de se encolher e se reduzir a um mercado onde todo o bem desejado encontra a sua oferta pagando o respetivo preço, transformando-se, assim, em idolatrias ou magias. A oração autêntica só pode viver e crescer dentro de um encontro da gratuidade. A providência não se compra; chega como excedente sobre o nosso pequeno registo contratual. O Deus bíblico é o Deus do Pacto, onde o verdadeiro bem oferecido é uma proximidade, uma presença. Como nas comunidades, que satisfazem as necessidades essenciais (a segurança afetiva, o calor, também necessidades concretas e económicas) se cada um souber alcançar uma interioridade mais profunda que as necessidades, onde se gera a parte mais íntima e bela da comunidade. Os profetas são guardas zelosos desta beleza maior, que sabe conviver com uma indigência que alimenta o sonho e a necessidade de Deus.

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Ezequiel é transportado, em visão mística, ao templo de Jerusalém: «Um espírito agarrou-me pelos cabelos. Em seguida, nesta visão divina, o espírito arrebatou-me entre o céu e a terra e conduziu-me a Jerusalém, até à entrada da porta interior…, onde era o lugar do ídolo rival, que provoca ciúmes» (Ezequiel 8, 3). A Bíblia conhece estas visões e também nós as conhecemos por ter provado, por vezes, alguns pedaços – como quando, em exílio, em certas noites luminosas, voltamos à casa que tínhamos deixado, e vemos os pais, os irmãos, ela; ou quando acordamos de sonhos diferentes e sentimos que, quanto vimos, não era tudo um sopro e vanitas. As visões de Ezequiel são também algo de diferente, mas se fossem demasiado diferentes das nossas pequenas “visões”, não seriam feitos humanos e deveríamos colocar os profetas entre os querubins, privando-nos da sua amizade e fraternidade. Podemos compreender as experiências dos profetas, mesmo as mais extraordinárias, porque, embora sendo diferentes de nós, permanecem homens como nós.

A primeira visão de Ezequiel é uma divindade feminina, talvez a deusa da fertilidade, Aserá, uma divindade cananeia que, durante séculos, exerceu um grande fascínio também sobre Israel. Encontramos a divindade feminina em muitos cultos antigos, porque sempre foi grande a necessidade de reconhecer uma natureza sobrenatural às fontes da vida, à fertilidade e à maternidade. Talvez (como parecem sugerir também algumas gravuras encontradas em escavações junto de Horvat Teiman, a este do Sinai), nalgumas épocas, Aserá tenha sido venerada como “mulher de YHWH”. Nada mais natural que imaginar o seu Deus casado e, assim, senti-lo mais próximo da vida normal de todos. A afirmação da fé em YHWH, o Deus diferente e único, foi um processo lento, começado nos cultos naturais e politeístas. Também Israel reclamou deuses e deusas da fertilidade (bezerro de ouro) e da maternidade. Em épocas de crises, porém, a tentação de venerar deuses como os dos outros povos tornava-se particularmente forte e, assim, mais forte crescia a reação dos profetas. Durante a ocupação babilónica, o fascínio do sincretismo religioso foi particularmente poderoso, porque a derrota militar foi lida como derrota religiosa; e a profecia teve de lutar muito para que YHWH, tornado um Deus derrotado, não fosse substituído pelos deuses vencedores que, entre outras coisas, eram muito mais compreensíveis pelo povo. É impressionante e comovente esta batalha típica dos profetas que, embora sentindo a presença de Deus viva na natureza, impediram-na de se identificar com a terra e com a carne, conservando aquela transcendência que nos permitiu, um dia, intuir a absoluta novidade do mistério de Belém – a incarnação do Verbo de Deus não podia ser descrita pelos adoradores dos deuses da natureza, demasiado semelhantes à nossa carne para poder gerar uma palavra-carne diferente e capaz de nos salvar.

A visão do templo continua. O espírito leva Ezequiel a uma outra divisão, onde setenta anciãos estão a adorar deuses egípcios, dizendo: «IHWH não nos vê, o Senhor abandonou o país» (8, 12). Depois, vê as mulheres que choram o deus “Tamuz”, uma divindade babilónica do ciclo das estações, que era chorado no verão, quando “morria” e saudado na primavera quando “ressuscitava”. Uma divindade muito querida e popular que, com a ocupação babilónica, começou a fazer parte do templo de Jerusalém. Por fim, chega à parte mais íntima e sagrada do templo, em que vê vinte homens reunidos para o culto ao deus Sol, o poderoso deus babilónico. Os celebrantes olham para o Oriente, donde surgia aquele deus e, consequentemente, voltam as costas para a Arca de YHWH – um gesto do corpo que, só por si, mostra a traição da Aliança, à qual já só dirigem “odores” fedorentos (8, 17).

Neste momento, a imagem da corrupção está completa. Ezequiel vê, por isso chegar sete enormes guerreiros exterminadores. No meio deles, um tem o vestuário (linho branco) e os apetrechos de quem escreve (tinteiro e tinta), que recorda a figura de Nebo, o escrivão do panteão babilónico. Antes que se desencadeasse a ira divina, o escriba coloca o sinal do tau na fronte de alguns que serão poupados pela carnificina. São os que «gemem e se lamentam por causa das abominações» (9, 3). São salvos os que sofrem pelas infidelidades dos outros. É o sinal de Caim, o sinal do anjo exterminador, colocado nas casas dos hebreus no Egipto, na noite da grande Páscoa. Quando a crise e a corrupção se tornam generalizadas e radicais, quando o povo está literalmente estragado, há ainda alguns que, na impotência, podem, pelo menos, chorar e sofrer e, se temos ainda lágrimas sinceras para chorar pela infidelidade do nosso povo, já nos estamos a salvar. No abandono, podemos ainda gritar, e aquele grito pode atrair uma ressurreição. O choro pela injustiça é o recurso extremo que, na noite, nos pode ganhar o sinal do tau que, no hebraico antigo, tinha a forma de cruz decussada, com os braços em diagonal, como a cruz de Santo André.

Ezequiel assiste, em visão, ao massacre dos guerreiros exterminadores, vê a “glória” do YHWH abandonar o templo (10, 18) e, depois, de rosto por terra, grita: «Ah! Senhor Deus, vais exterminar tudo o que resta de Israel» (9, 8). O profeta, que tinha acreditado na teologia do resto fiel, agora teme que esta grande esperança do resto também se esteja a apagar. É a grande prova do profeta, que se encontra entre o céu e a terra, que compreende as razões de Deus, mas procura, desesperadamente, uma salvação para os homens. A resposta de Deus não dá esperanças: «Disse-me: “O pecado da casa de Israel e de Judá é enorme; a terra está cheia de sangue e a cidade, de violência… Pois bem, Eu não terei um olhar de misericórdia, Eu não os pouparei”» (9, 9-10). Mas Ezequiel, o profeta do exílio, apesar deste veredito absoluto, continua a perguntar, espera contra toda a esperança e pede que um resto seja salvo. De facto, Ezequiel, talvez numa visão seguinte, encontra-se ainda no templo de Jerusalém, durante uma reunião dos “chefes do povo”. Nesta visão, recebe uma ordem de profetizar e, enquanto os homens ouvem as suas palavras, um membro do conselho (Pelatias) cai por terra, morto. Esta morte reacende a oração-intercessão de Ezequiel: «Caí com o meu rosto em terra e gritei em alta voz: “Ah! Senhor Deus, queres aniquilar o resto de Israel?”» (11, 13). À segunda pergunta, YHWH muda a sua resposta: «Diz: Assim fala o Senhor Deus: “Eu vos reunirei de entre os povos e vos reconduzirei de todos os países, para onde fostes dispersos”» (11, 17).

Também isto é missão do profeta: repetir a Deus a mesma pergunta, quando a primeira resposta não tinha salvado ninguém. É o homem da segunda oração, porque certas maldades são demasiado grandes para serem levantadas por uma única imploração. Se um farrapo vivo daquele resto salvado chegou até Nazaré e, depois, a nós, devemo-lo aos muitos profetas que souberam rezar uma segunda vez, que repetiram orações impossíveis, que “converteram” o seu Deus. A Bíblia está cheia destes “segundos olhares”, salvações chegadas depois de palavras que os profetas não deveriam ter dito e que, no entanto, disseram, por nós. Salvámo-nos, nas crises radicais e nas destruições totais, porque alguém – um pai, um amigo, uma mulher – souberam repetir uma oração uma segunda vez e aquela sua fé gerou uma mudança de olhar sobre nós. Não o sabíamos, talvez estivéssemos a dormir ou a gritar, mas foi aquela segunda oração a arrancar-nos da morte.

A Bíblia não quis nenhuma divindade a mediar entre YHWH e os homens, porque o seu Deus quis que fossem homens e mulheres, os profetas, a interceder por nós. Está aqui também o grande humanismo da Bíblia. E, quando os cristãos colocaram uma mulher e uma mãe nos seus templos, escolheram um ser humano, a mãe do Verbo-homem “nascido de mulher”. Nenhuma “deusa mãe” teria podido dar mais dignidade espiritual ao homem e à mulher. A Bíblia continua a elevar-nos, aproximando-nos da terra. Nós queremos voar, à procura da companhia dos anjos, e perdemos o olhar dos homens e das mulheres. Mas os profetas continuam a repetir as suas orações, deitados “com o rosto por terra”, no lugar mais espiritual que nos é dado debaixo do sol.

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O exílio e a promessa / 5 – A missão do profeta é também a “segunda oração”

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 09/12/2018

Ezechiele 05 rid«A calúnia mata três pessoas: a que a difunde, a que a escuta e aquela de quem se fala; mas mais a quem a escuta que a quem a difunde»

Mosé Maimonide, Norme di vita morale

As religiões e as fés são também lugares de satisfação das necessidades humanas, porque nenhuma religião descuidou a dimensão material e corpórea da vida. Peixes, pão, maná, codornizes, água, bolos, passas de uva: a Bíblia poderia também ser lida como uma história de alimento, de convivência, de bens. A terra prometida é uma terra onde corre leite e mel. Mas também por esta sua dimensão concreta e total, as fés têm uma tendência intrínseca de se encolher e se reduzir a um mercado onde todo o bem desejado encontra a sua oferta pagando o respetivo preço, transformando-se, assim, em idolatrias ou magias. A oração autêntica só pode viver e crescer dentro de um encontro da gratuidade. A providência não se compra; chega como excedente sobre o nosso pequeno registo contratual. O Deus bíblico é o Deus do Pacto, onde o verdadeiro bem oferecido é uma proximidade, uma presença. Como nas comunidades, que satisfazem as necessidades essenciais (a segurança afetiva, o calor, também necessidades concretas e económicas) se cada um souber alcançar uma interioridade mais profunda que as necessidades, onde se gera a parte mais íntima e bela da comunidade. Os profetas são guardas zelosos desta beleza maior, que sabe conviver com uma indigência que alimenta o sonho e a necessidade de Deus.

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A fé que «converte» Deus

A fé que «converte» Deus

O exílio e a promessa / 5 – A missão do profeta é também a “segunda oração” por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 09/12/2018 «A calúnia mata três pessoas: a que a difunde, a que a escuta e aquela de quem se fala; mas mais a quem a escuta que a quem a difunde» Mosé Maimonide, Norme di ...
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O exílio e a promessa / 4 – Saber ser fiel ao «resto» verdadeiro do nosso coração

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 02/12/2018

Ezechiele 04 rid«Ao procurar as origens torna-se caranguejo. O historiador olha para trás; e acaba também por acreditar para trás»
Friedrich Nietzsche, Crepuscolo degli idoli

Os sinais religiosos são os que mais incidem na terra e mostram o carácter de uma cultura. Templos, altares, nichos, troncos separam, no território, o sacro do profano, revelam e dão nomes e vocações às terras, transformam os espaços em lugares. A terra tem inscritos, nas suas feridas, os nossos vícios e as nossas virtudes. Recebe, humilde as nossas pegadas; mansa, deixa-se associar às nossas sortes e, com uma sua misteriosa e real reciprocidade, comunica connosco. Entre as características da profecia, está também a capacidade de interpretar a linguagem da criação, de no-la contar, de falar em nosso lugar e em nosso nome. Que diriam, hoje, os profetas diante das chagas que estamos a infligir ao nosso planeta? Que palavras de fogo pronunciariam perante as nossas “alturas” povoadas de ídolos? Como profetizariam diante das nossas miopias e dos nossos egoísmos coletivos? Talvez gritassem, compusessem novos poemas, cantariam, cantam, Laudato si’.

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«Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: “Filho de homem, volta-te para as montanhas de Israel, profetiza contra elas e diz: Montanhas de Israel, ouvi a palavra do Senhor Deus. Assim fala o Senhor Deus às montanhas e colinas, às ravinas e aos vales: Eis que vou fazer vir contra vós a espada e arrasarei os vossos lugares altos”» (Ezequiel 6, 1-3). Ezequiel profetiza contra os montes, tornados cúmplices das infidelidades do povo. Aquelas colinas, aqueles vales e desfiladeiros são também símbolos da criação que “geme” à espera de seres humanos seus guardas dignos. São os animais, as plantas, o solo e subsolo, oceanos e mares que, cada dia – e, em cada dia, cada vez mais – sofrem as consequências da transformação da nossa vocação de cuidado em tirania. Os profetas falam também por eles e em seu lugar – agora, entre terra e homem, entre homens e céu, mediadores cravados em cruzes, como mensagens de carne.

Desde a sua primeira posse de Canaã, o povo de Israel sentiu constantemente a sedução dos cultos cananeus. Era forte o fascínio daqueles deuses simples, naturais, marcados pelos ritmos e pelas imagens da fertilidade, e que se podiam ver, representar, tocar; sentiu a tentação da sua prostituição sagrada que, nos lugares altos, oferecia caminhos de união com a divindade. E, se não existissem os profetas, YHWH, o nome do seu Deus diferente e único, com o passar do tempo, tornar-se-ia um dos muitos nomes, um dos muitos deuses de muitos panteões dos povos vizinhos e vencedores. Os profetas são amigos de Deus e amigos do homem, que repetem: o homem é diferente porque Deus é diferente. Mantém Deus alto e transcendente para ter o homem o mais alto possível, para o não reduzir a consumador-consumado dos ídolos fabricados. Os profetas fazem com que a natural contaminação que uma fé recebe do encontro com os outros povos, não supere o limiar crítico e faça perder o fio vermelho da aliança e da alma coletiva. Sem o contágio religioso com a Babilónia, com o Egipto e com os povos cananeus, não teríamos muitas páginas belíssimas da Bíblia. Mas se aquela fertilização mútua entrasse na medula e no coração da Promessa, do Sinai, da Lei e do Pacto, aquele povo diferente da fé diferente teria sido absorvido pelas religiões naturais do Próximo Oriente. O profeta é sentinela também, porque toca a trombeta e dá o alarme, quando a contaminação supera o ponto crítico e se torna assimilação e sincretismo. E sabe que há um lugar onde estas contaminações não podem nem devem entrar: o templo, o lugar que guarda a nossa história mais íntima, o altar do pacto, o coração do nosso nome. E, consequentemente, o povo de Israel não deve entrar nos templos dos outros povos e adorar as suas divindades. Não só porque aqueles povos são adoradores de ídolos (Israel nem sempre pensou que todos os outros deuses fossem ídolos), mas também porque o dia em que um povo começa a entrar e a rezar em mais que um templo, está a dizer que, no fundo, não acredita verdadeiramente em nenhum deus (como o homem que está a dizer “amo-te” a mais que uma mulher, está a dizer, na realidade, que não ama verdadeiramente nenhuma). Eis porque a luta dos profetas aos santuários das montanhas diz-nos, poeticamente, coisas muito sérias – a poesia diz sempre coisas muito sérias.

Quando por exemplo, as comunidades nascidas de um carisma atravessam grandes crises, a tentação não está na eliminação ou no cancelamento do “Deus” da primeira aliança, mas na introdução, no próprio templo, de outras divindades que começam a pôr-se ao lado do primeiro “culto”. Importam-se orações, canções, práticas mais adaptadas ao espírito do tempo, mais simples e compreensíveis, que respondem melhor aos gostos dos “consumidores”. Dentro de um certo limite, estas chegadas podem ajudar e enriquecer. Mas se estas práticas estranhas entram dentro do “templo” e se nós começamos a frequentar os templos dos outros sem os distinguir do nosso, a contaminação começa a minar o pacto e a promessa; e chegará rapidamente o dia em que nos encontraremos a falar com o nosso primeiro Deus em templos totalmente iguais e não acontecerá nada de novo – muitas crises existenciais, individuais e comunitárias, nascem de atos de superlotação do lugar do primeiro encontro, que se torna tão denso que não se consegue ver nem ouvir mais nada.

Mas os santuários e os templos eram também lugares dos sacrifícios de animais e de crianças. Por detrás da crítica dos cultos cananeus e babilónicos está sempre, nos profetas maiores, a crítica ao uso do sacrifício como moeda para negociar com um Deus comerciante. A polémica duríssima dos profetas contra o ouro e a prata, não é uma crítica económica nem ética ao dinheiro usado para os negócios humanos; é uma crítica teológica e, portanto, antropológica; é uma condenação duma visão económica da fé e, portanto, da vida. O ouro é perigosíssimo porque se torna o material com que se fabricam os ídolos: ontem, as estátuas de Baal e de Astarte; hoje, os produtos e os bens que, como novos ídolos, nos vendem uma subespécie de eterna juventude. Quanto mais ouro se tem, maior é o preço que podemos pagar para os nossos sacrifícios. Os ladrões que profanam o lugar santo não são, pois, ladrões de coisas ou de dinheiro; são ladrões religiosos que subtraem ao homem a sua dignidade e o reduzem a servo dos ídolos: «Lançarão a prata para as ruas e o ouro será para eles como lixo. Nem o ouro nem a prata os poderão salvar, no dia da ira do Senhor. Não hão de saciar-se nem encher a barriga com eles… Sentiam orgulho na beleza das suas joias; com elas fizeram as suas imagens abomináveis, os seus ídolos; por isso, farei dessas joias objeto de vergonha para eles… Profanarão o meu tesouro [templo]; os bárbaros penetrarão nele para o violar» (7, 19-22). O dinheiro e o ouro são imundície quando não são usados para viver mas para fabricar qualquer espécie de ídolo. Esta natureza profunda das riquezas revela-se plenamente apenas no fim («O termo vai chegar, o fim aproxima-se de ti»: 7, 6). No fim da vida, quando for evidente a diferença radical entre as riquezas (materiais ou não) que usámos para alimentar e nos alimentarmos e as outras que usámos para criar ou comprar ídolos vendedores de ilusões. Ou então, nos outros “fins”, quando, dentro de uma grande crise, doença, depressão, compreendemos que só poderemos recomeçar se aprendemos a reconhecer outras riquezas que ainda não tínhamos visto em nós e à nossa volta.

No centro destas palavras duríssimas que o profeta dirige contra os lugares altos, os ídolos e as infidelidades do povo, atinge-nos como um raio do sol nascente um outro pedaço de teologia do resto (a Bíblia poderia ser contada como história do resto fiel): «Todavia, farei sobreviver no meio das nações alguns dentre vós que tiverem escapado à espada, quando tiverdes sido dispersos entre os povos. Então, os sobreviventes recordar-se-ão de mim entre as nações para onde forem dispersos… Então, recordar-se-ão que Eu sou o Senhor» (6, 8-10). Todavia: os profetas gostam muito deste advérbio, porque completa e adocica as suas palavras de julgamento. Os falsos profetas não conhecem os todavia, porque são ideológicos e rufias. Todavia é também um advérbio dos bons educadores, dos professores, dos responsáveis de comunidades que, depois de terem tido a força dos juízos de verdade, conseguem acrescentar o “todavia” da mansidão e da pietas, que é sal e fermento da massa que estão a amassar.

Este trecho sobre o resto diz-nos algo de essencial. Quando, nos exílios, queremos experimentar recomeçar de verdade, são duas as coisas verdadeiramente necessárias. A recomeçar não é o todo, mas uma parte, um pequeno resto vivo. Tinham formado uma família, feito nascer uma comunidade, uma empresa. Depois, chegou a crise e, por isso, a deportação e o exílio. Fomos dispersos e contaminados por muitos povos. Se, um dia, queremos continuar a mesma primeira história, temos de vencer a saudade do todo, não nos deixar seduzir pelo apelo forte do todo porque simplesmente, aquele todo já não existe. Mas podemos continuar verdadeiramente a nossa história sobre aquela pequena parte que permanece viva: dois trabalhadores da fábrica, uma criança, aquela única palavra boa que se salvou das muitas maldades que dissemos uns aos outros.

A segunda coisa diz respeito ao significado do indíssimo verbo recordar (“recordar-se-ão de mim”). No humanismo bíblico, recordar não é verbo de passado, é verbo de futuro. Recorda-se no deserto, nos campos de tijolos, no exílio, e recorda-se para continuar a acreditar na promessa que deve vir e que virá. No deserto, onde nos lançou a traição do nosso pacto matrimonial, não se recomeça celebrando um novo pacto, num novo altar, mas recordando que aquelas palavras eram verdadeiras, que uma parte verdadeira do nosso coração nunca saiu daquela Igreja e daquele primeiro altar. É aprendendo a recordar que se começa a ressurgir.

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O exílio e a promessa / 4 – Saber ser fiel ao «resto» verdadeiro do nosso coração

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 02/12/2018

Ezechiele 04 rid«Ao procurar as origens torna-se caranguejo. O historiador olha para trás; e acaba também por acreditar para trás»
Friedrich Nietzsche, Crepuscolo degli idoli

Os sinais religiosos são os que mais incidem na terra e mostram o carácter de uma cultura. Templos, altares, nichos, troncos separam, no território, o sacro do profano, revelam e dão nomes e vocações às terras, transformam os espaços em lugares. A terra tem inscritos, nas suas feridas, os nossos vícios e as nossas virtudes. Recebe, humilde as nossas pegadas; mansa, deixa-se associar às nossas sortes e, com uma sua misteriosa e real reciprocidade, comunica connosco. Entre as características da profecia, está também a capacidade de interpretar a linguagem da criação, de no-la contar, de falar em nosso lugar e em nosso nome. Que diriam, hoje, os profetas diante das chagas que estamos a infligir ao nosso planeta? Que palavras de fogo pronunciariam perante as nossas “alturas” povoadas de ídolos? Como profetizariam diante das nossas miopias e dos nossos egoísmos coletivos? Talvez gritassem, compusessem novos poemas, cantariam, cantam, Laudato si’.

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Recordar é verbo de futuro

Recordar é verbo de futuro

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O exílio e a promessa / 3 – A missão de anunciar a dura prova e semear o futuro

por Luigino Bruni

publicado em Avvenire em 25/11/2018

Ezechiele 03 rid«O facto paradoxal é que o sagrado se manifesta e, consequentemente, limita-se e deixa de ser absoluto. É este o grande mistério, o mysterium tremendum: o facto de o sagrado aceitar limitar-se»

Mircea Eliade, Miti, sogni e misteri

Somos buscadores incansáveis de consolações. Temos uma tal necessidade delas que as confundimos, quase sempre, com as ilusões. A profecia é uma grande geradora de consolações verdadeiras, mas como não têm desconto nem estão em saldo, fazemos fila nos grandes armazéns onde abundam as ilusões a baixo preço. De facto, as consolações não ilusórias dos profetas convivem com uma exigência absoluta de verdade, só chegam dentro desta verdade oferecida a preço-valor total.

«Filho de homem, toma um tijolo, põe-no diante de ti e desenha nele uma cidade, Jerusalém. Depois, empreenderás contra ela um cerco, construirás contra ela trincheiras, erguerás contra ela um terraço, estabelecerás contra ela acampamentos e instalarás à sua volta, contra ela, aríetes» (Ezequiel 4, 1-2). Após as primeiras visões, Ezequiel recebe agora a ordem de realizar uma espécie de maqueta para representar o cerco de uma cidade. E, uma vez terminada a obra, sob o olhar certamente surpreendido dos seus concidadãos, não diz ‘isto é Babilónia’, como talvez os seus companheiros exilados esperavam e desejavam, mas “isto é Jerusalém” (5, 5). É precisamente a cidade santa que está para ser sitiada pelos babilónios. Nenhuma consolação para quem, seguindo os oráculos dos falsos profetas, queria acreditar na inexpugnabilidade da cidade de David, porque protegida pelo seu Deus diferente.

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O primeiro gesto profético público de Ezequiel é, portanto, um sinal; a sua primeira mensagem é um símbolo. Para gerar a sua primeira profecia, compõe uma escultura; usando, portanto, mãos, corpo, terra e vários materiais que tem à sua disposição. E, assim, diz-nos também algo sobe a ligação profunda que existe entre arte e profecia. Todo o artista partilha algumas caraterísticas da profecia e vice-versa. Os profetas e os artistas são capazes de plasmar gestos, sons e palavras porque eles mesmos, antes, foram plasmados e continuam a ser plasmados diariamente. São vocações, linguagem não-verbal, mãos e matéria, dialogam com um daimon, falam com todo o corpo. Num tempo como o nosso, pobre de profetas verdadeiros, se queremos conhecer algumas características da verdadeira profecia, podemos encontrá-las nos artistas.

Também o ‘trabalho’ do profeta, como todos os trabalhos, aprende-se fazendo-o. Ezequiel, quando recebe a sua vocação profética, encontrava-se, desde há alguns anos, em Babilónia, num povo com uma religião complexa e rica, com classes sacerdotais e codificação de práticas religiosas. Aquela cultura tinha produzido muitas formas de divinização, de magia e de ritos que faziam largo uso de símbolos, e os seus videntes não deveriam ser muito diferentes dos profetas em Israel. Ezequiel conhecia bem os cultos daquele povo e dos outros povos vizinhos e não é de excluir que, desde o início da sua atividade profética, tenha sofrido a influência daquele universo sagrado. No gesto plástico de Ezequiel, vislumbram-se traços de uma prática comum a muitas culturas arcaicas e que encontramos também nalgumas tradições bíblicas (Números 21, 8; II Reis 13, 29-31). É a chamada técnica homeopática (isto é, ‘os semelhantes curam-se pelos semelhantes’), um conjunto de ações e liturgias imitativas que visam agir à distância, através de representações simbólicas da pessoa ou da realidade que se quer modificar – exemplos conhecidos são a estatueta espetada com alfinetes para dar a morte ou dor a uma pessoa distante, ou derramar ritualmente água na terra para chamar a chuva, representar, nas grutas, cenas de animais capturados para propiciar a caça. Acreditava-se que o semelhante (pequeno) agisse sobre o semelhante (grande), que se pudesse produzir um efeito apenas representando-o ou imitando-o.

Os profetas não são anjos. São homens e mulheres, vivem dentro do espírito do seu tempo. A profecia bíblia nasce de tradições mais antigas. Parte dali, mas chega muito mais longe, inovando radicalmente aquela tradição. Este cruzamento não é uma desvantagem de Israel, mas um elemento que lhe aumenta beleza e valor, porque nos mostra a natureza histórica da Bíblia e da sua revelação. Ao mesmo tempo, os gestos proféticos apresentam também algumas grandes novidades. Antes de mais, não são as palavras e as ações de Ezequiel, mas o comportamento obstinadamente infiel do povo a criar o cerco e, depois, a destruição de Jerusalém: “Ela revoltou-se contra as minhas leis com mais perversidade do que as outras nações; e contra as minhas ordens, mais do que os países que a rodeiam” (5, 6). O profeta, com os seus símbolos, faz tomar consciência do nexo causal entre as ações do povo e as suas consequências.

Mas a inovação fundamental está no papel que desempenha a pessoa do profeta. Ezequiel anuncia dores e desventuras para os outros depois de as ter experimentado e sentido no seu corpo: “Depois, deita-te sobre o lado esquerdo, e toma sobre ti o pecado de Israel; levarás a sua iniquidade, enquanto estiveres assim deitado, durante todo esse tempo, … trezentos e noventa dias. E quando tiveres acabado esses dias, recosta-te sobre o lado direito; e carregarás o pecado da casa de Judá, durante quarenta dias” (4, 4-6). Encarna os anos do exílio assírio de Israel e, depois, o da Babilónia de Judá, ficando parado, como paralisado sobre o lado, como um faquir ou um yoga. É ele a estatueta que é espetada na carne viva, para que IHWH possa lançar uma mensagem ao seu povo. Diferentemente do xamã ou do vidente, o profeta não é apenas um mediador, é a mensagem feita carne. Ezequiel aplica a si mesmo a lógica homeopática: sofre o pequeno (dias) a mesma sorte que o povo sofre em grande (anos): “E Eu determino os anos do seu pecado em número de dias [390]. Tu levarás o pecado de Israel durante todo esse tempo” (4, 5). É ele o primeiro símbolo, porque ‘lança juntos’ (σύν e βάλλω) o céu e a terra. No Conde de Monte Cristo, Giovanni Bertuccio depois de ter salvado um recém-nascido da morte, entrega-o secretamente a um hospício; corta em duas partes a faixa que o envolve, ficando com uma para si para, um dia, o poder reconhecer, juntando as duas partes rasgadas. O profeta é, ao mesmo tempo, a parte que fica no berço e a que é levada embora. Está do lado de Deus e do lado do povo, fala do céu à terra e da terra ao céu. É, simultaneamente, saudade de Deus e saudade do regresso do homem, é corte indigente da parte que falta e essencial.

O símbolo atinge o seu terceiro movimento: “Recolhe, por conseguinte, trigo, cevada, favas, lentilhas, milho miúdo e aveia; guarda-os no mesmo recipiente; faz deles o teu alimento durante todo o tempo em que estiveres deitado sobre o teu lado... De igual modo, a água que beberás será medida: um litro de água por dia. … Será cozida sobre excrementos humanos, à vista deles” (4, 9-12). A mensagem é clara: “O Senhor disse: «Assim comerão os filhos de Israel os seus alimentos impuros no meio das nações para onde os dispersarei»” (4, 13). Durante o cerco (e o exílio), o alimento e a água são escassos e racionados, e não se pode respeitar as normas cultuais de pureza. O sacerdote Ezequiel invoca o tema da pureza, e YHWH permite-lhe substituir os excrementos humanos pelos dos animais (5, 15), que reduz, mas não elimina, a impureza. Nos cercos e nos exílios, muitas coisas se reduzem e se perdoam. Também a religião è purificada pela impossibilidade de respeitar as normas que separam o puro do impuro. Os cercos e os exílios aparecem também para nos libertar dos aspetos rituais das religiões, para transformar pureza cultual em pureza de coração, para reencontrar a fé na morte das práticas religiosas. Tiram-nos o templo e os sacrifícios para nos darem lugares abertos e largos como o céu, onde adorar ‘Deus em espírito e verdade’.
A mensagem recorre, por fim, a uma última quarta linguagem: “Filho de homem, toma uma lâmina afiada, como a navalha de barbeiro; toma-a e passa com ela sobre a tua cabeça e a tua barba. Em seguida, servir-te-ás de uma balança e dividirás os cabelos cortados. Lançarás o fogo a um terço deles, no meio da cidade, enquanto durar o tempo do cerco. Tomarás um outro terço que cortarás com a espada, em redor da cidade. O último terço atirá-lo-ás ao vento e Eu lançarei a espada atrás deles” (5, 1-2).

Uma parte dos cabelos e dos pelos da barba, porém, será salva: “Guardarás, contudo, uma pequena quantidade que meterás no bolso do teu manto” (5, 3). Também para Ezequiel, um resto do povo se salvará, porque guardado no bolso do manto do profeta, cozido na sua veste. A profecia é também – e, talvez, sobretudo – um lugar onde um resto encontra abrigo, durante as grandes crises, os cercos, os exílios.
Os profetas são quem, por honestidade à voz, nos anunciam o fim e a devastação, mas, enquanto as anunciam, sofrem connosco e mais que nós, e, depois, criam pequenos espaços para recolher um resto para semear o futuro.

Quando a vida nos cerca e nos exila, muitas coisas, sagradas e profanas, são atiradas ao chão, aniquiladas pela fúria dos acontecimentos. Muito se perde e morre, mas um resto da nossa alma pode salvar-se se consegue encontrar um profeta verdadeiro e, depois, se deixa meter no bolso do seu manto. Estes profetas dos exílios, muitas vezes, estão paralisados, amarrados, mudos, dizem palavras duras que não compreendemos. Mas também nos dizem que algo da nossa história ainda se pode salvar, que um pequeno resto vivo se salvará, escondido entre o manto e o coração.

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Ezechiele 03 rid«O facto paradoxal é que o sagrado se manifesta e, consequentemente, limita-se e deixa de ser absoluto. É este o grande mistério, o mysterium tremendum: o facto de o sagrado aceitar limitar-se»

Mircea Eliade, Miti, sogni e misteri

Somos buscadores incansáveis de consolações. Temos uma tal necessidade delas que as confundimos, quase sempre, com as ilusões. A profecia é uma grande geradora de consolações verdadeiras, mas como não têm desconto nem estão em saldo, fazemos fila nos grandes armazéns onde abundam as ilusões a baixo preço. De facto, as consolações não ilusórias dos profetas convivem com uma exigência absoluta de verdade, só chegam dentro desta verdade oferecida a preço-valor total.

«Filho de homem, toma um tijolo, põe-no diante de ti e desenha nele uma cidade, Jerusalém. Depois, empreenderás contra ela um cerco, construirás contra ela trincheiras, erguerás contra ela um terraço, estabelecerás contra ela acampamentos e instalarás à sua volta, contra ela, aríetes» (Ezequiel 4, 1-2). Após as primeiras visões, Ezequiel recebe agora a ordem de realizar uma espécie de maqueta para representar o cerco de uma cidade. E, uma vez terminada a obra, sob o olhar certamente surpreendido dos seus concidadãos, não diz ‘isto é Babilónia’, como talvez os seus companheiros exilados esperavam e desejavam, mas “isto é Jerusalém” (5, 5). É precisamente a cidade santa que está para ser sitiada pelos babilónios. Nenhuma consolação para quem, seguindo os oráculos dos falsos profetas, queria acreditar na inexpugnabilidade da cidade de David, porque protegida pelo seu Deus diferente.

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Entre o manto e o coração

Entre o manto e o coração

O exílio e a promessa / 3 – A missão de anunciar a dura prova e semear o futuro por Luigino Bruni publicado em Avvenire em 25/11/2018 «O facto paradoxal é que o sagrado se manifesta e, consequentemente, limita-se e deixa de ser absoluto. É este o grande mistério, o mysterium tremendum: o f...
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O exílio e a promessa / 2 – O preço da palavra entre a liberdade radical e a radical indigência  

por Luigino Bruni

Publicado em Avvenire em 17/11/2018

Ezechiele"Não existem mais profetas? Não o podemos dizer: o importante é distinguir os falsos dos verdadeiros profetas e isto vale para todas as épocas. Talvez o elemento fundamental para distinguir seja este: o falso profeta sente-se profeta e o verdadeiro não se sente profeta"

Paolo De Benedetti, Elias

Quem se encontra a escrever, para responder a um chamamento interior experimentou pelo menos uma vez na vida, que aquelas palavras que escreve foram, primeiro, recebidas e “comidas”. As palavras escritas, que não são vanitas, nascem do sangue e da carne e, assim, conseguem atingir o sangue e a carne de quem os lê e deixar o sinal (in-segnano = ensinam). Quando, por vezes, sentimos que uma palavra diferente nos toca, nos ensina e nos muda (e se nunca nos aconteceu, ainda a não começámos a ler verdadeiramente), aquela palavra já tinha tocado e marcado o corpo de quem a escrevera, porque saiu duma ferida. A profecia é um acontecimento de palavra, de palavras e de corpo. Porque entre a palavra recebida e a dita e escrita está o corpo do profeta. Todo o seu corpo é o instrumento com o qual o profeta toca as suas melodias de céu e de terra. Todos os profetas, sobretudo Ezequiel.

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Depois da visão e da escuta das primeiras palavras, a primeira ordem profética que Ezequiel recebe diz respeito ao seu corpo: «“Abre a boca e come o que te vou dar”. Olhei e vi uma espécie de mão que se dirigia para mim, segurando um manuscrito enrolado. Abriu-o diante de mim: estava escrito nas duas faces; e lia-se: Lamentações, gemidos e choros» (Ezequiel 2, 8-10). E, depois, o gesto especifica-se: «“Filho de homem, alimenta-te e sacia-te com este manuscrito que agora te dou”» (3, 3). O rolo, entra nas vísceras, é digerido, torna-se parte do corpo do profeta. A palavra que deverá anunciar penetra-o até à medula. A Isaías, no dia da sua vocação, Deus toca a boca com um carvão ardente (Is 6, 6). Ezequiel come um rolo de papiro, uma palavra escrita, portanto, porque é um profeta escritor. De facto, é provável que Ezequiel tenha escrito pessoalmente grande parte do seu livro; por isso, na sua vocação, encontra-se uma relação especial com a palavra escutada, assimilada e, depois, escrita.

É muito forte e sugestivo este rolo desenrolado que se torna alimento. Um episódio que não só inspirou profundamente a tradição espiritual cristã (a ruminatio), mas que revela quão profunda é a relação entre a palavra e a carne. Também Ezequiel está dentro da possibilidade de pensar e escrever a frase infinita que, durante séculos, era lida no fim de cada missa: o logos fez-se carne. A palavra profética é palavra incarnada que, por isso, sofre e partilha todas as vicissitudes e as dimensões do corpo. Adoece e sofre, é fortíssima e fragilíssima mas, diferentemente do nosso corpo, a palavra profética não pode morrer, torna-se palavra recolhida e guardada por uma comunidade fiel e viva. A Bíblia é também sacramento da imortalidade das palavras dos profetas – toda a palavra escrita com a carne encerra um desejo de imortalidade.

Ao mesmo tempo, apesar de o profeta ser empastado pela palavra recebida, não é o dono da palavra que diz. O profeta permanece um mendigo pobre e faminto da palavra. A profecia não é uma profissão, não se aprende com a acumulação de experiência e a passagem do tempo apenas o torna mais consciente desta típica indigência e fragilidade. Talvez também seja este um significado da misteriosa experiência que encontramos no início da missão de Ezequiel: «Nessa altura, o espírito penetrou em mim, fez-me levantar e falou-me. Disse-me: “Vai e encerra-te na tua casa. Filho de homem, eis que te vão fechar em cadeias e ficarás ligado e não poderás sair do meio delas. Farei aderir a tua língua ao teu palato, de tal maneira que emudecerás… Mas, quando Eu te falar, abrirei a tua boca e tu lhes dirás: ‘Assim fala o Senhor Deus”» (3, 24-27). Mal ouviu o chamamento para profetizar, eis que Ezequiel se encontra mudo e fechado dentro de casa, à mercê de impedimentos no corpo que se repetirão periodicamente na sua vida. Ezequiel faz imediatamente a experiência do não controlo da palavra que recebe e que deve anunciar. É parte da sua carne; tem, no entanto, a sua radical liberdade. Nisto, os profetas são parecidos com os pais e as mães. Os filhos são carne e sangue, mas não são nossa propriedade. Vão e vêm, enquanto nós ficamos presos em casa, mendicantes de regressos e de libertações. Também por isso, Maria de Nazaré, a mãe que dá as carnes ao Logos, é expressão última e ícone da profecia bíblica.

É a indigência radical de palavra que distingue os profetas dos falsos profetas, os quais não experimentam o mutismo e as cadeias porque vendem nos mercados apenas palavras autoproduzidas. O profeta não-falso reconhece uma palavra diferente porque lhes chega do seu mutismo, porque o liberta das cadeias das tagarelices suas e dos outros («Quando, depois, te falar…»). É a alternância de silêncio e de palavras o ritmo da vocação profética. Para compreender a relação que um profeta verdadeiro tem com a palavra não sua que deve transmitir, não devemos pensar nos técnicos da retórica nem nos brilhantes locutores, mas sobretudo nos gagos, em quem luta com o próprio corpo para conseguir emitir, a todo o custo, qualquer palavra compreensível. A força da profecia não-falsa é proporcional ao trabalho de dar à luz palavras na resistência tenaz do corpo.

Esta afasia e reclusão doméstica revelam-nos também alguns elementos essenciais da gramática de vida espiritual, sobretudo da bíblica. Ezequiel é chamado a desempenhar uma missão que tem a ver construtivamente com o uso da palavra e com os lugares públicos. Alguns dias depois, encontra-se mudo e em prisão domiciliária, por ordem do mesmo “espírito” que lhe tinha revelado a sua missão. Um paradoxo, mas não para a Bíblia. Moisés encontra IHWH no Horeb e, da sarça ardente, confia-lhe a missão de libertar o seu povo. Viaja para o Egipto, mas «no caminho, o Senhor veio ao encontro dele e tentou matá-lo» (Ex 4, 24). Muito tempo depois, um outro “profeta” que tinha recebido a “missão” de anunciar e levar um outro Reino, encontra-se numa cruz a gritar o abandono. Quem procura um deus linear que, quando confia uma missão, estipula connosco um contrato completo com anexo job description, deve procurá-lo fora da Bíblia (e da vida). O Deus bíblico é diferente, porque a vida é diferente, porque o homem é diferente.

De facto, não é raro que, nas vocações autênticas, ao dia jubiloso do chamamento se siga a experiência da impossibilidade de o realizar, uma experiência igualmente fundadora e essencial. Parte-se, porque chamados a realizar uma missão e, uma vez partidos, encontramo-nos impedidos, na alma e/ou no corpo, de fazer exatamente o que devíamos fazer. Sente-se claramente uma vocação científica, artística, profissional, religiosa, matrimonial e, no “dia seguinte” ao chamamento, aquela mesma voz nos diz ou nos faz fazer o oposto. Por vezes, esta segunda experiência chega muito rapidamente: uma semana depois de ter entrado no noviciado, ou durante a viagem de núpcias. Depois, de repente e inesperadamente, chega uma nova palavra e parte-se de novo, para sermos parados por um outro mutismo e por outros cordões, iguais e muito diferentes. Até ao fim, quando um outro mutismo nos parará e, também ali, permaneceremos à espera de uma outra nova palavra.

Experiências humaníssimas e frequentes, dentro e fora das religiões. A Bíblia diz-nos que são estas também as experiências dos profetas, dos homens mais íntimos a Deus; e, enquanto no-lo diz, lança-nos uma mensagem de grande esperança e proximidade. Lemo-las e sentimo-nos vistos e compreendidos e, por isso, incluídos na mesma história de salvação. O meu próximo da Bíblia não é o bom Samaritano, mas a própria Bíblia. Há pessoas que iniciaram um autêntico caminho espiritual porque um dia, no meio de um grande desespero, leram ou escutaram um episódio narrado na Bíblia. Reconheceram-no como algo de familiar e íntimo, sentiram-se lidos por dentro, sentiram que a sua dor já fora vivida e amada e, ali, começaram a ressurgir.

Enfim, nestes primeiros capítulos sobre a vocação de Ezequiel, reencontramos também a grande belíssima imagem da sentinela: «Filho de homem, nomeei-te sentinela da casa de Israel; se ouvires uma palavra saída da minha boca, tu lha dirigirás da minha parte» (3, 17). Como Isaías, Jeremias, Amós, Oseias, também Ezequiel é chamado a ser sentinela. Isaías (cap. 21), a grande referência bíblica para a imagem profética da sentinela, tinha usado a palavra hebraica shomer: sentinela como guarda. Shomer é também a palavra usada por Caim quando, respondendo à pergunta de Deus (“onde está o teu irmão?”) se autodeclarou não guarda de Abel, seu irmão. Tinha-o matado porque não fora guarda (Gn 4). A guarda recíproca é um nome da fraternidade.

O profeta é o anti Caim, é quem guarda Abel, que alarga o território da fraternidade para o fazer coincidir com toda a cidade e, na torre de vigia, olha para além desta, para o horizonte da terra fraterna de todos. Está no seu posto de guarda, suspenso entre o céu e a terra, habitante solitário das muralhas. Não está ali para avistar inimigos, mas para intercetar uma voz falada diferente e, depois, transmiti-la a qualquer custo. Os profetas nunca deixaram de guardar as nossas cidades. Estão ali, aprenderam a permanecer, a acompanhar-nos nos sábados santos da história. E, de vez em quando, nos dias mais silenciosos, alguém consegue ainda ouvir o seu grito.

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O exílio e a promessa / 2 – O preço da palavra entre a liberdade radical e a radical indigência  

por Luigino Bruni

Publicado em Avvenire em 17/11/2018

Ezechiele"Não existem mais profetas? Não o podemos dizer: o importante é distinguir os falsos dos verdadeiros profetas e isto vale para todas as épocas. Talvez o elemento fundamental para distinguir seja este: o falso profeta sente-se profeta e o verdadeiro não se sente profeta"

Paolo De Benedetti, Elias

Quem se encontra a escrever, para responder a um chamamento interior experimentou pelo menos uma vez na vida, que aquelas palavras que escreve foram, primeiro, recebidas e “comidas”. As palavras escritas, que não são vanitas, nascem do sangue e da carne e, assim, conseguem atingir o sangue e a carne de quem os lê e deixar o sinal (in-segnano = ensinam). Quando, por vezes, sentimos que uma palavra diferente nos toca, nos ensina e nos muda (e se nunca nos aconteceu, ainda a não começámos a ler verdadeiramente), aquela palavra já tinha tocado e marcado o corpo de quem a escrevera, porque saiu duma ferida. A profecia é um acontecimento de palavra, de palavras e de corpo. Porque entre a palavra recebida e a dita e escrita está o corpo do profeta. Todo o seu corpo é o instrumento com o qual o profeta toca as suas melodias de céu e de terra. Todos os profetas, sobretudo Ezequiel.

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Mas cada chamamento é prova

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