O Mercado e o Templo

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O mercado e o templo /2 - Montepios e Montes Frumentários falam de uma finança originária plural e de ações de equidade da Igreja.

Luigino Bruni

Pubblicado originalmente em Avvenire em 15/11/2020

«Será interdito aos avaliadores aceitar presentes ou cortesias dos proprietários dos penhores ou de outras pessoas para dar às coisas um valor maior ou menor, mas deverão, nas suas incumbências, ser leais, justos e sinceros, sob pena de dez Escudos por cada estimativa alterada».

Do Arquivo do Montepio de Imola

Na Idade Média, contemplava-se o mistério divino no mistério humano e não era o Papa, mas o pobre, o primeiro representante de Cristo na terra.

O Renascimento, uma idade de ouro da Itália, não foi apenas o tempo de Miguel Ângelo, Leonardo, Leon Battista Alberti, Pico della Mirandola, Maquiavel e os Médicis. Foi uma idade extraordinária também pela ação de muitos franciscanos, construtores dos Montepios. Sem considerar este humanismo carismático, não compreendemos a Itália moderna e a Europa e não compreendemos o que foi a Igreja Católica entre a Idade Média e a modernidade. Estas diferentes instituições de crédito mudaram radicalmente a finança italiana desde meados do séc. XV até ao séc. XIX, quando aquelas sementes floresceram em Caixas Rurais e Caixas de Poupança. A banca, na Itália, nasceu plural e não para lucro.

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Detenhamo-nos nas imagens dos Montepios. Antes de mais, a piedade , isto é, a imagem de Cristo morto nos braços de Maria. Porquê a piedade, como imagem dos edifícios, capelas, estandartes dos Montepios? Aquela imagem já era usada por entidades de assistência e pelos hospitais medievais. Simbolizava um dos momentos centrais da fé cristã, amadíssimo pelo povo que, naqueles séculos, da vida conhecia, sobretudo, a dor, especialmente a das mães e das mulheres pela morte de muitos, demasiados, filhos e maridos. Estava representada em quase todas as igrejas e por muitos grandes artistas (Ticiano, Rubens, Miguel Ângelo). Um encontro entre a piedade cristã e a herdada dos romanos (o “pio” Eneias), que a ligava, sobretudo, ao cuidado dos filhos em relação aos pais idosos. O seu símbolo, o ícone, era o pelicano e a cegonha: a civilização romana chamou lex ciconiaria à lei que obrigava os filhos a cuidar dos pais, porque a lenda acreditava que as cegonhas o faziam. A piedade popular é sempre excedente em relação às teologias e aos dogmas das religiões.

Naqueles séculos, aquela cena central da fé era, portanto, traduzida como amor-piedade em relação ao próximo, especialmente para com os que sofriam. «O outro chorava de tal modo que eu morria de piedade» (Dante, Inferno, 5). A teologia tornava-se, imediatamente, antropologia; o próprio cristianismo revelava o rosto de Deus juntamente ao rosto do pobre. Aqueles crentes, muito mais interessados que nós pelo paraíso e pelo inferno, eram capazes de dar o nome de “piedade” ao abraço mais íntimo entre o homem-Deus e sua Mãe. Contemplava-se o mistério divino e amava-se o mistério do homem. Nisto, a Idade Média foi toda luz. Assim, para os franciscanos, mestres de piedade e de caridade, foi natural ver, no nascimento dos diferentes Montepios, um fruto da mesma raiz de piedade e de misericórdia – piedade, caridade e misericórdia, três palavras diferentes para a teologia, profundamente entrelaçadas e sobrepostas na piedade popular.

É fantástica a imagem mais popular de Bernardino de Feltre, que o representa ao lado de um Montepio e tendo na mão duas faixas com duas frases do Novo Testamento (em latim). A primeira: «Não ameis o mundo» (1 Jo. 2, 15). A segunda: «Trata bem dele» (Lc 10, 35). Duas frases que, juntas, mostram o humanismo dos Montepios. Não amavam nem seguiam a lógica do mundo (que, em João, é símbolo do mal) embora cuidassem dele. «Trata bem dele» é, de facto, a frase com que se conclui a parábola do Bom Samaritano, quando ele confia o homem ao estalajadeiro: «Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar». Uma frase perfeita para o Montepio porque, ali, o Evangelho de Lucas associa um empresário (o estalajadeiro) ao ato de piedade mais bonito do Novo Testamento. O samaritano não pede ao estalajadeiro para hospedar grátis a vítima – segundo uma certa lógica, também o poderia e deveria fazer. Não: reconhece um preço justo a pagar a quem fazia o seu trabalho e aqueles seus ‘dois denários” fazem reconciliar a piedade com a economia – se os únicos denários dos Evangelhos fossem os trinta de Judas, teria sido uma péssima mensagem para todos os que têm de usar dinheiro para viver e fazer viver. Talvez não fosse intencional, mas, naquelas duas frases da bandeira está também o cerne da batalha dos franciscanos em favor do pagamento de uma taxa de juros sobre os empréstimos do Montepio.

Há outros pormenores que enriquecem aquela primeira etapa fonte da finança solidária. O dia em que, após um longo período de preparação – frequentemente, o processo começava com as pregações dos frades, em tempo de Quaresma – o Banco, finalmente, era inaugurado, a comunidade fazia uma procissão da igreja franciscana para a sede do banco, com raparigas que cantavam e crianças vestidas de branco com o estandarte do Montepio na mão. Esplêndido. Pietro Avogadro descreve uma, realizada em Verona, em 1490: «É levada em procissão, ao som de trombas e de flautas, para o Montepio, uma imagem feita com tal perícia artística e génio tão admirável a ponto de ser considerada, sem dúvida, entre as obras de arte mais raras. A obra apresentava-se com uma ampla base formada por telas. Os lados continham os símbolos de todas as virtudes, de admirável esplendor; no centro, a Pietà, o corpo inanimado de Jesus nos braços da mãe; depois, o apóstolo predileto. Auxiliavam este rito tão sagrado, trinta homens ligados ao culto, que transportavam a imagem do próprio Montepio, mostravam este momento altamente sagrado, com a maior edificação de todos». Procissões sagradas, bonitas e solenes como as procissões em honra do Santo Padroeiro, de Nossa Senhora ou do Corpo de Deus. Para aqueles franciscanos e para aquele povo, uma procissão para fundar um banco não era menos sagrada que as outras funções – não esqueçamos que, na Idade Média, o primeiro representante de Cristo no mundo não era o Papa; era o pobre. Também um banco diferente pode tornar-se um pedaço de paraíso. As procissões para festejar a Eucaristia ou os Santos que não são alternadas com procissões para festejar os pobres, rapidamente acabam por perder o perfume do Evangelho. Também isto mostra a força profética do carisma de Francisco.

Tudo isto no Centro-Norte de Itália. E no Sul? No Reino de Nápoles, os Montepios tiveram a maior difusão sobretudo a partir dos inícios do séc. XVII (embora o Montepio de Aquila tenha surgido entre os primeiros, em 1466), também após uma longa e dura crise económica. Com duas características: não nasceram sempre nem sobretudo dos franciscanos nem de eclesiásticos, e eram quase todos com empréstimos gratuitos, embora a Igreja tenha tornado lícito, com a Bula de Leão X, em 1515, a taxa de juros dos Montepios. Sendo, geralmente, pequenas instituições, quase sempre sediadas no Convento ou nas paróquias, não tinham grandes despesas e, quase sempre, eram subsidiadas por instituições filantrópicas. Esta “gratuidade” absoluta não favoreceu a duração nem o crescimento dos Montepios no sul; pelo contrário, complicou-os. Escrevia Antonio Genovesi: «Por inícios do séc. XVI, começaram, nalguns lugares de Itália, os montes chamados de Piedade. Alguns homens, amantes da humanidade, para aliviar estas sanguinárias usuras, criaram postos privados, com pequenos fundos, em que se emprestavam pequenas quantias gratuitamente e as maiores com não muito juro. Estes montes foram, inicialmente, administrados com escrupulosa fidelidade, como são todos os primeiros estabelecimentos humanos criados no fervor da virtude» (“Lições de economia civil”, 1767).

Mas no Sul, também por causa de sua estrutura económico-produtiva, desenvolveram-se, sobretudo, os Montes Frumentários (ou montes granáticos, ou montes numerários na Sardenha, e com nomes parecidos também noutros países católicos da Europa). Eram instituições de crédito rural que tiveram, também graças ao grande impulso dado pelo Papa Orsini (Bento XIII), nascido em Gravina de Puglia (fundou o primeiro quando ainda era bispo de Benevento, em 1678). Também o franciscano lucerino, S. Francesco Antonio Fasani (1631-1742) se dedicou ao nascimento do crédito para os pobres. Este trigo foi honrado com o mesmo cuidado do maná e do pão eucarístico porque, também este pão fazia viver.
Os Montes Frumentários usavam o trigo como dinheiro. Por vezes, nasciam como entres complementares dos Montepios (que forneciam crédito monetário). De facto, eram muitas as formas que a piedade credora tomou em Itália, naquele renascimento civil e económico. Entre estas, os Montes dos Dotes, Montes das Donzelas, Montes Matrimoniais que nasciam com o objetivo principal de garantir um dote às raparigas mais pobres.

Na segunda metade do séc. XVIII, no Reino de Nápoles, contavam-se mais de 500 Montes Frumentários, encorajados e sustentados pelos principais teóricos da Economia civil (A. Broggia, G. M. Galanti, J. B. Jannucci, D. Terlizzi de Feudis). Os Montes Frumentários (não eram a título gratuito, até porque o juro em géneros sempre foi menos controverso que o juro em moeda. Os camponeses recebiam o trigo “com medida rasa” (do recipiente) e restituíam-no “com medida acrescida” e a diferença entre as duas quantidades era o juro, estimado, em média, à volta dos 5%.
Os Montes Frumentários desenvolveram-se como superação de um contrato agrário, chamado “de voz”, muito difundido no Sul, já na Idade Média. Este contrato era para os camponeses particularmente vexatório e usurário e alimentava formas de parasitismo e de exploração nas relações com os trabalhadores da terra. Foi Trojano Odazi, aluno de Genovesi e organizador da edição milanesa das suas “Lições” (1768), a demonstrar que o contrato “de voz” era um contrato cabresto, De facto, naqueles contratos, o mercador, que possuía a preciosa liquidez, antecipava ao camponês dinheiro no momento de sementeira. Estes comprometiam-se a entregar ao mercador uma quantidade de trigo (ou de azeite, vinho, queijo) no momento da colheita. No contrato não era estabelecido o preço, porque seria aquele “de voz”, isto é, o anunciado na praça (os mais importantes eram Crotone, Gallipoli, Potenza) no tempo da colheita. Mas, obviamente, o preço de um produto, no momento da colheita, é baixo, havendo um excesso de oferta; e, assim, sobre aquela antecipação em dinheiro recebido, o camponês acabava por pagar um juro à volta dos 100% (ao semestre).

A observação destas injustiças levou os franciscanos, bispos e homens de boa vontade a imitar os profetas: ver, denunciar, agir. Hoje, novos “contratos de voz” não faltam na nossa finança pós-moderna. Diferentemente dos séculos passados, estes contratos vexatórios não são visíveis a olho nu. Mas existem. O que nos falta são novos franciscanos, bispos e homens e mulheres de boa vontade que criem novos Montes Frumentários. Existem alguns, mas são demasiado poucos.
Um dos lugares que hospedarão, de 19 a 21 de Novembro, “Economy of Francesco”, será o velho Monte Frumentário de Assis. Um sinal, uma esperança, ainda o mesmo apelo: «Trata bem dele».
                                                                                                                                                                                                                                                                              (2 – continua)

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Do Arquivo do Montepio de Imola

Na Idade Média, contemplava-se o mistério divino no mistério humano e não era o Papa, mas o pobre, o primeiro representante de Cristo na terra.

O Renascimento, uma idade de ouro da Itália, não foi apenas o tempo de Miguel Ângelo, Leonardo, Leon Battista Alberti, Pico della Mirandola, Maquiavel e os Médicis. Foi uma idade extraordinária também pela ação de muitos franciscanos, construtores dos Montepios. Sem considerar este humanismo carismático, não compreendemos a Itália moderna e a Europa e não compreendemos o que foi a Igreja Católica entre a Idade Média e a modernidade. Estas diferentes instituições de crédito mudaram radicalmente a finança italiana desde meados do séc. XV até ao séc. XIX, quando aquelas sementes floresceram em Caixas Rurais e Caixas de Poupança. A banca, na Itália, nasceu plural e não para lucro.

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Não para amar o mundo, mas para cuidar do humano

Não para amar o mundo, mas para cuidar do humano

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O mercado e o templo /1 - A pandemia torna claro, como já noutras fases marcantes, que a economia não deve ser demonizada, mas convertida

por Luigino Bruni

Original italiano publicado em Avvenire em 08/11/2020

A grande lição da fundação dos Montepios, pelos franciscanos,
diz-nos que não sairemos melhores desta crise se não criarmos novas instituições, também financeiras.

As grandes crises são, sempre, processos de “destruição criadora”. Fazem cair coisas que, até ontem, pareciam inabaláveis e, das cinzas, fazem surgir novidades, antes impensáveis. Ao longo da história, as grandes mudanças institucionais foram geradas, quase sempre, por dores coletivas, por enormes feridas sociais que souberam fazer nascer, algumas vezes, também uma bênção. As guerras religiosas, entre cristãos e protestantes, fizeram surgir, no séc. XVII, as Bolsas de Valores e os Bancos centrais, em muitos países europeus. A própria fé cristã já não era suficiente para garantir as trocas comerciais e financeiras na Europa. Por isso, era necessário criar uma nova fé e uma nova confiança (fides), que foi oferecida por novas instituições económicas e financeiras, donde brotou o capitalismo. Na segunda metade do séc. XIX, a revolução industrial criou uma grave crise do crédito: católicos e socialistas responderam criando bancos rurais, bancos cooperativos e caixas de poupança. No séc. XX, as guerras mundiais deixaram-nos em herança novas inovações políticas e institucionais (desde a Comunidade Europeia à ONU), mas também, novas instituições financeiras (Bretton Woods). Como se apenas, nas grande dore, os homens fossem capazes, naquela noite, de olhar juntos e mais alto até ver, finalmente, as estrelas.

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Depois da queda do Império Romano, os mosteiros foram também um acontecimento económico. Enquanto um mundo e uma economia acabavam, um novo mundo e uma nova oikonomia se construíam dentro dos muros das abadias: ora et labora. Os construtores da nova Europa compreenderam que não ressuscitariam sem ressuscitar também o trabalho e a economia. E, assim, enquanto salvavam os manuscritos de Cícero e de Isaías, salvavam também antigas cunhagens de moedas, códices comerciais, estatutos mercantis e, sobretudo, fizeram dos mosteiros uma rede europeia de hub onde se realizam feiras, comércios, trocas, porque ali se conservava a fides-confiança. Do Evangelho, os monges tinham compreendido que a economia era muito importante para a vida e, se não é posta ao serviço da vida, torna-se senhora da vida. E trataram disso.

No séc. XV, depois, o movimento franciscano gerou os Montepios, num dos episódios mais interessantes e extraordinários da história económica europeia, embora muito desvalorizado e incompreendido. Os Montepios foram determinantes para as cidades italianas, para os pobres, para as famílias e para a economia no seu conjunto. Nasciam da pregação, incansável, dos Frades Menores observantes que, a partir de meados do séc. XV, fundaram centenas deles, sobretudo no centro e norte de Itália. As cidades estavam a desenvolver-se e a enriquecer mas, como acontece frequentemente, o enriquecimento de alguns (os burgueses) não trazia consigo a redução da pobreza, mas o seu aumento. Os franciscanos compreenderam que havia um novo rosto da “senhora pobreza” para amar e, sem hesitação, fizeram nascer novos bancos, uma nova finança que atingisse os excluídos. E fizeram algo de extraordinário que só um carisma imenso, como o de Francisco, podia gerar. Os bancos, ontem mais que hoje, eram ícone do “esterco do demónio”, eram os “templos de mamona”, imagem da loba da avareza. Francisco começou a sua história dizendo “não” àquele mundo do dinheiro, o não mais radical que se podia imaginar e que nunca tinha sido imaginado na Europa.

Os bancos desse tempo eram úteis aos ricos e os pobres acabavam, frequentemente, nas mãos dos usurários. A luta contra a usura foi a razão do nascimento dos Montepios. Bernardino de Feltre, Giacomo della Marca, João de Capistrano, Domenico de Leonessa, Marco de Montegallo e muitos outros frades fizeram da fundação dos Montepios a sua principal ação – para a fundação do Montepio de Florença contribuiu também Savanarola. Até 1515, contam-se sessenta e seis Frades Menores promotores de Montepios. Alguns foram proclamados santos ou beatos. É maravilhoso que no centro da efigie destes santos (recuperei pessoalmente as de Bernardino de Feltre e de Marco de Montegallo) estivesse precisamente o Montepio. O símbolo da perfeição cristã era precisamente um banco que, de ícone do pecado mortal se torna símbolo da santidade cristã. Como a Eucaristia, como os sacramentos, como o evangelho. Uma santidade totalmente bíblica e evangélica que, em grande parte, perdemos com a modernidade e deixa ainda sem respiração todos os que (como eu) acreditam que existem poucas coisas mais “espirituais” que a “partida dobrada” e que um estaleiro de obras.

Bernardino chamava ao Montepio: Monte de Deus: «Quem ajuda um, faz bem; quem ajuda dois, melhor; quem ajuda muitos, melhor ainda. O Montepio ajuda muitos. Se dás dinheiro a um pobre para que compre pão ou um par de sapatos, quando ele gastar o dinheiro, acaba tudo. Mas se entregas aquele dinheiro ao Montepio, ajudas mais pessoas… Construir igrejas, comprar missais, cálices, paramentos para a missa é uma coisa santa, mas oferecer dinheiro ao Montepio é ainda mais santo. Não gastar dinheiro em pedras e cal, em igrejas, porque tudo acabará em fumo, mas no que não será perdido, isto é, dando a Cristo nos pobres» (Sermões di Bernardino da Feltre, vol. II). O nascimento dos Montepios foi um dos paradoxos mais fascinantes e produtivos da história europeia. A espoliação de Francisco, a sua renúncia total à economia do seu pai Bernardone, o “nada possuir” e o “sine proprio” geraram bancos, dois séculos depois. E eram autênticos bancos, não institutos de beneficiência, ao ponto de a fundação do primeiro banco de Ascoli Piceno, em 1458, após a pregação de Marco de Montegallo, não ser considerada, por alguns, um verdadeiro Montepio, justamente pela falta de pagamento de juros sobre o empréstimo.

De facto, o tema de juros sobre o empréstimo é central. Bernardino de Feltre foi o grande defensor da necessidade da não total gratuidade do empréstimo; ou melhor, da tese que, para que a gratuidade que animava o nascimento do Montepio pudesse perdurar e ser sustentável, era necessário pagar um juro, embora o mais baixo possível. Esta sua batalha não foi fácil, porque teve como opositores teólogos e juristas (muitos dominicanos) que acusavam os Montepios de usura, precisamente pelo pagamento de um juro maior que zero. Assim, ainda nos seus Sermões, responde Bernardino: «Considerada a cupidez dos homens e a pouca caridade, é melhor que quem recorre ao Montepio pague alguma coisa e seja bem servido, em vez de, sem pagar nada, seja mal servido. Queres ser mal servido? Não pagar. Nisto, quem tem maior experiência que nós, frades? Vem um ao convento, apresenta-se à portaria e diz: estou disposto a trabalhar gratuitamente na vossa horta. Vai e, pouco depois, pede o pequeno-almoço. É justo». Assim, em nome da gratuidade, muitos teólogos impediam, de facto, o nascimento dos Montepios ou o contestavam publicamente, como no caso da fundação do Montepio de Mântua, em 1496.

Esta é uma das mais importantes e convincentes demonstrações da diferença entre a gratuidade e o grátis: um contrato, com o necessário pagamento, pode conter mais charis (gratuidade) que um ato de pura liberalidade. A gratuidade, aqui, não coincide com o dom. A gratuidade do Montepio exprimia-se em muitas outras coisas: emprestar com prazos longos (e não pedir o reembolso do empréstimo num mês ou numa semana, como faziam os usurários), pedir uma taxa que cobrisse apenas as despesas, emprestar apenas em reais necessidades, se o mutuário não conseguia resgatar o penhor, recebia o que o Montepio obtinha a mais pela venda, emprestavam possivelmente a todos. Eram instituições sem fins lucrativos ou sine merito. Bernardino distinguia o juro que nascia do empréstimo (errado) do juro pelo empréstimo (para permitir a existência do Montepio). Em nome da pura gratuidade, alguns Montepios ou não arrancaram de facto ou acabaram rapidamente em bancarrota ou tornaram-se propriedade de alguns mercadores que, injetando capital para cobrir as despesas de gestão, de bem da comunidade transformaram-no em bem privado.

Finalmente, é impressionante uma técnica retórica daqueles Frades Menores, usada, sobretudo, por Marco de Montegallo. Para mostrar a gravidade de emprestar dinheiro aos usurários, o beato confrontava o bem que se fazia emprestando ao Montepio com a desproporcionada riqueza que os usurários arrecadavam emprestando o mesmo valor. Escrevia na sua “Tábua da Saúde”: «Deve-se saber que cem ducados dados a trinta por cento ao ano, depois de cinquenta anos, os ditos ducados, que foram o primeiro capital, entre juros e capital ascendem a: 49.750.556,7 ducados». Uma soma enorme, fruto do anatocismo (juros sobre os juros) que devia ferir muito a fantasia dos seus ouvintes – e a nossa. E convencê-los. Aqueles franciscanos responderam, assim, à grave crise do seu tempo, fazendo nascer novas instituições bancárias. E fizeram-no porque conheciam as verdadeiras necessidades do povo e, por isso, compreenderam que, nas grandes crises, é preciso reformar a economia e a finança e não apenas temê-las, fazendo bancos novos, não apenas criticando os velhos.

Hoje, estamos no meio de uma crise mundial de dimensões não diferentes das grandes crises dos séculos passados. São precisas novas instituições, mesmo financeiras e seguradoras, capazes de gerir durante e no pós-Covid, que deixará o mundo ainda mais desigual, com pobres ainda mais pobres. Enquanto pensamos nestas novidades, a antiga criação dos Montepios tem lições importantes a dar-nos. A primeira diz respeito à própria natureza daa economia e da finança. Os bancos e o dinheiro são criações humanas, são vida, não devem ser demonizadas porque, se as demonizamos, tornam-se verdadeiramente demónios. Devem ser tratadas como se trata a vida. Diante de uma finança que aumenta a pobreza pode-se e deve-se responder criando uma outra finança que a reduz.

Por fim, esta estupenda história franciscana sugere-nos que, também hoje, é provável que os novos Montepios, certamente muito diferentes dos do séc. XV, não nascerão dos mercadores ricos e dos banqueiros for-profit (que eram, sempre, os primeiros inimigos das fundações dos Montepios), mas de quem conhece os pobres, os ama, porque recebeu um carisma. Não necessariamente dos pobres, mas certamente dos amigos dos pobres. Os frades não eram os proprietários dos Montepios, eram apenas os promotores, os ativadores dos processos de criação daqueles bancos. São precisos, hoje, novos “franciscanos”, conhecedores e amantes dos pobres que, em vez de amaldiçoar a economia e a finança, façam, simplesmente, uma diferente. Uma nova santidade laica, novas “efígies” com, no centro, empresas e bancos.

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O mercado e o templo /1 - A pandemia torna claro, como já noutras fases marcantes, que a economia não deve ser demonizada, mas convertida

por Luigino Bruni

Original italiano publicado em Avvenire em 08/11/2020

A grande lição da fundação dos Montepios, pelos franciscanos,
diz-nos que não sairemos melhores desta crise se não criarmos novas instituições, também financeiras.

As grandes crises são, sempre, processos de “destruição criadora”. Fazem cair coisas que, até ontem, pareciam inabaláveis e, das cinzas, fazem surgir novidades, antes impensáveis. Ao longo da história, as grandes mudanças institucionais foram geradas, quase sempre, por dores coletivas, por enormes feridas sociais que souberam fazer nascer, algumas vezes, também uma bênção. As guerras religiosas, entre cristãos e protestantes, fizeram surgir, no séc. XVII, as Bolsas de Valores e os Bancos centrais, em muitos países europeus. A própria fé cristã já não era suficiente para garantir as trocas comerciais e financeiras na Europa. Por isso, era necessário criar uma nova fé e uma nova confiança (fides), que foi oferecida por novas instituições económicas e financeiras, donde brotou o capitalismo. Na segunda metade do séc. XIX, a revolução industrial criou uma grave crise do crédito: católicos e socialistas responderam criando bancos rurais, bancos cooperativos e caixas de poupança. No séc. XX, as guerras mundiais deixaram-nos em herança novas inovações políticas e institucionais (desde a Comunidade Europeia à ONU), mas também, novas instituições financeiras (Bretton Woods). Como se apenas, nas grande dore, os homens fossem capazes, naquela noite, de olhar juntos e mais alto até ver, finalmente, as estrelas.

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Eis porque é útil, aos bancos, uma santidade laica verdadeira

Eis porque é útil, aos bancos, uma santidade laica verdadeira

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