A alma e a cítara

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A alma e a cítara / 4– Compreender o peso de Deus e a glória do homem

Luigino Bruni

Original italiano publicado em Avvenire em 19/04/2020.

«Fechado
entre coisas mortais 
(também o céu estrelado
acabará)
porque desejo Deus?»

Giuseppe UngarettiCondenação

A oração é uma dimensão essencial e universal da vida humana. O salmo quatro revela-no-la e oferece-nos o sentido de uma grande esperança nestes tempos difíceis.

«Quando te invocar, escuta-me, ó Deus, minha justiça! Em momentos de aperto, deste-me largueza. Tem piedade de mim e ouve a minha oração» (Salmo 4, 2). Em momentos de aperto, salva-me, ó Deus. As palavras aprendem-se uma de cada vez. Nos nossos espaços tornados, improvisamente, apertados, em tempo de pandemia, podemos compreender a metáfora com que começa o Salmo 4. Talvez só quem esteja habituado a horizontes livres e se encontra na angústia forçada descobre o valor infinito dos «espaços intermináveis».

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Este salmo é a oração de um homem que atravessa uma grande dificuldade que o põe encurralado: «Homens, até quando desprezareis a minha glória? Porque amais a ilusão e buscais a mentira?» (4, 3). Até quando? É a pergunta, frequente na Bíblia, de quem se encontra numa situação transitória de angústia. É a pergunta da sentinela que, ainda em plena noite, espera a aurora longínqua; de quem, apanhado numa armadilha, precipitado na desventura, apenas consegue pedir a Deus e à vida: até quando? Quanto falta para o dia? Quando é que esta violência terá fim? Este homem orante era atacado por caluniadores, por gente mentirosa que o acusava de culpas inexistentes e graves. O homem do salmo é uma vítima.

A palavra-chave é glória: kavod/kabod, em hebraico. É uma das palavras mais importantes da Bíblia, da sua teologia que, no salmo, se torna também uma palavra da sua antropologia. Este homem sente-se ofendido na sua glória, sente-se espoliado da sua honra (sinónimo de glória). A glória é o que se vê, que aparece, que, portanto, tem a ver com os outros que nos olham. É uma palavra da vista. Para o homem antigo, mais radicalmente que para nós, a identidade é constitutivamente relacional. Eu sou o que os outros conseguem ver e reconhecer. A fama é uma dimensão fundamental da vida, como o são a honra e a glória. Ao mesmo tempo, a negação da honra é negação de algo de íntimo: embora esteja relacionada com o ver, a honra não tem a ver com o aparecer, mas com o ser, é um atributo da alma. Eis porque a calúnia e a mentira, que tiravam a honra e a glória, desnudavam o homem e a mulher da sua dignidade. Ontem e hoje, quando a privação da honra passa também pela negação do trabalho, quando a glória desaparece, juntamente com a sua empresa falida. A honra é, porventura, o que temos de mais íntimo, mas é também o mais afetado e dependente das palavras e dos olhos do outro. A natureza substancial da relação torna a pessoa humana radicalmente vulnerável e exposta ao olhar do outro. Porque se “eu sou o que tu me fazes”, então, o teu “fazer-me mal” pode chegar à mesma profundidade do teu “fazer-me bem”.

Na Bíblia,kavod remete para o peso. A glória de Deus pesa porque YHWH é consistente, é verdadeiro. Por outro lado, há o vazio, o sopro, a vanitas, o hevel do Qohélet, que é o que não pesa, porque inconsistente. Kavod é o anti-Hevel. O ídolo é um nada (a outra semântica de hevel, nos profetas), não pesa nada, não é digno de glória porque não tem substância. Naquele mundo antigo, só o que existe pesa. Deus é espírito; no entanto, a sua glória é pesada.

Porém, este salmo recorda-nos que também o homem tem a sua glória; não apenas Deus. Toda a negação do respeito da honra e da glória começa negando a sua consistência, o seu valor – as primeiras moedas antigas eram medidas de peso (lira, talento…). Na terra, cada pessoa tem o mesmo peso moral, ninguém pesa mais ou menos que um outro, porque a honra de cada ser humano é infinita.

Por isso, a Bíblia usa a mesma palavra para indicar a glória de Deus e a glória do homem. Para o compreender, é preciso voltar ao Génesis. No humanismo Bíblico, Adão tem glória, honra, peso, kavod, porque, antes, tem-na Deus que transmite tudo isto no ato criador. O homem é respeitado e honrado porque ele tem um peso para Deus. É «imagem e semelhança» de Eloim e a imagem de um valor infinito tem valor infinito. É uma imagem pesada, porque consistente, porque não é sombra e vento. É o que mais pesa “debaixo do sol”. Ao mesmo tempo, desonrar o homem é desonrar Deus; negar aos homens e às mulheres a sua glória significa negá-la a Deus. Porque, se é verdade que aprendemos a glorificar e a honrar as pessoas a partir do glorificar e honrar Deus, também é verdade que foi olhando a dignidade e a honra dos seres humanos que aprendemos a reconhecer a dignidade e a honra de Deus – a religião de um povo é também um indicador do seu humanismo: as palavras mais verdadeiras e elevadas acerca de Deus nascem apenas das comunidades que sabem dizer palavras bonitas e elevadas sobre os homens e as mulheres. E, quando as bonitas palavras para Deus não são acompanhadas por palavras também bonitas para os homens e para as mulheres, as religiões transformam-se em desumanismo onde, para louvar os deuses, se humilha os seres humanos. Deus é a glória do homem; o homem é a glória de Deus.

Então, não nos devemos admirar que encontremos a mesma palavra (kavod), no coração do decálogo: «Honra teu pai e tua mãe» (Dt 5, 16). Honra, dá glória, dá peso aos teus pais: recorda-te que, também aqui, és criatura. Durante esta pandemia, apesar de todos os erros, procurámos, de verdade, honrar os nossos pais e mães. Não os considerámos um peso, mas demos-lhes peso. E, sem o saber, ao reduzir, todos juntos, os nossos espaços, redescobrimos e fizemos ressurgir o espaço coletivo e o bem comum ao Quarto Mandamento – tínhamos esquecido a Bíblia, mas a Bíblia não se tinha esquecido de nós.

Job, no auge da sua noite, exclamou: «Ele despojou-me da minha glória» (Jb 19, 9). Job dirige este seu grito a Deus, que sente como o seu carrasco. E, apesar de serem muitos os que, ontem e hoje, gritam a Deus para o impugnar da perda da sua honra e, assim, perdem a fé (para eles, também há um bom lugar na Bíblia), o Salmo 4 mostra-nos uma outra forma de grito, o de quem, no meio do desastre, sente que há Alguém que ainda acredita na sua glória e na sua honra: «Sabei que o Senhor me escuta quando o invoco» (4, 4). A fé é também a confiança que, quando já ninguém vê a nossa dignidade, há ainda um lugar onde o seu peso não perdeu sequer um grama. Aqui surge a natureza do dom da fé: encontrar dentro da alma este olhar que vê uma honra negada por todos, sentir que alguém reconhece a nossa glória enquanto os outros apenas veem vanitas, é um património de um valor inestimável.

Muitas pessoas atravessam a sua vida acompanhadas por alguns poucos olhares diferentes – ao menos por um – capazes de ver uma dignidade, honra e glória que outros não veem. Mas todos sabemos que o olhar “horizontal” de quem está ao lado não é para sempre. Alguns deixam-nos, “mudam” os olhos, perdem-se ou nós os perdemos; e, também para os poucos que têm a sorte de morrer sob um destes olhares, se a existência é bastante longa e verdadeira, compreendem que há um fundo do fundo da alma que nenhum olhar humano pode alcançar – nem sequer o nosso. É o lugar onde são guardadas as nossas primeiras e últimas palavras, onde repousam as dores não contadas a ninguém, as alegrias inefáveis, gemidos muito delicados e preciosos para os poder contar, mesmo ao nosso coração.

É esta “adega” que o olhar da fé consegue alcançar. A oração é reencontrar-se nas condições de mansidão que permitem, a este olhar diferente, nos alcançar naquele território interior desconhecido. Antes de pedir, de implorar, de suplicar, de agradecer, a oração é um ser alcançados e olhados numa outra intimidade. E também quem não chama a este olho com o nome de Deus, pode, a qualquer momento, sentir este olhar «na parte melhor e mais profunda do meu ser, aquela a que chamo Deus» (EttyHillesum). Toda a pessoa se pode sentir tocada nesta profundidade insondável. O mundo seria demasiado injusto se, apenas os que receberam o dom da fé, pudessem sentir-se vistos neste abismo do coração. Os orantes são muito mais que os crentes, porque fazer a experiência de Deus é muito diferente do nome com que a chamamos. Não me interessaria um Deus que olhasse apenas para os que o olham, porque seria menos digno que os pais e as mães que continuam, durante toda a vida, a chamar pelo nome e a olhar também os filhos que os esqueceram e já não os chamam. Também isto é fraternidade universal.

«Tu dás uma alegria maior ao meu coração do que a daqueles que têm trigo e vinho em abundância» (4, 8). A felicidade que nasce de uma interioridade habitada é, talvez, a maior riqueza. Como o sabe muito bem quem, nestes dias, se encontra precipitado numa enfermaria de hospital, sem afetos, sem amigos, sem certezas. E, ali, naqueles abismos de solidão e de medo, sente florir dentro, inesperadamente, a espiritualidade cultivada durante toda a vida. Cultivada para que pudesse florir nestes momentos tremendos – para muitos, os últimos – quando se torna um bem que não tem substitutos. Quem sabe quantos anjos invisíveis, misturados com os demónios, estão a encher os nossos hospitais. Alguns viram estes anjos e reconheceram-nos, porque não os deixaram fugir, depois da juventude, quando os anjos e Deus facilmente desaparecem. Porque lhes tinham pedido para permanecer nalguma parte do seu coração adulto, prenderam-nos à mesa-de-cabeceira com a última Avé Maria que recordavam e nunca tinham deixado de recitar. Podemos esquecer tudo, mas não devemos esquecer todas as orações, porque uma servir-nos-á para dizer bem o último ámen: «Deito-me em paz e logo adormeço, porque só Tu, Senhor, me fazes viver em segurança» (4, 9).

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A alma e a cítara / 4– Compreender o peso de Deus e a glória do homem

Luigino Bruni

Original italiano publicado em Avvenire em 19/04/2020.

«Fechado
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(também o céu estrelado
acabará)
porque desejo Deus?»

Giuseppe UngarettiCondenação

A oração é uma dimensão essencial e universal da vida humana. O salmo quatro revela-no-la e oferece-nos o sentido de uma grande esperança nestes tempos difíceis.

«Quando te invocar, escuta-me, ó Deus, minha justiça! Em momentos de aperto, deste-me largueza. Tem piedade de mim e ouve a minha oração» (Salmo 4, 2). Em momentos de aperto, salva-me, ó Deus. As palavras aprendem-se uma de cada vez. Nos nossos espaços tornados, improvisamente, apertados, em tempo de pandemia, podemos compreender a metáfora com que começa o Salmo 4. Talvez só quem esteja habituado a horizontes livres e se encontra na angústia forçada descobre o valor infinito dos «espaços intermináveis».

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O mesmo peso de todos

O mesmo peso de todos

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A alma e a cítara / 3 – A paternidade é a arte maravilhosa de despregar os filhos das suas cruzes

por Luigino Bruni

publicado originalmente em italiano no site Avvenire em 12/04/2020.

«Estou sujo, Milena, infinitamente sujo; por isso, faço tanto clamor pela pureza. Ninguém canta tão puro como os que estão no mais profundo inferno: é o seu canto que trocamos pelos coros dos anjos».

Franz KafkaCartas a Milena.

O salmo 3 é um estupendo comentário à paixão, morte e ressurreição de Jesus, onde está contida uma das orações mais humanas e maiores da Bíblia.

Ressurgir, antes de ser uma verdade da fé cristã, é uma experiência antropológica fundamental. Faz parte do repertório humano, é um exercício que os homens e as mulheres sabem fazer, é um gesto essencial. O homo sapiens é um animal capaz de ressurreição. Vemo-lo também no sinal inefável, mas real, que vislumbramos no último olhar de quem amámos e, ali, sentimos que aquela saudação não é a última. E quando a morte aprende a estar no seu penúltimo lugar – e é precisa uma vida inteira para o aprender – torna-se “irmã morte”. Se os homens e as mulheres morressem e ressuscitassem muitas vezes, se a não tivessem rezado e esperado durante séculos, não seríamos capazes de reconhecer a Ressurreição, semelhante e diferente, do primeiro dia depois do Sábado. Ter-nos-ia chamado pelo nome e nós teríamos confundido a sua voz com a do guarda do jardim.

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Depois dos dois primeiros salmos introdutivos, salmos de bênção e de bem-aventurança, com o Salmo 3 entramos no território da oração. Este salmo é atribuído a David e tem um título: “Salmo de David. Quando fugia de seu filho Absalão”. O antigo escriba, que juntou este título, conhecia bem a história de David e, por isso, colocou esta oração num dos momentos mais tremendos da vida do rei de Jerusalém: a insurreição do seu filho Absalão. Para além da (duvidosa) historicidade deste cabeçalho, o título do salmo diz-nos, no entanto, coisas muito importantes – é bom não desprezar nada da Bíblia. Do Segundo Livro de Samuel, sabemos que, após a insurreição de Absalão – o príncipe formoso e de cabelos lindíssimos – David teve de fugir de Jerusalém: «Estando o rei na torrente do Cédron, enquanto o povo seguia diante dele a caminho do deserto, toda a gente chorava em voz alta» (2Sam 15, 23). Um êxodo ao contrário, uma fuga não para uma páscoa, mas para uma paixão: «David, chorando, subia o monte das Oliveiras, com a cabeça coberta e descalço» (15, 30). A via dolorosa do rei mais amado de todos.

É neste contexto que o salmista canta: «Senhor, são tantos os meus adversários! São tantos os que se levantam contra mim! Muitos dizem a meu respeito: “Para ele, não há salvação em Deus!”» (Salmo 3, 2-3). Estamos num cenário de grande perigo; o salmista sente-se assediado por inimigos e adversários. Nesta dificuldade concreta e neste medo, insinua-se também, no homem, uma pergunta religiosa. Na Bíblia, as provas maiores nunca são apenas as materiais; é o seu significado espiritual e religioso que as torna algo de grave e, frequentemente, tremendo. O homem bíblico não tem medo tanto da dor e da morte, mas da dor e da morte interpretadas como juízo de Deus e, portanto, condenação moral.

A ameaça de morte torna-se, então, uma pergunta sobre a justiça da vida do autor do salmo, uma pergunta imediatamente religiosa: «Para ele, não há salvação em Deus». O inferno da Bíblia é a não-salvação, uma salvação que, no entanto, é colocada na vida futura; no mundo bíblico, o paraíso encontra-se debaixo do sol, a terra prometida é um pedaço da nossa terra. A falta de salvação é também uma não intervenção de Deus na desventura. YHWH é um Deus verdadeiro e não um ídolo estúpido porque é um Deus concreto que, portanto, intervém na vida; e, se não faz nada, é sinal que o homem/povo em dificuldade não merece a intervenção de Deus por causa de alguma culpa. O silêncio de Deus torna-se sinal de culpa: «Nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado» (Isaías 53, 4). Não se compreende a polémica teológica e ética de Job com os seus amigos (e com Deus) se não se tem presente que Job quer desafiar esta ideia religiosa muito difundida no mundo antigo e também nalguns trechos bíblicos. Encontramos o mesmo desafio também no Salmo 3.

Mas, para compreender qualquer outra palavra invisível e importante, escondida nas entrelinhas do Salmo 3, temos de voltar à história de David e à sua fuga de Absalão. Enquanto David está a deixar, em pranto, Jerusalém, Chimei, descendente de Saul, «lançava pedras contra David… Chimei amaldiçoava-o, dizendo: “Vai, vai embora, homem sanguinário e criminoso! … YHWH entregou o reino a teu filho Absalão. Vês-te, agora, oprimido de males, por teres sido um homem sanguinário”» (2Sam 16, 5-8). Uma acusação tremenda: Chimei lê a rebelião de Absalão contra David como um castigo de retaliação pela rebelião de David para com o seu “pai” Saul. Mas David não se defende, aceita as pedras atiradas e diz: «Deixai-o amaldiçoar-me, conforme a permissão do Senhor» (16, 11). Não há modo mais sábio e manso que este, para ler as pedras que a vida e os outros atiram contra nós. Mas, também aqui, encontramos em David uma leitura teológica da desventura.

No original hebraico do Salmo 3, depois do versículo três, encontramos inserida a palavra selah: “faz uma pausa”. O texto convida o leitor ou a comunidade reunida no templo ou, mais tarde, na sinagoga, a parar, a respirar antes de prosseguir o canto: «A palavrinha selah, que não é lida nem cantada, exorta a permanecer silenciosos e parados, na meditação do sentido: convida à meditação do coração» (Martin Lutero). Também nós fazemos, aqui, uma pausa, respiramos… No espaço interior, criado por este silêncio, encontramo-nos em Jerusalém, atravessamos, novamente, a torrente de Cédron e chegamos ao Monte das Oliveiras. Depois, acompanhamos um descendente de David, um novo “Filho de Deus”, fora da cidade, em direção a um outro monte. E, no fim, voltamos a escutar palavras muito, demasiado semelhantes, às do Salmo 3: «Confiou em Deus; Ele que o livre agora, se o ama, pois disse: ‘Eu sou Filho de Deus!’» (Mateus 27, 43). Também aquele homem não fez calar os seus inimigos que o amaldiçoavam. Também dessa vez chegou forte o medo que o abandono dos homens fosse também o abandono de Deus: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» (Mateus 27, 46).

E, agora, podemos continuar a leitura do salmo: «Mas Tu, Senhor, és o meu escudo protetor, és a minha glória e quem me faz levantar a cabeça. Em alta voz invoco o Senhor e Ele responde-me da sua montanha santa» (3, 4-5). Grito ao Senhor e ele responde-me. No homem David e em Jesus de Nazaré, surge a dúvida que aquela dor, as perseguições e o abandono tivessem a ver com Deus - «ordenou-lho o Senhor». Eram filhos de um mundo onde tudo era símbolo, tudo continha mensagens divinas. Mas, se nos pomos a olhar os sofrimentos humanos pelo lado de Deus, podemos descobrir, na Bíblia, algo de diferente – a Bíblia é também, e sobretudo, uma libertação das mensagens erradas que nós atribuímos a Deus. Este salmo diz-nos que quando gritamos o abandono, “o Senhor responde”: «Deito-me, adormeço e acordo, porque o Senhor é o meu sustentáculo. Não temo as grandes multidões que de todos os lados me cercam» (3, 6-7). Uma imagem que lembra a do recém-nascido que adormece seguro e sereno nos braços da mãe, enquanto enfurece a batalha.

A Bíblia chama ao homem “filho de Deus” (Salmo 2). Quando um filho é crucificado, pela maldade ou pelos acontecimentos da vida, o pai faz de tudo para o proteger da cruz e, se não o consegue, está ao lado dele e morre com ele. Os pais não estão do lado dos soldados que preparam o patíbulo, porque a paternidade é a arte maravilhosa de despregar os filhos das suas cruzes. Se a Trindade não é apenas um teorema abstrato, o primeiro stabat do Sábado Santo é o do Pai. A paixão, morte e ressurreição de Cristo não são nem louvor nem justificação do sofrimento humano – qualquer leitor que se aproxima, sem ideologia, daquelas páginas dos evangelhos, encontra ali apenas o relato de um sofrimento injusto de um inocente que continuou a amar apesar de toda aquela crueldade. Deus Pai continua a reler e a reviver connosco o mesmo relato, sofre, cada vez, ao ouvir o grito do filho, cujo eco ainda não se apagou porque só se apagará no último dia, e chora como nós enquanto vê o filho que continua, novo Sísifo, a repercorrer, diariamente, a mesma Via Crucis.

É justamente no cimo dos infinitos Gólgotas da história que nos espera uma outra surpresa estupenda, contida no salmo: «Levanta-te, YHWH! Salva-me, ó meu Deus!» (3, 8). Depois do sono, há o acordar; depois da morte, há a ressurreição: «Talvez porque da quietude fatal sejas a imagem, a mim tão cara, vem, ó noite» (Ugo Foscolo). O despertar de Deus é primícia da nossa ressurreição. Deus tem de despertar para que também nós possamos ressurgir. Eis porque a primeira oração é pedir a Deus, bem alto, para ressurgir novamente, depois da noite, de ressurgir depois da morte. E, assim, no primeiro salmo de oração, encontramos a maior oração: Deus, levanta-te, levanta-te novamente, porque tens de te levantar; não podes deixar-nos neste infinito Sábado Santo. Não há oração mais humana que esta: peço-te, ó Deus, levanta-te. A oração de quem acredita, mas também a oração de quem perdeu a fé, de quem quer recomeçar a acreditar, depois da morte de Deus.

Durante séculos, os cantores dos salmos tinham pedido, em voz alta, a Deus para ressurgir. Agora, podemos pensar que, naquela noite de sábado, diante do sepulcro, em espera e em oração, estavam Abel, Dina, Agar; estavam Job, Rispa, Nabot, a filha de Jefté e todas as vítimas da Bíblia. Naquela Ressurreição, estavam também a sua oração. E, hoje, está a nossa que, enquanto vemos o crucificado refazer, sem parar, a sua via dolorosa, não podemos deixar de lhe pedir que ressurja de novo, de implorar que as suas ressurreições sejam mais que as suas mortes – pelo menos, uma a mais: «é preciso imaginar Sísifo feliz» (Albert Camus).

Boa Páscoa.

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A alma e a cítara / 3 – A paternidade é a arte maravilhosa de despregar os filhos das suas cruzes

por Luigino Bruni

publicado originalmente em italiano no site Avvenire em 12/04/2020.

«Estou sujo, Milena, infinitamente sujo; por isso, faço tanto clamor pela pureza. Ninguém canta tão puro como os que estão no mais profundo inferno: é o seu canto que trocamos pelos coros dos anjos».

Franz KafkaCartas a Milena.

O salmo 3 é um estupendo comentário à paixão, morte e ressurreição de Jesus, onde está contida uma das orações mais humanas e maiores da Bíblia.

Ressurgir, antes de ser uma verdade da fé cristã, é uma experiência antropológica fundamental. Faz parte do repertório humano, é um exercício que os homens e as mulheres sabem fazer, é um gesto essencial. O homo sapiens é um animal capaz de ressurreição. Vemo-lo também no sinal inefável, mas real, que vislumbramos no último olhar de quem amámos e, ali, sentimos que aquela saudação não é a última. E quando a morte aprende a estar no seu penúltimo lugar – e é precisa uma vida inteira para o aprender – torna-se “irmã morte”. Se os homens e as mulheres morressem e ressuscitassem muitas vezes, se a não tivessem rezado e esperado durante séculos, não seríamos capazes de reconhecer a Ressurreição, semelhante e diferente, do primeiro dia depois do Sábado. Ter-nos-ia chamado pelo nome e nós teríamos confundido a sua voz com a do guarda do jardim.

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Peço-te, ó Deus: levanta-te!

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A alma e a cítara / 2 – Os mansos conhecem os limites e este tempo tremendo torna-se a sua herança

por Luigino Bruni

publicado originalmente em italiano no site Avvenire em 05/04/2020

«Há algo de grandioso na vivência da esperança mas, ao mesmo tempo, há nela algo de profundamente irreal. Diminui o valor específico do indivíduo, que nunca se pode realizar plenamente, porque a incompletude marca os seus empreendimentos».

Gershom Scholem,  A ideia messiânica no judaísmo.

O salmo 2 transporta-nos para o grande tema bíblico da espera do Messias e também para a importância da esperança em tempos de crise e da mansidão para a atravessar com fortaleza.

«Porque se amotinam as nações e os povos conspiram em vão?». Com esta pergunta começa o Salmo 2. Uma pergunta tremenda que os profetas e os sábios repetem há milénios: porque é que, apesar da vocação à paz e ao bem-estar, inscrita no coração de cada pessoa e das comunidades, os homens continuam a exercitar-se na arte da guerra, a semear e cultivar discórdia e inimizade? As civilizações mantêm-se vivas enquanto não se cansarem de repetir esta pergunta.

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Somos transportados, pelo salmo, para dentro de um ambiente de rebelião, uma conjura de povos em relação a um rei – «Quebremos as algemas e atiremos para longe de nós o seu jugo» (3). Este rei não é um soberano qualquer: «E os príncipes conspiram juntos contra o Senhor e contra o seu ungido» (2, 2). O protagonista do salmo é o Messias, o ungido de YHWH, mistério e desejo de toda a Bíblia. O salmo diz que os povos conspiram «em vão» e que, destas conjuras, «Aquele que habita nos céus sorri; o Senhor escarnece deles» (2, 4). É muito provável que o Salmo tenha sido escrito depois do exílio, quando a monarquia, em Israel, já não existia e o povo tinha experimentado a destruição, a derrota, a deportação. Tinha sentido na pele a força tremenda das tramas do poder e de conquista dos povos e, ali, tinha compreendido que a verdade do seu Deus não coincidia com a vitória dos inimigos. De facto, o exílio foi o grande tempo em que os hebreus aprenderam que um Deus derrotado pode permanecer um Deus verdadeiro.

Porquê então aquele «em vão»? Apesar da experiência da derrota e da violência que prevalece sobre a paz, a Bíblia, aqui e noutros lugares, anuncia a vinda de um Messias e, portanto, de um tempo novo, finalmente diferente, justo e bom. Quanto mais a realidade se afasta do tempo messiânico, mais é preciso anunciá-lo. Acreditar e afirmar uma verdade, quando a história e o presente mostram o contrário: é este o papel da grande espiritualidade, que é sempre incarnada, que fala da nossa vida, sobretudo em tempos em que a evidência mostra o oposto das suas palavras. É nos exílios que se têm os sonhos maiores.

A espera do Messias é uma alma profunda de toda a Bíblia. Encontramo-la nos profetas, nos livros históricos e, agora, nos salmos. É uma forma concreta que a esperança assume nela. Esta espera manteve vivo o futuro e o guardou como juízo sobre o presente e como possibilidade de libertação. Se se perde a dimensão messiânica da história, a vida individual e social encurta o seu horizonte, esmaga-se totalmente no presente, apaga-se a alegria e escurece-se a liberdade. Enchemo-nos de pequenas esperas porque matámos a maior. O capitalismo encerrou o Messias nas mercadorias (como Marx tinha compreendido) e, assim, apagou-o. O messianismo bíblico é o ano jubilar da história, o tempo diferente que se torna critério moral para julgar as praxis de todos os outros tempos. O Messias permanece como tal enquanto não vier. É o soberano do ainda não; o seu tempo é o ideal que mede o tempo real, um ideal que é profecia da história. Há uma relação profunda entre profecia e messianismo: ambos estão dentro e fora da história, são real e ideal, já e ainda não. E, quando se perde esta tensão vital e paradoxal, o messianismo identifica-se neste ou naquele líder político e a profecia torna-se profecia de corte – está aqui também o sentido da alma crítica em relação à monarquia que está muito presente e operante nos livros históricos da Bíblia.

Para usar as palavras de Jacob Taubes, o messianismo bíblico recorda-nos que «a ponte levadiça encontra-se na outra margem e é da outra margem que nos devem comunicar que estamos livres». Diz-nos também que, se existe uma dimensão fundadora da liberdade que é a auto libertação, noutras suas dimensões determinantes, a liberdade é, porém, libertação por mão de alguém que abaixa, para nós, a ponte. A Bíblia conservou, durante séculos, esta dimensão da liberdade como libertação, escreveu-a como seu primeiro mandamento e, assim, protegeu-nos do auto engano frequentíssimo, de imaginar a liberdade sem sentir mais a necessidade de uma voz diferente da nossa, que nos chama e nos salva. Eis aqui um dos sentidos daquilo que nós chamamos salvação. Graças a esta espera tenaz do Messias, o futuro, na Bíblia, não se tornou «um tempo homogéneo e vazio: porque cada segundo era a porta por onde podia passar o Messias» (Walter Benjamin).

Um erro, frequente e grave, dos cristãos é, portanto, pensar que a espera do Messias acabou com a vinda de Cristo, esquecendo que ele deve vir em cada dia e deve voltar. A liturgia é o grande lugar onde o que foi se encontra com o que é e com o que será: em cada Sábado Santo, rezamos para que o sepulcro volte novamente vazio e cada ressurreição aconteça hoje. Na Bíblia, recordar é verbo no futuro.

Muito conhecido e forte é o versículo 7 do Salmo: «Vou anunciar o decreto do Senhor. Ele disse-me: “Tu és meu filho, Eu hoje te gerei”». Uma frase esplêndida, muito estimada, também no Novo Testamento e no cristianismo, onde a categoria de “Filho de Deus” se tornou um pilar teológico. Neste salmo (e noutros lugares da Bíblia hebraica) descobrimos, entre outras coisas, que chamar a Deus com a denominação de Pai e conceber a condição humana como filiação não é uma invenção do cristianismo, mas uma herança Bíblica.

Mas é aquele hoje que nos conquista - «hoje te gerei». Talvez não seja apenas um antigo trecho de um cântico composto para a consagração de um novo rei, em Israel; neste “hoje” podemos também ler algo de diferente e algo mais. Há o paradigma de qualquer vocação espiritual, que é uma filiação que se manifesta dentro dum primeiro hoje que se repete em todos os hoje da existência, porque uma vocação só está viva no presente e, neste presente contínuo, encontra-se a eternidade.

Toda a paternidade e toda a maternidade humana é, portanto, uma geração declinada no presente. É repetir durante toda a vida: «hoje te gerei» - «Mas, agora, que estás morta, ó mãe, eu sei as vezes que me geraste. Em silêncio, sem ninguém ver» (David Maria Turoldo). Toda a geração é re-generação, e o que está vivo, se não se regenera, degenera. A paternidade-maternidade diz-nos, simbolicamente (realmente, portanto), que estamos vivos e capazes de gerar porque, hoje, somos regenerados. No dia em que todos deixarmos de nos gerar, começaremos a morrer. Para a Bíblia, o princípio, a origem desta geração-regeneração, sempre atual, é Deus que, portanto, se torna o garante da mútua geração que marca o ritmo da vida. Até ao fim, quando, no último hoje, nos surpreendermos ao ver baixar a ponte levadiça e passarmos, incólumes, sobre os crocodilos.

Depois de ter ouvido pronunciar a promessa do Messias-filho, eis-nos precipitados numa outra paisagem, ampla e profunda: «Pede-me e Eu te darei povos como herança e os confins da terra por domínio.» (2, 8). Este «pede-me» recorda o convite dirigido por Deus a Salomão, no hoje do seu chamamento: «Pede-me o que quiseres» (1Rs 3, 5). Salomão pede a coisa mais bonita («um coração que saiba escutar»: 9). Todavia, não sabemos o que pediu o rei do antigo salmo; porém, sabemos que a promessa nele contida, que, então, se tornou salmo, é promessa universal: as pessoas e a terra são também a nossa herança e a nossa posse. São a herança e a posse de quem reza os salmos que, hoje, enquanto os canta, se deve redescobrir herdeiro de povos e possuidor de toda a terra. No humanismo bíblico, porém, toda a terra é de YHWH e os homens são apenas utilizadores e administradores (ecónomos). Portanto, qualquer propriedade é secundária e toda a posse é imperfeita. A promessa é verdadeira porque imperfeita ou porque a completude está na sua incompletude.

Todo o filho é herdeiro; portanto os filhos de Deus são herdeiros de todo o céu e de toda a terra. Intuímo-lo e sentimo-nos herdeiros. Mas esquecemo-nos de incompletude, tornámo-nos donos da terra, profanámo-la; tornámo-nos, muitas vezes, mercenários.

Na mesma tradição e promessa, Jesus de Nazaré disse-nos, um dia, algo de novo e importante acerca desta herança: «Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra». A mansidão é também o reconhecimento de incompletude e da provisoriedade da existência e das nossas posses. O manso habita no mundo sem se tornar predador, possui sem concupiscência, usa os bens com castidade. O manso é guardião da terra e do irmão. É o anti Caim. Só uma guarda mansa pode administrar a herança da terra e fazer com que os filhos sejam herdeiros de um património não desperdiçado.

A mansidão é a virtude das mãos – manso, isto é “habituado à mão”, dócil à mão do pastor, como sabe fazer o cordeiro. A guarda mansa não é a da nossa geração. Mas, hoje, estamos, provisoriamente, encontrados dentro de uma inundação de mansidão, num mar de mansidão. Este tempo tremendo está a tornar-se o tempo dos humildes. O de quem sabe ficar em casa, que sabe estar dócil, sob as mãos dos médicos e dos enfermeiros. Estamos a ver muitas mãos a abaixar as pontes sobre margens que, antes, nos pareciam inalcançáveis.

«E agora, prestai atenção, ó reis! Deixai-vos instruir, juízes da terra! Servi o Senhor com temor, prestai-lhe homenagem com tremor» (Salmo 2, 10-12). As últimas palavras do salmo dão-nos uma nova bem-aventurança para este tempo: «Felizes os que nele confiam».

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A alma e a cítara / 2 – Os mansos conhecem os limites e este tempo tremendo torna-se a sua herança

por Luigino Bruni

publicado originalmente em italiano no site Avvenire em 05/04/2020

«Há algo de grandioso na vivência da esperança mas, ao mesmo tempo, há nela algo de profundamente irreal. Diminui o valor específico do indivíduo, que nunca se pode realizar plenamente, porque a incompletude marca os seus empreendimentos».

Gershom Scholem,  A ideia messiânica no judaísmo.

O salmo 2 transporta-nos para o grande tema bíblico da espera do Messias e também para a importância da esperança em tempos de crise e da mansidão para a atravessar com fortaleza.

«Porque se amotinam as nações e os povos conspiram em vão?». Com esta pergunta começa o Salmo 2. Uma pergunta tremenda que os profetas e os sábios repetem há milénios: porque é que, apesar da vocação à paz e ao bem-estar, inscrita no coração de cada pessoa e das comunidades, os homens continuam a exercitar-se na arte da guerra, a semear e cultivar discórdia e inimizade? As civilizações mantêm-se vivas enquanto não se cansarem de repetir esta pergunta.

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A mão que abaixa a ponte

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A alma e a cítara / 2 – Os mansos conhecem os limites e este tempo tremendo torna-se a sua herança por Luigino Bruni publicado originalmente em italiano no site Avvenire em 05/04/2020 «Há algo de grandioso na vivência da esperança mas, ao mesmo tempo, há nela algo de profundamente irreal. Dimin...