Existe uma 25ª hora para a Terra, assumamos a responsabilidade por ela

O evento de hoje, 6 de outubro, é o quarto evento global da EdF desde que o Papa Francisco, no dia 1º de maio de 2019, escreveu a carta de convocatória dirigida aos jovens economistas, empresários e empresárias, e agentes de mudança, que logo se revelou um toque abençoado da mão da Providência que despertou consciências, autênticas vocações civis de jovens que se sentiram chamados pelo nome e responderam com a sua típica generosidade generativa.

A imagem de uma hora extra, aquela hora que começa quando as 24 horas do dia terminam, inspirou histórias e filmes, começando com o romance de 1949 do escritor romeno Constantin Virgil Gheorghiu. A nossa geração e a anterior inventaram a globalização, a Internet, realizaram a revolução da longevidade, os robôs e a inteligência artificial, os SUV’s e os carros elétricos; mas, enquanto faziam tudo isso, consumiram e esgotaram as 24 horas que estavam à nossa disposição desde que o SOS da Terra foi lançado, há mais de meio século (pensemos no relatório do Clube de Roma sobre os limites do crescimento, em 1972).

Um SOS que não envolve apenas a Terra, porque o tempo também se esgotou para a justiça em relação aos pobres, aos descartados, a muitos povos indígenas, a muitas mulheres humilhadas, a muitas crianças que não podem ir à escola e viver a vida que deveriam viver, a muitos migrantes rejeitados, à extinção das plantas, dos animais, da biodiversidade das florestas, dos mares, dos desertos, da atmosfera, dos glaciares, da criação, que nunca gemeu e sofreu tanto como neste nosso tempo. As muitas horas do dia já se passaram, há pouco tempo entrámos na última hora, mas não nos demos conta disso.

Mas quem o compreendeu, certamente em relacão aos pobres, aos descartados, às crianças, à Igreja, foi o Pe. Lorenzo Milani, cujo centenário do nascimento ocorre este ano. Em uma de suas páginas mais proféticas, ele escreveu a "carta do além-túmulo" para os futuros "missionários chineses" que chegariam à Europa no ano dois mil (cinquenta anos depois de sua carta), para reevangelizar uma Europa onde, entretanto, a fé cristã havia desaparecido, deixando apenas ruínas de campanários e de igrejas abandonadas.

Ao concluir a sua carta, ele escreveu: "Não odiámos os pobres, apenas adormecemos. Mas quando acordámos, era tarde demais: os pobres tinham partido sem nós" (Esperienze Pastorali, 1958). E se a Igreja perde os pobres, perde-se a si mesma, perde a sua alma, extravia-se, porque a Igreja só vive onde se pode repetir com Jesus: "bem-aventurados os pobres", sem se envergonhar. Todos nós também adormecemos e, enquanto dormíamos, as horas passavam, primeiro devagar e depois cada vez mais rápido. O tempo passou sobre a nossa indiferença, que com o passar dos anos se tornou cada vez menos inocente e cada vez mais culpada. Mas, graças a Deus, temos mais uma hora. Ainda estamos vivos. Talvez Deus tenha ouvido os seus profetas que, como Abraão, imploram que ele dê outra oportunidade às nossas "Sodoma e Gomorra".

É a oração de São Francisco, do Papa Francisco - os dois Franciscos da EdF -, de Chiara, dos muitos jovens e adolescentes que há anos clamam para salvar a terra e os descartados, dos muitos profetas do nosso tempo, muitas vezes anônimos e desconhecidos, que continuam a lutar, rezar e esperar que a Terra e os pobres tenham um futuro - para obter uma hora mais, uma hora doada, um tempo extra, que Deus está dando à terra e aos pobres. Uma súplica que, desta vez, foi atendida. A EdF faz parte dessa hora doada e está junto com os muitos que estão mantendo viva a esperança. Pois, na Bíblia, quando a terra recebe uma nova esperança, o sinal é Emanuel, um menino, um jovem. O Papa Francisco tinha dito isso em sua mensagem para a EdF em outubro de 2021: «Vocês são a última geração que pode nos salvar, não estou exagerando». Hoje, em Assis, celebram-se a responsabilidade e a alegria pela dávida desta hora extra. É a hora da gratuidade, a hora que poderia não existir e, no entanto, existe.

Créditos foto: © Luca Sarà